Diversão e Arte

Seminário discute transformações no mundo do trabalho na era tecnológica

Severino Francisco
postado em 07/08/2011 08:00
O filósofo Karl Marx profetizou que, com o avanço da tecnologia, os trabalhadores seriam liberados das tarefas pesadas e se tornariam livres para gozar as delícias do ócio. No entanto, é muito fácil constatar que Marx errou feio. Nunca se trabalhou tanto, dentro e fora dos ambientes convencionais. Em aviões, restaurantes e filas do banco, a maioria empunha os seus notebooks e continua a labutar delirantemente, invadindo inclusive o espaço que seria teoricamente reservado ao lazer em fins de semana, folgas e feriados. As transformações no mundo do trabalho provocadas pela era da tecnociência são o tema do ciclo Mutações, organizado por Adauto Novaes, daqui a um mês, em 8 de setembro, no Teatro da Caixa Cultural, sob o sugestivo e provocador título de Elogio à preguiça.

E, por que pensar a preguiça neste exato momento da história? Adauto alinha motivos: é porque ela foi muito mal pensada e está estigmatizada, em razão da aliança do capital com a Igreja Católica. De uma parte, se tornou um pecado capital e, ao mesmo tempo, o capital a abominava porque ela é a fonte do lucro. ;Há uma enorme mutação na ideia de trabalho;, comenta Adauto: ;Pensadores franceses consideram que a preguiça é o tema mais subversivo do momento. Sem tempo livre, não existe pensamento e esse é o cerne do drama que estamos vivendo. Aquele que está trabalhando em uma tese de mestrado ou de doutorado já matou o pensamento, pois tudo fica subordinado a uma obrigação técnica.;

Urgência
Em um primeiro momento, Adauto chegou a cogitar a possibilidade de promover um seminário livre sobre as mutações do trabalho. No entanto, depois de pesquisar muito, ele concluiu que seria mais urgente uma reflexão em torno da preguiça. O curso livre pretende desmistificar o tema e mostrar inclusive que os preguiçosos são grandes trabalhadores. ;A preguiça é a fonte do pensamento e da criação de obras de arte;, observa Novaes.

Para ele, a grande questão é perguntar: o que devo fazer? ;Se você não se coloca esta pergunta fica sem rumo, sem ter um sentido, uma política e uma moral.; O tema comporta uma dimensão política: ;São os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum;, escreveu Albert Camus. Quem quiser informações mais detalhadas pode consultar o endereço: www.elogiodapreguica.com.

Mutações ; elogio à preguiça
Informações e inscrições (a partir de 15/8, das 13 às 19h na Caixa Cultural e no site do Cespe). Telefones: 3206-9448/UnB e 2109-5854 ou 2109-5855. Endereço eletrônico para inscrições: www.gie.cespe.unb.br

; Programação do curso
; Rousseau e os devaneios do caminhante solitário, por Franklin Leopoldo e Silva/8 de setembro
; Que preguiça, por Francisco de Oliveira/20 de setembro
; Três ociosos: Sócrates, Montaigne e Machado, por José Raimundo Maia Neto/ 27 de setembro
; Dizer sim ao ócio ou ;Viva a preguiça;, por Oswaldo Giacoia Junior/29 de setembro
; Ócio, labor e obra, por José Miguel Wisnik/4 de outubro
; Experiência de improdutividade, por Guilherme Wisnik/ 5 de outubro
; Poesia e preguiça, por Antonio Cícero/19 de outubro
; O leitor preguiçoso, por Francisco Bosco/25 de outubro
; O esgotamento da ética do trabalho, por Vladimir Safatle/27 de outubro

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