Diversão e Arte

Confira trechos do livro Os 33, de Jonathan Franklin, da editora Agir

postado em 05/08/2011 08:00

Num primeiro momento os administradores da mina San José pareciam não estar dispostos a reconhecer a dimensão do desastre. De acordo com Javier Castillo, representante da mina que alega ter sido o responsável pelo telefonema que alertou as autoridades, a direção inicialmente proibiu que os telefones da empresa fossem usados para pedidos de ajuda. Angela Alvarez, esposa do mineiro Edison Peña, também preso no interior da montanha, contou algo similar: "Os mineiros queriam ligar lá de baixo, e como não havia cobertura de celular no topo da montanha, pediram uma linha telefônica fixa. (...) Eles proibiram estritamente que entrassem em contato com bombeiros, ambulância ou polícia. A empresa queria resolver tudo à sua maneira." Enquanto um crescente grupo de alpinistas, mineiros veteranos e homens do GOPE (Grupo de Operações Especiais) estudavam as opções para entrar na mina, familiares e cidadãos comuns de todo o Chile observavam as notícias em choque. A mina San José desmoronara, e os nomes dos mineiros que trabalhavam no momento do acidente eram exibidos na televisão.


Naquelas primeiras horas caóticas, quando a poeira continuava saindo da boca da mina, numa fria noite de inverno que deixava a todos congelados, Mario Segura foi um dos primeiros policiais a entrar. "Nós descemos na mina e seguimos o máximo possível, mas logo chegamos a um ponto em que a estrada estava bloqueada por dejetos e pedras. Normalmente, encontramos uma maneira de ultrapassar um desmoronamento. Mas aquela era uma pedra lisa, como uma porta que selava o poço", disse Segura. "Do modo como a montanha desmoronou, nem os especialistas em minas entendiam como tanta pedra desabou. Como uma montanha pôde vir abaixo daquela forma? Para eles, era inexplicável."


Se alguém ali precisava de apoio, era o boliviano de nascimento Carlos Mamani -- o único não chileno do grupo. O dia 5 de agosto fora seu primeiro dia de trabalho, um turno único que conseguira como trabalhador noturno, um extra que ajudaria nos gastos com seu novo bebê, Emili, de 11 meses. Naquele momento, Mamani estava preso dentro da mina. Graças à animosidade secular entre Chile e Bolívia, estar preso num buraco de setecentos metros de profundidade, cercado por 32 chilenos, era, para um boliviano como ele, o mesmo que para um sérvio estar preso na toca de uma raposa croata.

Dos 33 homens, 24 viviam na cidade mais próxima, Copiapó, uma localidade mineira com população de 125 mil habitantes e taxa de aproximadamente setenta por cento de sua economia ligada às minas. A notícia do acidente surpreendeu poucos habitantes, a maioria pertencente a uma terceira geração de mineiros. O jornal local El Atacameño regularmente soltava manchetes sobre mineiros esmagados e desmembrados. Mas daquela vez tudo parecia diferente. A profundidade em que acontecera o desmoronamento era enorme, e o número de vítimas, notável, mesmo para uma comunidade acostumada às tragédias mineiras.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação