Diversão e Arte

QNG Festival reúne nove bandas em Taguatinga

postado em 05/08/2011 09:13

A banda Valdez, que está em estúdio gravando singles, é uma das atrações do QNG Festival

Uma semana depois do Porão do Rock, Taguatinga dá o recado: a cidade, a partir deste sábado, lembra à vizinhança que também é cantinho do rock brasiliense. A primeira edição do QNG Festival reúne bandas locais e de outras cidades e ocorre amanhã, às 15h, na Área Especial 29 da QNG, em Taguatinga Norte. No line-up, Casa Vermelha, Dependência Pulmonar, Maverick;79 (Santo Antônio do Descoberto), Os Caras do Rock, Os Merah, Podrera (Riacho Fundo 2), Prisão Civil, Suicídio Coletivo (Jardim Ingá, em Luziânia) e Valdez.


O Dependência Pulmonar, iniciado em 2006, aproveita o evento para lançar o segundo disco, Capital do kaos (independente, 18 faixas). Em 2007, Danillo Nunes (bateria), Rafael Vilela (baixo), Santiago Oliveira (guitarra) e Lauro Humberto (vocal) divulgaram a demo Elvis não morreu, tá na carteira e, desde então, têm investido nas apresentações ao vivo. Para Nunes, que integra a produção dos shows, a iniciativa cria um espaço para a cena. "Fortalece toda a galera da região. Queremos que cresça e se torne importante, como o Porão ou o Ferrock. A gente quer tornar a QNG um ponto de encontro", compara.


Os Merah, também presentes na organização, mesclam rock, baião e timbres nacionais e internacionais, de Tim Maia a The Strokes. O guitarrista Rafael Sapo define o evento como uma manobra de descentralização. "No DF, o rock é centralizado e não tem espaço. Faltava uma coisa assim, com esse número de bandas. Além disso, atende o público daqui", diz o parceiro de Bruno Merah (vocal), André Nunes (guitarra), Paulo Silas (bateria) e da única garota na banda, Alenne Surer (baixo).


Everaldo, baixista do Valdez, trio que esteve no Porão, acredita que a movimentação dos músicos pode consagrar o festival em pouco tempo. "Taguatinga fornece espaços mínimos. É uma baita festa, que deve atrair gente de outras cidades e ser consolidado", diz, otimista. O trio, completado por Sérgio (bateria) e Diego Valdez (guitarra e vocal), continua elétrico: está em estúdio, gravando singles, e, no ano que vem, pretende finalizar pelo menos uma música por mês. Álbum, por enquanto, fica em segundo plano.


Já bem conhecidos na cidade, Os Caras do Rock veem no QNG Festival o preenchimento de uma lacuna que sempre atazanou as bandas. "Pode melhorar a situação de todo mundo e foi criado pela falta de espaço. Aqui não tem local organizado, com boa qualidade acústica", afirma o guitarrista e vocalista Fábio Brandão. A formação, com Luiz Henrique no baixo e German Rafael nas baquetas, segue o comportamento dos colegas do Valdez: prefere divulgar músicas avulsas a investir num disco apressado e caseiro.

O Vitrine lança o primeiro CD, Espelhos, em show no Cult 22 Rock Bar
Sem nostalgia
Para a banda Vitrine, gravar Espelhos, seu primeiro disco, não foi moleza. Durante quase dois anos, o quarteto estabeleceu uma rotina de idas e vindas, saindo de Taguatinga, Águas Claras e Núcleo Bandeirante, onde moram os integrantes, até o estúdio do produtor Philippe Seabra (Plebe Rude), no Lago Norte. Ao meio-dia, tinham de estar de volta ao Bandeirante, para que o vocalista Israel Veloso pudesse trabalhar. Mas o guitarrista Davi Kaus afirma que eles fizeram isso como a coisa mais divertida da vida. "Queríamos que o disco soasse como a gente, simples, porém mais polido e profissional", conta Davi.

