postado em 12/07/2011 13:11
As mostras universitárias da Universidade de Brasília (UnB) e da Faculdade Dulcina de Moraes são como laboratórios, em que os experimentos colocam as teorias à prova. Jovens estudantes e egressos protagonizam todas as etapas de produção de um espetáculo: cuidam de figurinos, mexem no texto, mergulham nos personagens com seriedade profissional e se responsabilizam até pela divulgação das peças. Nos tablados ; ao ar livre ou no espaço tradicional ;, eles enfrentam uma simulação que mais parece um trabalho à vera, com o comprometimento e a ansiedade a que todo ator, diretor ou dramaturgo tem direito.Nos 11 monólogos de Amores difíceis, adaptados livremente de trechos de obras de Italo Calvino, os irmãos Adriano e Fernando Guimarães trataram seus pupilos como intérpretes graduados. ;A ênfase é na apropriação do texto pelos alunos. Acho que não é só uma chance de esses atores serem vistos, mas também um exercício cênico importante para eles;, classifica Fernando, que, a exemplo do irmão, ocupa cadeira de professor há 14 anos.
A Mostra Dulcina está na 13; edição e vai até a próxima terça. Na performance, exibida no último fim de semana, o público é colocado a poucos metros dos atores, como se fosse uma multidão de figurantes: opção que exige mais concentração dos discípulos. ;É importante que eles tenham responsabilidade. As cenas são deles, a luz está neles;, completa Fernando.
Maria Eleide, participante da montagem, está no último semestre da faculdade. Banhada da mesma luz lunar que envolve as intensas histórias de seus companheiros de cena, ela não gagueja, apesar do frio na barriga e da relativa timidez. ;É uma experiência imensa, antecipa a vida do artista daqui para a frente. Vamos fundo na construção do personagem. É a oportunidade de pôr no palco o que foi visto em sala de aula;, diz a estudante de 31 anos, que largou o emprego de telefonista aos 28 a fim de ter mais tempo para se dedicar à graduação. Morando a dezenas de quilômetros do centro ; em Brazlândia ;, Eleide considera cada etapa vencida (do ensaio à representação) a confirmação de um sonho de menina: ser a primeira artista da família.
No gramado
O Cometa Cenas é organizado semestralmente há mais de duas décadas: em 2011, chegou à 52; edição, com apresentações em todos os turnos, agendadas até domingo que vem. No gramado em frente ao Instituto de Artes da UnB, o casal de namorados Linda Oliveira, 40 anos, e Cyrano Vital, 31, acomodou-se diante de uma mesa para um chá da tarde bem familiar. Um simples e singelo manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Ou o buraco relê Alice no País das Maravilhas de uma maneira irreverente e pop: com trilha sonora ao vivo, tocada no fagote por Fábio Benites, uma Alice que diz ter 52 anos ; apesar de Alice de Holanda, a atriz, ter apenas 25 ;, e uma gata Dinah vaidosa, interpretada por Marley Oliveira, o Bob, a um semestre do diploma.
Linda Oliveira tomou conhecimento da mostra pelo Facebook. ;Nem sabia do que se tratava, apenas que seria um programa de teatro. Achei muito legal;, opina a professora de inglês. Vital, servidor público que, na época em que estudou artes cênicas na instituição, fez exercícios no Cometa Cenas, acredita na longevidade da atividade universitária. ;Serve principalmente para o ator se expor, se mostrar, ir ganhando os traquejos de um profissional;, detalha.
A atriz Alice de Holanda está formada há um ano e destaca a relevância do evento para os colegas e para a comunidade. ;É uma contrapartida para a cidade, um evento gratuito de cultura. É uma pena que nem todo mundo conheça e que alguns achem que é coisa para universitários;, ela nota. O teatro não precisa de equipamentos precisos de medição, tubos de ensaio ou fórmulas matemáticas: a liberdade permitida aos alunos é a de poder experimentar sempre que necessário, sem esquentar a cabeça com o número de tentativas.
13; MOSTRA DULCINA
Até terça que vem (19/7), no Teatro Dulcina de Moraes (Setor de Diversões Sul ; Conic, Bl. C). Hoje e amanhã, às 20h, Partituras do amor, dirigido por Joana Abreu. Não recomendado para menores de 12 anos. De 16 a 19 de julho, às 20h, Ostras infelizes, de Jonathan Andrade. Classificação indicativa livre. Entrada gratuita. Informações: 3323-8475 e www.dulcina.art.br.
52; COMETA CENAS
Até domingo (17/7), espetáculos, exercícios, seminários, exposições e projeção de vídeo. As atividades estão distribuídas nas cinco salas do Prédio Complexo das Artes, no Teatro Helena Barcellos, nos corredores do Instituto de Artes Cênicas da UnB, na área externa e na Concha Acústica do Instituto de Artes, no Beijódromo (Memorial Darcy Ribeiro) e no Teatro Caleidoscópio (Sudoeste, CLSW 102, Bl. C). Classificação indicativa livre. Entrada gratuita. Informações: 3107-1177 ou em cometacenas.blogspot.com.
Clique e confira a programação das mostras , e , da Faculdade Dulcina de Moraes.