Tulipa Ruiz, uma das cantoras mais cativantes da movimentada cena paulistana, começa a gravar o segundo disco em janeiro de 2012. Já tem um monte de músicas prontas em casa. Pode ser que muitas dessas entrem no repertório do sucessor de Efêmera, o ótimo CD de estreia, lançado há um ano. Ou nenhuma. Por enquanto, ela prefere pensar em várias possibilidades de conteúdo. Até porque mora com o irmão, Gustavo Ruiz (guitarrista de sua banda e produtor do álbum), e em casa, o que não falta é ideia para uma canção nova. ;A gente está sempre rascunhando ou gravando alguma coisinha;, conta a cantora e compositora de 32 anos, que vem hoje a Brasília para uma apresentação ao lado de Gustavo, no Teatro Eva Herz, às 19h30, seguida de bate-papo com o público.
O show de hoje é diferente dos outros dois que ela trouxe à cidade (em janeiro deste ano, no CCBB, e em maio, no Teatro Oi Brasília). Será, aliás, o primeiro que faz sem banda no Brasil. O formato voz e violão de (sete cordas), a cantora só experimentou na turnê que fez pela Europa em março, com o irmão. ;A gente apresentou o disco com essa roupagem em Portugal, na Inglaterra e na França. No início, eu estava com medo de levar as músicas assim, peladas, mas foi muito legal. De volta ao começo ; afinal, elas nasceram assim, com voz e violão ;, você consegue sentir a força da canção;, comenta.
Tulipa chega à cidade depois de um fim de semana cheio, que começou no Festival de Inverno de Garanhuns (PE) e passou pelo Festival da Serrinha, em Bragança Paulista. Tem sido assim desde o lançamento de Efêmera. Em agosto, vem mais uma viagem internacional. Ela tem shows marcados em Washington e Nova York, numa turnê dividida com a cantora Tiê. Em setembro, dividirá o palco do Rock in Rio com a Nação Zumbi. Em outubro, deve voltar a Portugal ; e passar mais uma vez por Brasília (na Sala Cássia Eller, desta vez com a banda toda). Em dezembro, a Bélgica entra na agenda.
Shows pra brasileiros no exterior? Que nada. ;É um formato universal. As pessoas recebem bem;, garante, entre risos. ;Quando fui à Europa, pensava nisto: como chegar a um país cantando outra língua e não entrar na prateleira de world music? Em Londres, tocamos no Momo, que não é um lugar de brasileiros, e recebemos uma crítica superlegal do (jornal) The Guardian, dizendo que o show havia transcendido isso da língua, da world music. Aí você vê a força da música como algo universal mesmo.;
Estreia tardia
Filha e irmã de guitarristas, Tulipa Ruiz, veja só que ironia, nem pensava em ter a música como profissão. Formada pela PUC-SP em comunicação e multimeios, ganhava a vida como jornalista até 2008. Depois, passou a trabalhar como ilustradora (ela sempre gostou de desenhar, mas, profissionalmente, faz isso há três anos). E de tanto ser chamada para subir ao palco nos shows de amigos ; como Tiê e o grupo Cérebro Eletrônico ; começaram a aparecer convites para um show dela.
;Isso nem passava pela minha cabeça. Eu cantava informalmente, brincava de cantar. Era mais um hobby. Música era departamento do meu pai e do meu irmão;, justifica a filha de Luiz Chagas (guitarrista da banda Isca de Polícia, que acompanhava Itamar Assumpção) e irmã de Gustavo Ruiz.
Nascida em Santos (SP) e criada em São Lourenço (MG), Tulipa foi fortemente influenciada pela chamada vanguarda paulistana. ;Cresci em Minas e só vim morar em São Paulo com o meu pai aos 22 anos. Mas fui criada pelos discos do meu pai. Fui muito influenciada por eles, não só musicalmente, mas plasticamente. Adorava as capas de discos do Rumo e do Itamar;, conta.
Dona de belo timbre, Tulipa só resolveu apostar na própria voz em 2009. E, para ela, isso só fazia sentido com as suas composições. ;Quando vi que a banda tinha gostado das músicas, comecei a ficar corajosa. Acho que pelo fato de ter decidido depois dos 30, consegui fazer as coisas com pulso firme. Foram decisões mais maduras;, avalia. ;Na verdade, compor me deu liberdade para assumir esta palavra, ;cantora;, que, para mim, sempre foi difícil dizer.;
Hoje, a cantora, compositora e desenhista (;que se interessa por gravações em campo, texturas, ruídos, bordados e cantigas de ninar;, como diz seu perfil no MySpace) pode até passar uma semana sem escrever nada. Mas está sempre criando, vive com um caderninho e um lápis de cor na bolsa para anotar ideias.
;Tenho no computador um limbo de coisas começadas e abandonadas;, ela conta. ;A música Efêmera, mesmo, era uma dessas. Comecei a fazer, não gostei do final e abandonei no limbo. Um dia, Gustavo, viajando, ouviu minha pasta de rascunhos e voltou dizendo: Tulipa, tem uma música muito boa!”. Era a tal do fim ;odioso;. ;Terminava assim: ;Quem quiser me acompanhar/ Na geladeira tem um vinho;. Horrível, né? Fiquei com vergonha disso e não voltei mais para ela.; Com as últimas frases limadas, Efêmera não apenas saiu do limbo como virou faixa-título do CD de estreia. E que bela estreia.
TULIPA RUIZ
Pocket show e bate-papo com a cantora, hoje, às 19h30, no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Shopping Iguatemi). Entrada franca (sujeita à lotação do teatro, que tem capacidade para 198 lugares). Os ingressos devem ser retirados na Livraria Cultura a partir das 12h. Não recomendado para menores de 14 anos.
Assista o vídeo da música Cada voz