Diversão e Arte

Coreografia do espetáculo Tão próximo é inspirada no contato entre pessoas

Nahima Maciel
postado em 12/08/2011 08:50

Depois de esgotar as possibilidades técnicas do movimento solo, o coreógrafo Henrique Rodovalho dá os primeiros passos em direção a uma curva que representa continuidade, mas também mudança de caminho. No espetáculo que o goiano traz a Brasília neste fim de semana, há mais interação entre os bailarinos do que qualquer um dos 21 já montados por Rodovalho para a Quasar Companhia de Dança. O grupo sobe ao palco da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, amanhã e domingo, para mostrar como a dança pode refletir sobre as relações humanas e ceder espaço ao coletivo em detrimento do individual.

Não há solos em Tão próximo. Rodovalho quis assim. ;Sempre parti muito do bailarino sozinho, mesmo que a coreografia tivesse duos, era sempre a partir do indivíduo. Nesse espetáculo, é como se ele abrisse mão da individualidade e entrasse num âmbito mais humano de proximidade física;, explica. Assim, os oito bailarinos (três homens e cinco mulheres) estão incumbidos de uma proximidade que vai além da pura técnica e pretende provocar no público sentimentos de identificação e cumplicidade. Durante anos, Rodovalho cuidou para moldar a companhia com um misto de excelência técnica e dramaticidade.

Muitos espetáculos da Quasar incorporaram elementos do teatro, embora a dança sempre fosse o objetivo maior. Mas técnica tem um limite e o coreógrafo começou a sentir o esgotamento. ;Às vezes, ficar só envolvido na questão técnica limita o processo. Acho que eu quis criar uma coisa mais humana e estabelecer relações mais fortes. Fica mais palpável para o público.;

Rodovalho enxerga o tema com infinitas perspectivas. O humano é assunto ilimitado. E falar de defeitos, sentimentos e qualidades abre possibilidades coreográficas que extrapolam a habilidade técnica. A ironia presente em praticamente todos os espetáculos da companhia ; já teve bailarina triturando notas de dança em um liquidificador ; continua em Tão próximo, que contou com patrocínio da Petrobras. O coreógrafo não abre mão de um clima eventualmente pontuado pelo humor. ;Gosto que as pessoas se envolvam de alguma maneira. O espetáculo tem ambientes cênicos mais densos, mas às vezes é engraçado, uma característica do meu trabalho.;

Os bailarinos também precisaram experimentar. Os movimentos se encadeiam por meio do contato e muitos duos envolvem peso e condução, o que obrigou sequências de tentativa e erro para manter os corpos em segurança. Uma das marcas de Rodovalho é adaptar os passos à constituição física de cada bailarino, um trabalho feito quase individualmente e que agora precisou encontrar novos contornos. ;No início, houve improvisações; depois, isso foi sendo trabalhado. Tem que ter um nível de proximidade muito grande. Antes não tínhamos coisas como um bailarino carregando o outro, por exemplo. Queria criar uma linha que não fosse interrompida, com um movimento que provoca o outro, com uma lógica de raciocínio.;

No chão, um tapete de pelúcia, único elemento cenográfico do espetáculo, ampara os bailarinos como sinal de conforto pressuposto pela humanização sugerida pelo coreógrafo.

; Sutilezas no palco

; A manta de pelúcia que reveste o palco ; solução cênica encontrada pelo coreógrafo ; revela objetos em determinados momentos. É uma espécie de ;pele;, que sugere sensações de conforto e envolvimento. Além da concepção do cenário, Henrique Rodovalho assina o desenho de luz do espetáculo ; a iluminação recorta o espaço, propondo ambientes focados, para que o público se sinta mais próximo da cena. Já o figurino, criado por Cássio Brasil, procura valorizar a pele exposta, em contraste com peças de látex preto. A trilha sonora, recheada de batidas eletrônicas, foi feita pelo alemão Hendrik Lorenzen para Tão próximo, que também conta com mixagens de músicas de Propellerheads e Naná Vasconcelos.

Tão próximo
Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional (Setor Cultural Norte, Via N2; 3325-6256). Ingressos:
R$ 40 e R$ 20 (meia).
Não recomendado para menores de 10 anos.

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