postado em 30/06/2011 13:00
Com 35 anos dedicados à atuação, o que ainda atrai Rosi Campos na profissão é a possibilidade de mudar de acordo com as exigências do papel. ;Minhas personagens não têm grandes transformações estéticas. A coisa é mais interior. É minha obrigação fazer coisas diferentes;, confessa a intérprete de Haidê, a sofrida mãe de Natalie (Deborah Secco) e Douglas (Ricardo Tozzi), em Insensato coração. Enquanto os filhos só querem saber de se dar bem de maneira fácil e rápida, Haidê tenta mantê-los a salvo das próprias armações. Além do trabalho na novela, Rosi está ocupada com os ensaios de Morgana e a família real, que estreia em São Paulo assim que as gravações terminarem. Na peça, vai reviver um de seus papéis de maior sucesso: a feiticeira Morgana, da série Castelo Rá-Tim-Bum, produzida pela TV Cultura em 1994 e reprisada até hoje. ;É o papel da minha vida. Muita gente me para na rua e fala que cresceu me vendo na série. Sinto-me mais velha do que sou, mas tudo bem. É bom fazer parte da história dessas pessoas;, ressalta a atriz de 57 anos, aos risos.Seu último papel em novela das nove foi em América, de 2005. Como surgiu o convite para voltar ao horário nobre?
Gilberto Braga me ligou uns seis meses antes de começar a produção da novela. Ele me falou que tinha escrito um papel legal para mim e que queria trabalhar comigo. Lógico que eu disse sim. Gosto dos tipos realistas que ele constrói. Além disso, nunca tinha trabalhado em novelas dele.
Muda alguma coisa saber que o autor escreveu o papel pensando em você?
A responsabilidade aumenta. Fiquei apreensiva, mas na primeira leitura já adorei a personagem. É bem mais fácil quando o papel agrada. Haidê é um tipo realista, que representa a dificuldade de sobrevivência. Isso a tornou uma mulher correta, íntegra e ética. É por isso que ela pega muito no pé dos filhos, que são exemplos de pessoas que não querem trabalhar, que acham que vão conseguir as coisas estalando os dedos. Ela cobra esse senso de realidade deles porque sua vida nunca foi fácil. A vontade de trabalhar é o grande patrimônio dela.
Para dar vida a um tipo tão forte, houve algum processo especial de composição?
Bastou observar o cotidiano das empregadas e diaristas que conheço. Uma delas é a Zeni, uma mulher cheia de caráter que tem 23 anos e cinco filhos para criar. Outra que serviu de inspiração foi a Célia, minha faxineira, que adoro. Essas pessoas que passam pelas nossas casas e cuidam da nossa família são verdadeiros anjos. Gente que trabalha enlouquecidamente e que não pode sonhar com nada. Elas cruzam as nossas vidas para a gente dar valor ao que realmente importa.
Faltam quase dois meses para a novela acabar. Acha que ainda dá tempo de Haidê se libertar dos filhos já crescidos, mas dependentes?
Isso nem passa pela cabeça da personagem. A não ser que eles decidam ir embora. A vida dela é dedicada aos filhos. É o tipo de mãe que fica o tempo inteiro olhando, criando, cuidando. Ela se sente responsável, pois eles não têm nenhuma segurança.
Quando você estreou em novelas, já era reconhecida atriz de teatro. Até atuar em Cara & coroa (1995), nutria algum preconceito pelo gênero?
Acho que tudo tem hora. Estreei profissionalmente no teatro em 1976 e só tinha olhos para os palcos. Nos últimos anos, fiquei até um ano e meio sem fazer teatro. Antes, eu me apresentava em longas temporadas, viajava o mundo inteiro. Queria fazer novela, mas nunca tinha tempo. No entanto, quando decidi fazer tevê, levei a sério. Tanto que nunca tive de recusar nenhuma personagem por causa de alguma peça. Mesmo com a estreia tardia, acho que consegui construir uma boa história com a tevê, repleta de personagens interessantes, como a Mamuska, de Da cor do pecado, e a Maria Tomba Homem, de Hilda Furacão.