Nahima Maciel
postado em 14/08/2011 08:00
Há muitas formas de herdar a tradição pictórica e os artistas aqui estampados são prova da variedade e da liberdade conquistada nas primeiras décadas do século 20. Gherard Richter e Georg Baselitz carregam a experiência da guerra e do contexto político tenso de uma Alemanha Oriental comunista, enquanto James Rosenquist viveu o desbunde do movimento pop norte-americano. O colombiano Fernando Botero, com seus gordinhos dramáticos e uma pintura de exageros, é o estranho nesse conjunto que tem ainda o abstracionismo extremo do francês Pierre Soulages.CONCEITUAIS E REFERÊNCIAS
A raiz da arte conceitual está no dadaísmo e no nome de Marcel Duchamp, o sujeito impetuoso que decidiu colocar um mictório no meio da galeria e chamá-lo de objeto de arte. Foi na primeira metade do século 20, e dessa geração já não há mais ninguém vivo. No entanto, alguns nomes da geração seguinte continuam produzindo:
Richard Serra, EUA, 71 anos
; Serra é o homem da escultura minimalista e da ocupação dos espaços públicos. Boa parte do compromisso desse artista californiano é com a escala urbana, e suas esculturas gigantes se tornaram monumentos integrados à paisagem em várias cidades ao redor do mundo, incluindo Berlim, Paris, Londres e Bilbao.
Leon Ferrari, Argentina, 91 anos
; A investigação de Ferrari sempre esteve um passo adiante. Desde os anos 1960, o argentino se entrega à experimentação. Fez esculturas sonoras, arte postal e videotexto numa época em que esse tipo de investida era o que havia de mais vanguardista na arte conceitual. Contestação política e religiosa ; o artista já irritou muita gente com questionamentos cujo alvo era o cristianismo e as ditaduras latino-americanas ;, o trabalho de Ferrari também incluiu objetos e instalações.
Yoko Ono, Japão, 78 anos
; Yoko sempre esteve ligada à vanguarda artística, especialmente nos anos 1950, quando se mudou para Nova York e atuou em muitas performances ao lado dos integrantes do movimento Fluxus e do músico John Cage. A arte conceitual era a base de tudo e a artista circulava entre a experimentação plástica e musical, prática que exercita até hoje como nome importante da arte contemporânea.
James Rosenquist, EUA, 78 anos
; Rosenquist sempre foi encaixado como artista pop, embora nem sempre tenha se identificado de imediato com o movimento. Em algumas entrevistas, ele chegou a declarar que só conheceu Andy Warhol anos depois de começar a pintar. Mesmo assim, se apropria de imagens pop para criar narrativas de cores quentes e contextos explosivos. Nas obras mais recentes, ele explora a noção de tempo e de espaço e questiona sua própria presença no mundo.
Gherard Richter, Alemanha, 79 anos
; Richter soube reinventar a própria produção e a mostra em cartaz na Caixa Cultural, entre maio e junho deste ano, foi um exemplo da criatividade do artista. Para a historiadora Marília Panitz, Richter transita entre a arte conceitual e a tradição pictórica de tinta, tela e pincel. ;O pressuposto dele é conceitual, mas a matriz é a foto, a experiência pictórica;, explica. As primeiras pinturas de Richter se ancoravam na figuração, mas o artista sempre fez questão de avisar que não se prendia a estilos ou se filiava a movimentos. Ele investigou a abstração até chegar à fotografia, da qual se apropria para estreitar as fronteiras entre a pintura e a imagem captada da realidade.
Fernando Botero, Colômbia, 79 anos
; A produção de Botero é longeva, prolífica e sempre atual. Seja para falar da violência na terra natal ou para ironizar o poder, ou ainda simplesmente para exercer o bom humor, a obra de Botero se tornou popular e tem alcance internacional. Embora o artista seja frequentemente desprezado pela crítica contemporânea, é hoje um dos poucos sul-americanos ainda em atividade conhecido no mundo inteiro. ;Ele não é caricato, como dizem. É dramático. A pintura dele é toda calcada em anos e anos de estudo no Museu do Prado. É uma pintura de qualidade;, acredita o historiador Eduardo Carreira.
Pierre Soulages, França, 91 anos
; A investigação da cor negra e de suas possibilidades de luz é uma constante na obra de Soulages, dono de uma pintura abstrata que sempre destoou dos artistas com os quais conviveu. Durante uma época, a obra de Soulages esteve muito identificada com o tachismo, espécie de resposta europeia ao expressionismo abstrato norte-americano cuja origem estava na forma caligráfica. Nos anos 1970, Soulages passou a pesquisar a cor em pinturas gestuais com largas pinceladas verticais na tentativa de compreender como a luz emana ou é absorvida pelo negro.
Georg Baselitz, Alemanha, 73 anos
; Para fugir dos rótulos e dos movimentos artísticos dos anos 1960, Baselitz pintava seus quadros de cabeça para baixo. Figurativas e com forte traço gestual, as pinturas pretendiam refletir a preocupação com a distância entre os atos de pensar e ver. A tentativa acabou por definir um estilo e, muitas vezes, o artista foi acusado de oportunista por querer agradar ao mercado. Assim como Richter, Baselitz descende de uma geração formada no pós-guerra e parcialmente educada na Alemanha comunista, quando a única possibilidade de produzir arte com sucesso era aderir ao realismo socialista.