Diversão e Arte

Audiodescrição de programas permite integração dos deficientes visuais

postado em 06/07/2011 11:12

Imagine a seguinte situação: em um programa de tevê, uma jovem lança um olhar sedutor e provocativo para um homem, em cena sem diálogos. Essa cena, provavelmente, seria ignorada por um deficiente visual, que apenas consegue acompanhar a programação por meio das falas dos personagens. Para acabar com esse problema, desde a última sexta-feira, os canais de sinal aberto se viram obrigados a oferecer pelo menos duas horas de programação com audiodescrição ; recurso que permite a narração da obra audiovisual a quem não enxerga.

Segundo a Portaria n; 188 do Ministério das Comunicações, a implementação do recurso vai ocorrer de forma gradual. Nesse primeiro momento, as emissoras oferecem apenas duas horas semanais de programação. A meta estipulada pelo documento é de que em 120 meses (10 anos) a televisão exiba 20 horas semanais com audiodescrição. No entanto, o recurso só funciona, por enquanto, em televisores preparados para receber o sinal digital.
Armando Ribeiro (E) no Centro de Ensino Especial para Deficientes visuais: otimismo com a inovação
Antônio Leitão, diretor de Educação Especial da Secretária de Educação, cego de nascença, confirma que o recurso é uma iniciativa importante no processo de integração dos deficientes visuais. ;A audiodescrição é também uma ferramenta educacional porque ela aumenta o número de informações que podem melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.;

O recurso é esperado com expectativa pelos deficientes visuais, que desejam melhorar a experiência com a televisão. Um exemplo é a funcionária pública aposentada Maria Otília, 57 anos, que está animada com o novo recurso. ;Vai ser ótimo, desde que perdi a visão, nunca mais assisti à televisão, não tenho paciência porque sei que estou perdendo muita coisa. Agora, acredito que vai melhorar bastante.;

O também aposentado José Amélio, 46 anos, reconhece que a audiodescrição facilitará a compreensão dos programas e pode melhorar muito o nível de informações dos deficientes visuais. No entanto, ele lembra que os televisores capazes de captar o sinal digital ainda são caros. ;O lado ruim da proposta é que nem todos têm dinheiro para comprar um aparelho com essa tecnologia. Seria bom se houvesse alguma ajuda;, argumenta. André Stuart, 39 anos, concorda que não será fácil adquirir novos aparelhos. ;Eu perdi a visão há quatro anos e admito que tenho dificuldades em perceber o que está passando. O recurso vai ajudar, mas uma boa parte não terá acesso. Isso é muito ruim.;

Vitória
O vice-presidente da Associação dos Amigos dos Deficientes Visuais (AADV), Armando Ribeiro Batista, 48 anos, tem uma visão mais otimista. Para ele, a audiodescrição é uma conquista importante para os deficientes visuais. ;Agora, temos essa possibilidade, esperamos quase 10 anos por isso. É preciso lembrar que a tecnologia fica cada vez mais barata, assim como ocorreu com os celulares;, explica.

Ribeiro Batista enfatiza que os recursos devem ir além de telejornais, filmes e novelas. Ele lembra que é muito importante que o recurso também chegue ao mercado de publicidade da televisão. ;Não há nada pior do que ouvir uma promoção seguida de um ;o número está na tela;. Ficamos loucos. E as indústrias têm que saber que há deficientes visuais em todos os segmentos sociais, somos um mercado promissor.;

Nessa linha, Antônio Leitão entende que a audiodescrição é uma forma dos deficientes visuais mostrarem sua força para a sociedade. ;Essas ferramentas fazem a sociedade lembrar da nossa existência.; O argumento do professor parece estar correto, já existem cursos especializados em treinar ;audiodescritores; ; a Universidade de Brasília programa para o próximo ano aulas de treinamento desses profissionais com capacidade para 40 alunos.

Confira a íntegra da Portaria n; 188 do Ministério das Comunicações



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