Diversão e Arte

Wilson das Neves compartilha lembranças com o Correio

postado em 08/08/2011 08:31
Ô, sorte!
;Não fui eu que inventei (o bordão).

A história é a seguinte: Roberto Ribeiro era cantor e se apresentava aos sábados nas reuniões do Império Serrano. Mas, como sou músico, esse era o meu dia de trabalho. Quando o Roberto descobriu que eu também era Império, ele falava ;ô, sorte!’, sorte de ser imperiano. A partir daí, sempre que nos encontrávamos, falávamos a expressão. Na verdade, para mim, esse ;ô, sorte!’ é um agradecimento a Deus e aos orixás que me protegem.;

Elizeth, a divina
;Trabalhava na Rádio Nacional quando ela montou um conjunto e me chamou para fazer parte dele. Foram 25 anos tocando juntos. Fizemos shows pelo Brasil e pelo mundo. Argentina, França, Japão; Ah, a Elizeth era divina. Maravilhosa, amiga, autêntica, honesta com ela mesma e cantava uma barbaridade. Pode nascer cantora melhor, mas igual a ela, nunca terá. Ela se emocionava com o que fazia, sabe? São muitas recordações. Tinha dia que ela me ligava e perguntava: ;Quer comer o quê? Peixe? Então compra que eu vou fazer!’. Daí, ela ia lá pra casa, na Ilha do Governador, e cozinhava siri, carne seca com abóbora; Elizeth adorava porque era naqueles momentos que podia ser ela. Não tinha ninguém pedindo para cantar, não tinha ninguém fazendo pergunta boba. Lá, ela podia ser igual a todo mundo.;
[SAIBAMAIS]
Chico Buarque
;O Chico não tinha uma banda. Era tudo muito simples: ele ia jogar bola e depois fazia o show com o pessoal que jogava pelada com ele. Foi só em 1982 que ele decidiu formar um grupo e me convidou para participar. São quase 30 anos nos apresentando juntos, mas, por enquanto, só criamos Grande hotel. Já dei para ele outras duas melodias, mas ainda não pintou a ideia. Ela virá na hora certa. O Chico é recatado, observador. Quando você acha que ele está por fora de algo, na verdade, ele está por dentro e entendeu tudo.;

Paulo César Pinheiro
;Um dia, fui fazer uma melodia com Raphael Rabello, que era cunhado do Paulo César Pinheiro, para homenagear minha neta que tinha nascido havia pouco tempo. Quem ia colocar a letra era o Aluísio Machado, compositor da Império Serrano, quando o Raphael perguntou: ;Por que você não dá essa pro Paulo César? Liga pra ele!’. Eu liguei, dei a música e, de 1973 pra cá, já foram mais de 80, como O samba é meu dom e Partido do tempo.;

Assédio
;Era 1962 e eu trabalhava na Rádio Nacional, quando, ao passar por um corredor, vi Cyro Monteiro conversando com Ivete Garcia. Aquela mulher era um monumento da beleza e ele dizia: ;Ivete, não precisa ser hoje. Pode ser amanhã, pode ser daqui um mês ou daqui a um ano, quando você não se quiser mais, você se dá um pouquinho pra mim?;. Contei essa história para o Walter Alfaiate e para o Nei Lopes. Tempos depois, chega para mim um envelope escrito: ;Samba-canção para o Wilson musicar;. Era uma composição inspirada nesse episódio e dizia: ;Com cuidado e com perseverança/ As maiores alturas se alcançam/ O túnel mais longo sempre tem uma luz lá no fim/ Pode ser amanhã, mês que vem, tanto faz / Se demorar um tempão ou um tempinho assim/ Mas quando você não se quiser mais, se dê um pouquinho pra mim;. Assim surgiu a música que batizei de Assédio.;

Império Serrano
;Minha mãe, Maria de Lurdes Neves, era da ala das baianas do Império Serrano. Assim, não tinha como ser outra coisa, foi a escola que eu aprendi a gostar. Já fui ritmista, diretor de bateria e, hoje, sou benemérito da ala de compositores. O Império está em mim, é só ouvir as minhas músicas: O samba é meu dom, Fundamento, Imperial, Velha Guarda do Império; Há 40 anos desfilo pela escola e, onde ela for, vou atrás.;

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