Diversão e Arte

Sebastián Hiriart fala ao Correio sobre seu cinema de guerrilha

Ricardo Daehn
postado em 09/08/2011 08:56

Sebastián Hiriart, diretor de A tiro de piedra, filme feito com US$ 8 mil

Gramado (RS) ; ;É como um filho que se porta mal na escola: quem acaba por responder é o pai. E eu sou o pai do filme.; Foi com essa pontual insatisfação, declarada ao Correio, que o diretor do filme mexicano A tiro de piedra, Sebastián Hiriart, assistiu à projeção de DVD do filme dele no Palácio dos Festivais, na nada concorrida sessão que marcou a segunda noite de competição dos filmes estrangeiros no 39; Festival de Cinema de Gramado. A cópia em 35mm do longa ; sobre o acidentado percurso de um mexicano, jovem pastor de cabras que segue o sonho americano ; foi enviada pelo distribuidor fora do prazo, fato que ocasionou uma projeção com duas marcas d;água.

;Independentemente de fatores técnicos e da fotografia, a essência é a mesma;, observou o estreante em longas. Feita com US$ 8 mil, ;dinheiro tirado do bolso;, a produção se valeu de equipe enxuta: três pessoas, que nem pediram permissão para filmar nos Estados Unidos, comiam e dormiam numa picape, no registro da jornada de Jacinto, o protagonista, único personagem feito por um ator (Gabino Rodriguez).

;Na cotidianidade, as pessoas se emocionam e cooperam. Isso é o mais bonito, independentemente de eu estar exibindo aqui, ter ganhado menção oficial dos jurados em San Sebastián ou participado de mais 37 festivais;, comenta o cineasta, que foi diretor de fotografia de longas como Roots time e Laberintos de la memoria. A antiga função, por sinal, será retomada no quarto longa a ser dirigido pela mãe, a cineasta Guita Schifter, com orçamento captado de US$ 5 milhões.

Aos 27 anos, Sebastián Hiriart, versado em comerciais e séries de tevê, parece condicionado à sétima arte. ;Não estudei para isso. Fui ator, ainda criança, e o cinema é um segundo lar no qual me sinto cômodo. É a minha maneira de estar em terapia, um modo de me liberar de todas as angústias da vida;, comenta. ;Cinema é simplesmente a minha vida. Minha maneira de me expressar e de ser. Não posso evitar. Se ganho prêmios ou se me torno um pária social, tudo vai bem.;

Há um mês exibido no México, A tiro de piedra, ;feito com muito amor e carinho, mas num espírito de guerrilha;, já atraiu 8 mil pagantes, num circuito exibidor alternativo. Filmado ;por força da coragem;, o longa fez mais do que do que abrir portas, como observou um amigo de Hiriart, uma vez que foi mostrado em cinco continentes. ;Me fez viajar por todo o mundo, e não esperava isso. Quando comecei, queria apenas fazer cinco minutos de bom cinema. Pretendia algo novo e interessante;, comenta.

Outro horizonte alargado derivou da música, pretendida simples, com tuba, trompete e trombone. ;Eu e dois amigos quebramos a cabeça por um ano. Queria que música e imagens convivessem, não que a música preenchesse as imagens. Com algo da sonoridade da música folclórica mexicana, criamos uma constante, que pode ser a do trem de partida ou a do coração do personagem;, explica.

Emoções à flor da pele estão entre os próximos projetos confirmados. Sebastián Hiriart já filmou La filosofia natural del amor (em pós-produção), com atores mexicanos como Emilio Echevarría (de Amores brutos) e Jorge Zárate (de El infierno, indicado para o prêmio Goya), na Cidade do México. ;São histórias de amor fortes e conflitantes, causadoras de angústias. Trato de um amor bizarro, animal. Não estamos acostumados a ver isso. É um filme quase pornográfico, no sentido emocional;, comenta. Para novembro, há a promessa da terceira incursão em longa. ;Será sobre um marinheiro;, conclui, com ar de mistério.

; Nós na tela
O curta-metragem Pérfida, de Ramon Navarro, único título do DF que participa da 39; edição do Festival de Gramado, será exibido hoje na mostra competitiva. A noite inclui uma homenagem à atriz Fernanda Montenegro, que receberá o Troféu Oscarito no Palácio dos Festivais, e a exibição do longa As hipermulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação