postado em 20/07/2011 10:31
Que o espectador brasiliense não se espante. No documentário 2012: Tempo de mudança, longa de estreia de João Amorim, o ano do colapso terrestre ; segundo diziam os maias ; é menos pavoroso do que parece. Em vez de alimentar a paranoia em torno das profecias mais pessimistas, anuncia: há, sim, esperança para a humanidade. Isso, porém, se as pessoas abrirem a cabeça para alternativas ecológicas de consumo de energia e agricultura ; e também para uma nova consciência.Otimista e com ares transcendentais, o filme acompanha entrevistas e reproduz impressões do jornalista americano Daniel Pinchbeck, um militante da causa ambiental que mudou de vida quando passou dos 30 anos. Numa crise existencial profunda, ele fez uma viagem à Amazônia, querendo reviver a psicodelia da faculdade.
Tomou compostos de ayahuasca (um alucinógeno indígena) e aprendeu novos conceitos sobre espiritualidade por meio do contato com xamãs. Quando voltou para os Estados Unidos, recebeu a iluminação: a sociedade só conseguirá evitar o fim do mundo se finalmente conseguir se conectar de novo com a natureza.
Híbrido de animação e registro documental, 2012 está na programação da mostra gratuita Em Cartaz, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que termina domingo. Antes de conhecer Pinchbeck ; um Timothy Leary moderno, segundo o diretor ; Amorim era cético: defendia as causas verdes, mas custava a acreditar nos sinais que prenunciavam um possível caos. ;O que me despertou no trabalho do Daniel foi essa questão das crises atuais: econômica e ambiental. Mas, acima de tudo, seria uma crise da consciência.
Às vezes, a gente tem esse padrão meio reducionista de não ver a ligação entre as coisas. Antes da grande diversão e do consumo, o que os povos faziam com o tempo livre? Arte, música e práticas transcendentais. Será que é possível trazer isso de volta? Uma alternativa ao consumo desenfreado?;, pergunta-se o cineasta, filho do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
Contracultura e ciência
Nas conversas de Pinchbeck ; com famosos e ativistas ;, conhecimento ancestral, tecnologias sustentáveis e ciência se misturam e se confundem. O músico inglês Sting fala do dia em que ingeriu ayahuasca, no Rio de Janeiro, e entrou em êxtase. Gilberto Gil e David Lynch se dizem deslumbrados com os poderes curativos de yoga e meditação. E a atriz Ellen Page (de A origem e Juno), ao deparar com a permacultura ; que desenvolve um sistema orgânico e cíclico de plantio ;, teve uma experiência ;de verdade;. Especialistas de várias áreas dão exemplos práticos de como economizar e preservar os recursos naturais disponíveis: da reutilização da água da chuva à criação de uma moeda substitutiva do dinheiro convencional, em que o compartilhamento de ações solidárias ocupa o lugar de dispendiosos serviços particulares de transporte e socorro médico.
;Como a maior parte dos documentários ambientais aponta somente os problemas ; e mesmo o filme do Al Gore (Uma verdade inconveniente) não traz soluções ;, queria fazer um filme de caráter positivo. A gente está cercado de negatividade. Todos os filmes de ficção são de desastre, com aliens e cataclismas. Quis ir para outro lado, mostrar soluções que já existem, implementadas em muitos lugares há muito tempo. Não é preciso reinventar a roda;, observa Amorim. Ele e Pinchbeck tratam 2012 como o fim de uma era e o começo de outra ; como se pensava nos anos 1960 ; em que o mundo pós-industrial, poluente e autodestrutivo, é uma lembrança recente, mas difusa.
EM CARTAZ
Até 24 de julho, no CCBB, sessões gratuitas de seis filmes. Próximas projeções de 2012: Tempo de mudança: hoje, às 14h30; sexta, às 15h50; sábado, às 15h20; e domingo, às 21h10. Não recomendado para menores de 12 anos. Informações: 3108-7600.