Diversão e Arte

Três perguntas para o antropólogo do Museu Nacional, Carlos Fausto

Ricardo Daehn - Enviado especial
postado em 11/08/2011 17:13
Antropólogo do Museu Nacional, Carlos Fausto ; um dos integrantes do trio formado para dirigir o longa As hiper mulheres ; conversou com o Correio sobre propostas do filme que foi selecionado para o 39; Festival de Cinema de Gramado e está a caminho do 44; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, como um dos concorrentes. Na fita, toda em torno da reconstrução de um secular ritual feminino de índias Kuikuro, o reflorescimento do processo de transmissão de conhecimentos orais e a efetiva criação audiovisual pelos moradores de aldeias são dados mais intensos.

De onde veio o título do filme?

No termo itão ku%u1EBDgü, pela ordem, estão os significados de mulher e de hiper que serve para designar os seres extraordinários (que geralmente já se tornaram espíritos). Itão ku%u1EBDgü, na língua arauaque (do Alto Xingu), se relaciona com o jamurikumalu (hiper mulher), expressão que designa o maior ritual feminino deles. A gente decidiu dar o título em função do nome da festa e do mito em questão.

Qual foi a gênese do filme, e de onde veio a vontade de posicionar as mulheres em primeiro plano?

Foi parte de um processo: nós somos os três diretores homens sempre no trabalho com essa comunidade. Não conseguimos incorporar as mulheres no processo de produção. Foi quando pensamos: vamos fazer um filme sobre música e canto decidimos sobre as cantoras ; embora o cacique, um dos personagens principais, seja um homem que ensina a filha a cantar. Foi uma decisão do tipo ;vamos criar um espaço para elas participarem do projeto;. Elas se engajaram de maneira muito forte.

Existe uma encenação no filme?

Com certeza. No documentário contemporâneo se borra a fronteira entre documentário e ficção, mas não optamos por isso. Naturalmente, na produção, os personagens e os cineastas associados ao projeto propunham encenações e faziam personagens de si mesmos. Digo, portanto, que nem tudo é verdade, mas tudo é verdadeiro. Tudo foi muito autêntico, não tivemos treinamento de atores, a maior parte do documentário segue a linha stricto sensu (em sentido restrito). A festa retratada no filme tem dono e convidados e é absolutamente tradicional. Desde o século IX, pelo menos, se emprega o sistema de convidar aldeias para festas.

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