postado em 29/07/2011 11:09
A grande ruptura contida no documentário Filhos de João, o admirável mundo novo baiano está na própria trajetória dos biografados, o grupo Novos Baianos (1969-1979). É como se o espírito deles tivesse encarnado diretamente na identidade do filme. A banda era também uma espécie de comunidade hippie com todos os integrantes morando na mesma casa e dividindo o mesmo dinheiro. Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Luiz Galvão e Baby do Brasil iniciaram a carreira alinhados ao rock n%u2019 roll de Ferro na boneca (1969) e encerraram as atividades em conjunto, uma década depois, com pelo menos um disco clássico na discografia nacional, Acabou chorare (1972).
No caminho entre os dois discos, eles aprenderam que a mistura de ritmos brasileiros como forró, frevo e xote aos acordes de guitarra era uma alternativa possível num cenário musical polarizado. O mentor dos Novos Baianos e João do título é o cantor João Gilberto. É claro que ele não está na fita porque Gilberto é um gênio que não dá entrevistas. Outro desfalque. Baby do Brasil só aparece em material de arquivo porque cobrou cachê para dar entrevista. Com estética mambembe, a fita não se parece em nada com os documentários musicais de tendência comercial que o cinema brasileiro está adorando lançar. Pensando a fundo, a forma do filme se aproxima da atitude dos Novos Baianos, o grupo que nunca radicalizou para provocar. O documentário levou os títulos de Melhor Filme eleito pelo Júri Popular e Prêmio Especial do Júri Oficial no 42º Festival de Brasília, em 2009.