Diversão e Arte

Balé Nacional de Cuba se apresenta de graça no Teatro Nacional

postado em 18/07/2011 08:00



Nem só de socialismo, mojitos e charutos é feita Cuba, a ilha comandada pelo braço forte da família de Fidel Castro. Atualmente, a rumba, a salsa e a nova trova cubana são apenas algumas das manifestações culturais vindas do país caribenho. Mas quem acompanha de perto aquela cena já deve ter ouvido falar no Balé Nacional de Cuba, um dos mais tradicionais da atualidade, célebre por seu repertório clássico. Amanhã (só para convidados) e quarta (entrada franca, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional), a companhia inicia, em Brasília, mais uma turnê internacional, com um espetáculo que conta com um trunfo para sensibilizar a plateia brasileira: A lenda da água grande, com 44 bailarinos no elenco, conta a história de um mito da etnia indígena guarani, inspirado no surgimento das Cataratas do Iguaçu.

Coordenada pela eterna primeira-bailarina da casa, a hoje nonagenária Alícia Alonso, a coreografia foi desenvolvida por seu sucessor no posto de criação, Eduardo Blanco, e passeia pelo romance entre o guerreiro Tarobá e Naipí, uma mulher predestinada ao monstro Mbói Tu;i. Eles fogem e a criatura, furiosa, provoca uma rachadura na pedra, de onde brotam as águas caudalosas das cataratas. Naipí se transforma em pedra e Tarobá, em árvore. O arco-íris, formado por milhares de gotículas de água, os une.

;Uma amiga brasileira, estudante de balé, chamada Tayná Cândido, me sugeriu a ideia de montar uma coreografia sobre a lenda das cataratas. Desde o princípio, a ideia me atraiu. O apoio de Alícia e da Cooperativa Cultural Brasileira tornaram o projeto possível;, revela Blanco. Até o momento, o espetáculo só foi encenado em Cuba, em maio do ano passado. Depois de passar por Brasília, São Paulo e Salvador, A lenda da água grande poderá seguir para o Canadá, país que já demonstrou interesse no ineditismo desse intercâmbio artístico.

Para retratar os costumes da civilização guarani e dos índios caingangues, Blanco, hoje cidadão do mundo e colecionador de prêmios aos 29 anos de idade, passou uma temporada no Brasil. Ao lado do roteirista da companhia, José Ramón Neyra, e do desenhista Frank Álvarez, conversou com especialistas em cultura indígena, visitou museus e bibliotecas e apreciou a natureza da região. ;Não exagero quando digo que ter visto as Cataratas foi uma das experiências da qual me lembrarei por toda a vida. Nos impressionou tanto que voltamos para vê-las sempre que pudemos;, afirma o coreógrafo. A exuberância natural não foi o único fator a fisgá-lo. ;Estou apaixonado pelo Brasil, por sua música, sua literatura e conheci outras histórias que podem ser transformadas em balé. Significa muito ver meu trabalho aí;, elogia.

O processo de adaptação incluiu selecionar os trechos da narrativa que seriam mais bem traduzidos nas cenas e ainda abarcou elementos de outras histórias do imaginário guarani. ;A linha fundamental é a história de amor e a interferência do monstro. Mas há outras personagens importantes, como o xamã e o filho do cacique;, descreve o coreógrafo. Além dos passos clássicos, Blanco introduz movimentos que capturou no gestual das danças indígenas e da dança moderna. ;A dança clássica é inesgotável. É uma arte que, sobre a base da tradição, se atualiza e permanece vigente, com toda a sua riqueza e capacidade de transformação;, defende.

O balé, que só se concretizou graças ao apoio da Cooperativa Cultural Brasileira e do Ministério da Cultura, pretende democratizar o acesso aos espetáculos. Em algumas cidades, haverá sessões gratuitas e outras a preços que variam de R$ 15 a R$ 30. Depois de exibir sua versão da lenda brasileira, o Balé Nacional de Cuba retomará sua rotina exaustiva, que inclui ensaios diários no Grande Teatro de Havana e turnês pela ilha e por países estrangeiros. Antes da passagem por terras tupiniquins, eles deram um giro pelos Estados Unidos e, depois seguirão para a Espanha. Com um pé na tradição e o outro na modernidade.


Menino de sapatilhas

Eduardo Blanco se lembra de quando, ainda menino, conheceu Alícia Alonso. Diva absoluta da dança cubana, ela conversou com seu futuro pupilo durante uma visita que fez à escola de balé em que ele estudava, em Santiago de Cuba. ;Eu era uma criança e disse a ela: sou coreógrafo. Ela sorriu;, lembra. Sua profecia se cumpriria anos depois, pelas mãos de Alícia. Mas, antes, aos 9 anos, o menino teve uma rápida passagem pelas aulas de violino, antes de vestir as sapatilhas de balé. Depois de aprender as lições básicas em sua cidade natal, ele mudou-se para Havana, frequentou a Escola Nacional de Ballet e deu um salto para o estrelato.

O talento para a criação se revelou de forma prematura. Aos 12 anos de idade, pouco depois de começar sua trajetória como bailarino, Blanco lançou sua primeira coreografia, Baila e Joga, que já conquistou o prêmio de Melhor Interpretação masculina no Festival Provincial de Ballet e Dança Moderna. Desde então, prêmios são uma constante em sua carreira. Depois de integrar a equipe do Ballet Nacional de Cuba, onde graduou-se aos 17 anos, foi

imediatamente integrado ao núcleo de criadores, tornando-se o primeiro recém-graduado a ser coreógrafo. Dois anos depois de assumir o posto, criou o espetáculo de abertura da 20; edição do Festival Internacional de Ballet de Havana, tendo sob sua orientação centenas de crianças e jovens.

Eles, por sinal, são um marco no trabalho do coreógrafo. Além de criar para grandes estrelas, profissionais e amadores, Blanco acredita que é preciso incluir na dança crianças sem perspectiva e adultos sem experiência. Seguindo esse princípio, já desenvolveu projetos comunitários em diferentes cantos do país, levando princípios elementares do balé a meninos e meninas encantados com este universo. O contato deles com ídolos das sapatilhas é o que alimenta o sonho de dançar, acredita o coreógrafo. E sua influência não está restrita ao território da ilha onde vive. Desde 2007, ele colabora com o Balé da Juventude de Hamilton, no Canadá, com o qual montou versões de Hansel e Grettel e de O quebra-nozes. Já desenvolveu passos e movimentos para diversas coreografias de temática jovem e infantil.

A LENDA DA ÁGUA GRANDE

Amanhã, para convidados. Quarta, às 20h30, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro ( Via N2 - 3325-6239). Entrada franca, mediante retirada de ingressos amanhã, entre 14h e 17h, na bilheteria do teatro.
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