O autor de LA Confidential, Dalia negra, o recém-lançado Sangue errante e outros 11 romances policiais também reconheceu poucos dos nomes do programa da 9; Festa Internacional de Paraty (Flip). A namorada orientou Ellroy sobre Lanzmann (;Não é aquele cara que fez Shoah ?;) e ele mesmo se encarregou de confirmar que sabia quem era David Byrne (ex-Talking Heads), embora fosse incapaz de reconhecer o rosto do roqueiro. Rock, aliás, não faz parte do cardápio de Ellroy. A linguagem econômica marcante de seus policiais deve muito à música clássica e a Beethoven. ;Minha maior influência. O fluxo da narrativa na música clássica é abstrato. É apaixonado e acessível de um modo que meu cérebro entende. Música para mim, e Beethoven mais do que qualquer um, se tornou uma narrativa quase instantânea. É a maneira como meu cérebro trabalha.; O cérebro de Ellroy também é analfabeto de computador. O escritor não tem televisão nem telefone celular. Escreve à mão e conta com uma secretária para digitar seus livros.
Ele escreve romances policiais porque é obcecado por crimes violentos desde a infância, quando a mãe foi encontrada morta em Los Angeles. Até 2012, ele lança um segundo livro de memórias no qual conta a história da mãe. Também prepara um livro sobre o bombardeio japonês em Pearl Harbor durante a Segunda Guerra. Não será um romance de estilo conciso porque o autor não quer mais investir nesse tipo de escrita. Na verdade, ela aconteceu por acaso. Quando entregou LA Cidade proibida ao editor, ouviu que precisava cortar algumas páginas e fez isso suprimindo palavras. A escrita acabou econômica. Mas Ellroy é adepto de superlativos. Alto e magro, fez da leitura do trecho de seu livro na Flip uma atuação teatral. ;Estou aqui para divertir a plateia;, advertiu. Em entrevista exclusiva ao Correio, o autor fala sobre literatura e Estados Unidos.
Entrevista // James Ellroy
Você gosta de música clássica. Tem algum outro hobby?
Coleciono armas comemorativas. Sim, armas, porque são belos trabalhos de arte. Não ligo se matam ou mataram pessoas. São armas recondicionadas e comemoram aspectos da história norte-americana.
Quais são o melhor e o pior da América?
A melhor coisa da América é o capitalismo, o quase apartheid do sistema de governo, as duas casas do Congresso, direitos de Estado. É um fato que a América é uma república que representa a democracia. E acredito ser imperativo que a América permaneça como um poder dominante. Tenho uma visão mais militar que social da história. Sou uma das poucas pessoas que conheço que são assim. Eu queria sair da América agora por uma única razão: está muito cheia. Talvez, se eu for para uma pequena cidade na Escócia, não seja tão cheio.
Por que a América é tão conservadora?
A América não é conservadora. A ideia que jornalistas e estrangeiros têm de esquerda e direita não se aplica aos Estados Unidos. Esses parâmetros não funcionam. Para mim, é uma piada que as pessoas considerem o Obama de esquerda. É ridículo. Ele é do centro. Todos eles são. Os dois únicos que saíram um pouco do centro para corrigir e salvar a América são os dois grandes presidentes do século 20: Roosevelt e Ronald Reagan. Roosevelt iniciou os programas sociais e Reagan ofereceu suspensão de impostos para todo mundo. As visões de esquerda e direita que os europeus têm da América é fora de propósito. Se você estudar a história do fascismo, e estou estudando para o próximo livro, verá que não há diferença entre fascismo e comunismo.
O que Obama representa para você?
Oportunismo. E isso não é necessariamente ruim. Ele é incrivelmente desqualificado. Eu votei nele. É uma ideia muito boa eleger um homem negro como presidente dos Estados Unidos. Mas posso argumentar que elegemos o homem negro errado. Colin Powell teria sido uma escolha melhor. Ele é mais inteligente, muito mais preparado, profundo conhecedor da geopolítica do mundo. Ele tem uma cabeça muito boa. E é muito mais experiente.
E o que ele fazia com Bush?
Ele teve a chance de ser secretário de Estado e tentar balancear o poder no Oriente Médio. A América sempre fará a guerra porque, se ela não fizer, alguém fará no seu lugar. O que acontece com Barack Obama é que ele foi eleito com esse slogan de ;mudança, mudança, sou um homem negro, mudança, mudança;. Ele nunca disse isso, mas ele parecia bem dentro disso. E foi eleito presidente para duas coisas: ajustar a economia capitalista e assegurar o lugar da América como a nação mais poderosa do mundo. Ele não vai se retirar do Iraque, ele não vai desativar Guantánamo, ele assassinou Osama Bin Laden.
Ele será reeleito?
Provavelmente. Ele queria ser presidente e percebeu que podia ser dizendo ;isso, isso, isso;. E não é ;isso, isso, isso; e sim ;aquilo, aquilo, aquilo;. E disse: ;droga!”.
Como o senhor vê as guerras mantidas pelos EUA?
A América fundou repúblicas democráticas ao redor do mundo, fundou ditaduras anticomunistas ao redor do mundo. Se você levar em conta a balança do século 20, o poder americano fez mais pelo bem.
Qual o papel da literatura nisso tudo? O que ela pode fazer pelas pessoas?
Induzir compaixão mostrando às pessoas o que o mundo realmente é e explicando como se dão mudanças pessoais nos indivíduos. É possível mudar com a literatura.
Gosta dos filmes que foram feitos a partir de seus livros?
Eles ferram seu livro com o roteiro e lhe dão um bom dinheiro. O melhor filme feito de um de meus livros foi LA Cidade proibida. Me rendeu US$ 25 mil, o que é um bom dinheiro, com isso você pode viver em Paraty por três anos. De um ponto de vista realístico é assim: você vira as costas, desconta o cheque, forças convergem para fazer um filme ruim. Cidade proibida é uma versão bem light de meu livro, que é muito mais sobre corrupção institucional e racismo. Acontece que eles ficam muito assustados de ofender as pessoas de cor, então a linguagem é toda explicadinha e você não consegue realmente acreditar que está na Los Angeles dos anos 1953. É uma versão mais romântica. Mas também reconheço isso como um trabalho de arte que não criei.