A banda fez seus primeiros ensaios em 2002, em Taguatinga. Em 2006, chegou à formação atual, com Mark Santana no baixo e Anderson Gomes na bateria. "A proposta inicial era fazer um som pautado no new wave, de bandas como Clash, Echo and the Bunnymen e The Jam", comenta Israel, autor da maioria das letras, sobre relacionamentos e observações cotidianas.
A inspiração oitentista, no entanto, não faz de Espelhos um disco de sonoridade e timbres datados. Pelo contrário. Sem nostalgia ou afetação, o repertório tem cara de agora. Nas 11 faixas, a banda encontra equilíbrio entre o rock de guitarras e potencial radiofônico. O CD tem alguns candidatos a hit. Dois deles já ganharam videoclipe, Zero hora e Egoísmo. (Pedro Brandt)

VITRINE
A banda de Taguatinga lança seu primeiro disco hoje, às 22h, no Cult 22 Rock Bar (Centro de Atividades 7, Lago Norte). Abertura: Cassino Supernova. Discotecagem com Telma & Selma, Penny Lane e Marcos Pinheiro. Os 20 primeiros pagantes ganharão um CD. Do 21; ao 30;, uma camiseta. Entrada: R$ 10, até a 0h, e R$ 15, após esse horário. Não recomendado para menores de 18 anos. Espelhos é um lançamento da Pisces Records. 11 faixas, produzido por Philippe Seabra.

Confira a entrevista com o vocalista Israel Veloso e com o guitarrista Davi Kaus, da banda Vitrine:

Quando e como começou a banda? A proposta sonora sempre foi a mesma? Ou ela foi sendo moldada com o passar do tempo?

IV: Montamos a banda em março de 2002, em Taguatinga, mais como uma brincadeira, eu na guitarra, Mark no baixo e Marcos Andrade (que faleceu no início do ano) na bateria. Durou pouco mais de um ano e dividimos palco com algumas bandas também iniciantes naquela época, como Beto Só e Móveis, em eventos como os que aconteciam na UnB. A proposta inicial era fazer um som pautado no new wave (Clash, Echo and the Bunnymen, The Jam). Só fomos conseguir realmente começar a trabalhar essa proposta a partir de novembro de 2006, quando a banda voltou e encontramos o Davi, que se prontificou a tocar bateria, e gravamos a primeira demo, como trio. O resultado ficou um pouco frustrante e vimos que precisávamos de um baterista de verdade e que o Davi, um puta guitarrista, fosse pra guitarra solo... Com essa mudança, pudemos trabalhar o som da banda, para que não soasse datado.
E por falar nisso, como vocês apresentam a banda?
IV:
O Vitrine é uma típica banda de Brasília, com influências dos anos 1980, mas não só isso. Temos muita influência de bandas dos anos 2000, como Elefant, Strokes, Bloc Party, Killers...
O Vitrine é formado por Davi Kaus na guitarra e vocais, Israel Veloso nos vocais e guitarra, Mark Santana no baixo e Anderson Gomes na bateria.

Quem compõem na banda? O que você diria que te influencia na hora de compor?
IV:
Nesse primeiro disco, eu compus a maioria das músicas. O Davi compôs duas (Equilíbrio e Presente imperfeito). Ultimamente, a gente veio aprendendo a arranjar junto. Alguém chega com o esboço e a gente trabalha junto, grava, critica junto. Quem me inspira muito, particularmente, é o Morrissey. Até hoje, acho que ele é imbatível em falar sobre relações interpessoais. Me inspira falar sobre as pessoas, coisas simples, observações.

De onde vem a paixão pelo rock dos anos 1980? Ter essas influências ajuda ou atrapalha na relação com o público ?
IV:
Em primeiro lugar, nós somos amigos de longa data antes de sermos banda. Sempre viajamos juntos desde moleques ouvindo sonzinho de fita naquele Voyage velho (rs) e acabamos descobrindo muitas bandas juntos, é aquela coisa que você fala assim: ;Vamos montar uma banda? Olha isso! Dá pra tocar!” Ouvíamos Joy Division, Siouxsie, Bauhaus, Clash, Ramones, Pretenders, B-52;s, Plebe, Legião, Ira. Na verdade a gente não faz as coisas pensando no público. Sei que tem gente que gosta e tem gente que odeia. A gente faz o que a gente gosta, quer ouvir, quer tocar. A gente não faz som ;Made in Goiânia; ou bonitinho ;Los Hemanos;, como tem muita banda que cai no erro aqui em Brasília. E quando você faz isso, claro que as coisas ficam mais difíceis.

Como vocês avaliam ser uma banda nova em Taguatinga? Como estão os lugares para tocar, o interesse do público local...? O que poderia melhorar?
IV:
A gente já está malaco com Taguatinga. Taguatinga tinha aquele estigma de ter parado nos anos 1970, aquela coisa do cover pra dar público, mas tem gente que está à frente e abre espaço pras bandas novas. É o caso da Lázia no Blues, o pessoal do América, o Marcinho do antigo Botiquim. Hoje com os coletivos, muita coisa mudou para as bandas que querem fazer realmente um trabalho sério. Você sente que as pessoas estão um pouco mais interessadas no que acontece na cidade. Mas as bandas têm que ter em mente que também precisam se profissionalizar mais. Investir mesmo. Essa nova concepção não acontece só em Taguá. Tem espaço na Ceilândia, Samambaia, Gama, Planaltina...

