Diversão e Arte

FLIP deste ano não terá nenhum Nobel ou Goncourt

Nahima Maciel
postado em 03/07/2011 08:00

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) não terá este ano nenhum Nobel ou Goncourt. Os autores de língua inglesa também não são maioria, e a América Latina ganhou presença significativa. O festival de literatura mais importante do país tem início na próxima quarta-feira com uma lista de autores que privilegia latino-americanos e homenageia Oswald de Andrade. Manuel da Costa Pinto, que assume a curadoria da Flip pela primeira vez, aponta ainda uma volta do tema romance às mesas de debate. Nas edições passadas, a opção curatorial direcionou a festa para um intenso diálogo com outras linguagens. Ganharam espaço o cinema, a música e os quadrinhos. A conversa se mantém, mas com ênfase no gênero romance. ;Temos quatro mesas fortes que saem do ficcional, mas a ênfase curatorial é o romance. Se você fizer uma contagem de romancistas talvez não seja muito diferente de anos anteriores, mas a linha curatorial estabelece um nexo entre as mesas e o nexo é o romance.;

Costa Pinto foi buscar na Argentina e na Colômbia as expressões latino-americanas responsáveis pelo idioma hispânico na festa. Andrés Neuman e Pola Oloixaraca, ambos argentinos, representam o que o curador chama de renovação da linguagem literária, mesmo detalhe que motivou o convite ao angolano Valter Hugo Mãe. Já os colombianos Laura Restrepo e Hector Abad são de gerações anteriores aos argentinos e fazem prosa impregnada de conteúdo sociopolítico. Também da Argentina vem Gonzalo Aguilar, especialista em poesia concreta e autor de livro sobre Oswald de Andrade. Do México, Costa Pinto convidou o editor e escritor Enrique Krauze, criador, nos anos 1990, da revista Vuelta, em parceria com o poeta Octávio Paz.

O curador garante que a grande presença de autores de língua hispânica não foi planejada. ;A única coisa deliberada como uma meta dessa Flip foi ampliar o leque de autores de outras línguas para além do inglês e espanhol. Então, há uma presença maior francesa e italiana;, diz. Da França participam Emmanuel Carr;re, autor de Um romance russo, e Claude Lanzman, cineasta e diretor do documentário Shoah, o mais completo já feito sobre o Holocausto, e autor do livro de memórias A lebre da Patagônia, no qual relata a própria vida e os anos de convivência com Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Ausência de um Nobel
A ausência de um prêmio Nobel entre os convidados de 2011 ; edições passadas trouxeram J. M. Coetze, Toni Morisson e Orhan Pamuk ; ou de nomes de grande projeção internacional, como Salman Rushdie, que esteve em Paraty no ano passado, pode indicar um perfil diferente para a festa deste ano, que acabou ganhando um sentido político como cancelamento do italiano Antonio Tabucchi. Ontem o romancista considerado um dos nomes da nova literatura italiana cancelou a participação na festa como forma de protesto pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não extraditar Césare Battisti. O escritor considerou ofensiva a posição brasileira. Para ele Battisti não pode ser considerado um refugiado político e deve ser tratado como terrorista. O curador da Flip convidou o brasileiro Contardo Calligaris para substituir Tabucchi. O norte-americano James Ellroy, o escocês David Byrne, da banda Talking Heads, e o francês Emmanuel Carr;re, formam o trio de estrelas internacionais da Flip. Ellroy, ícone do romance policial, lança Sangue errante em Paraty, e Byrne, que escreve eventualmente, vai falar sobre seu Diários de bicicleta.

Tradicionalmente, a Flip traz autores pouco divulgados ou nunca publicados no Brasil como ato de resistência à pressão das editoras e como compromisso de apresentar novidades ao mercado. Este ano, apenas a escocesa Carol Ann Durfy, sugestão de Liz Calder, a idealizadora da festa, permanece inédita. A paquistanesa Kamila Shamsie já tem seu Sombras marcadas no prelo da Alfaguara e o húngaro Péter Esterházy lança o segundo livro, Os verbos auxiliares do coração pela CosacNaify. O britânico Caryl Philips não era exatamente um desconhecido do público brasileiro, embora os romances Uma margem distante e Dançando no escuro tenham recebido pouca atenção. Agora, a Record aproveita a Flip para lançar A travessia do rio, um duro relato sobre um escravo que troca os Estados Unidos pela Libéria para encontrar a liberdade no século 19.

Entre os brasileiros, o destaque é João Ubaldo Ribeiro, que finalmente se rendeu à festa. Em outra edição, o escritor baiano cancelou a participação depois se irritar com matérias que incluíam seu nome no genérico ;outros; quando se referiam aos convidados brasileiros. ;Teremos a presença de grandes romancistas brasileiros como o João Ubaldo, mas também autores que representam novas tendências do romance no Brasil, como Teixeira Coelho, Edney Silvestre e Marcelo Ferroni;, avisa o curador.

Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)
De 6 a 10 de julho, em Paraty. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). Apenas as mesas 1, 10 e 15 da tenda principal ainda têm ingressos disponíveis. Na tenda do telão ainda há ingressos para todas as mesas. http://premier. ticketsforfun.com.br

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