Como vocês enxergam circuito do rock no DF atualmente?
IV:
Hoje você olha a agenda do Cult 22, por exemplo, tem dez vezes mais eventos do que há cinco anos. Não sei se é só a economia, mas Brasília nunca teve tantas bandas. Há algo diferente. As pessoas se juntaram, começaram a criar realmente um circuito. Empresários, DJ;s, donos de bares. Nunca houve tantos shows internacionais em Brasília como nos últimos anos. Só acho que falta um pouco de conteúdo. Tá certo que viver de música está quase impossível, mas não dá pra construir e manter uma cultura que Brasília sempre ostentou falando somente de banalidade.

A banda já tocou em outras cidades? Onde? Como foi?
DK:
Já tocamos em Cuiabá, Belo Horizonte, São Thomé das Letras e Anápolis... foi bem divertido! Vamos lançar o disco em Anápolis também, o que é um sinal de que eles gostaram da gente. É sempre uma correria, mas conhecer outros lugares, tomar umas várias cervejas (rs), e conhecer pessoas legais compensa os gastos... além da divulgação do som da banda, é claro.

Por que Philippe Seabra para a produção? Como foi trabalhar com ele?
DK:
Porque temos influências similares às dele. Poxa, ele tem o quadro da banda Killing Joke na parede do estúdio... e o estúdio é muito bom, última geração. Foi relativamente fácil porque confiamos no Philippe, o que no início é meio complicado, alguém mexendo na ferida... mas quando se escolhe um produtor é o mínimo esperado dele: que ele cutuque as feridas da banda mesmo, e temos que aprender a lidar com a dor. Mas o Philippe, apesar de extremamente profissional e tudo, é besta que nem a gente, a gente riu pacas também!

Quais os desafios de gravar o disco?
DK:
Acordar às 7h na Arniqueiras, andar vinte minutos até a parada, pegar o ônibus pro Núcleo Bandeirante, encontrar o Israel, zarpar pro Lago Norte (pro estúdio) e voltar meio-dia ao Núcleo pro Israel ir trabalhar. Ah, e pegar o ônibus de volta. Isso durante um ano e meio, quase dois anos. E achar essa a coisa mais divertida da sua vida!

Antes de entrar no estúdio, vocês já sabiam como queriam que o disco soasse? O resultado ficou parecido ou diferente do que vocês imaginaram?
DK:
Acho que nós queríamos que soasse como a gente, simples, porém mais polido e profissional. Num primeiro disco, a excitação e as possibilidades são tão grandes que é como uma criança dentro duma panela de brigadeiro. Ela só pensa em comer até estourar (rs)... mas conseguimos, junto com o Philippe, organizar essa excitação. O Israel e o Philippe tiveram muitas ideias com teclados também. Acho que fizemos o nosso melhor, e aprendemos pro próximo.

E quais os desafios para conseguir lançar o disco?
DK:
Time is money!! Vontade e musicalidade, modestamente, acho que temos, assim como várias bandas boas que estão na cena. Mas se profissionalizar é correria. Quando se tem uma gravadora apoiando na parte burocrática, executiva e financeira, é mais fácil se concentrar só na música. Mas é como o Mark (baixista) diz: ;esse é o ônus da liberdade;.

A banda já tem dois clipes, certo? Falem sobre eles?
DK:
O primeiro é o da música Zero hora, gravado e lançado no começo do ano, produzido em parceria com a Asteroide Filmes, de Curitiba, com a direção do Cajinha Guedes (banda Sabonetes). O segundo, da música Egoísmo, está em fase de pós-produção, sob a concepção do cineasta curitibano Wellington Sari, que veio pra Brasília em meados de julho pra captar imagens nossas pro clipe, que deve ser lançado em outubro. Zero hora está nos deixando muito felizes, já está na MTV, na Play TV, já tem mais de 2 mil acessos no Youtube... é um clipe com enredo, sobre uma menina meio estranha, vivendo numa cidade meio estranha, é um clipe com um conceito mais rebuscado. Já o de Egoísmo deve ficar mais visceral, rock;n;roll com fuligem, dançando descalço no asfalto quente. Estamos ansiosos... a qualquer momento deve estar pronto.

Veja clipes das bandas do festival:

Banda de garagem Dependência pulmonar - Hey Cidadão Brasileiro

Banda de garagem Valdez - Apocalipse Girl

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