Diversão e Arte

Literatura de cordel ganha espaço em São Paulo com Festival

postado em 14/08/2011 15:51
São Paulo - Com a maior concentração no país de nordestinos fora da região de origem, a cidade de São Paulo terá este mês dois grandes movimentos culturais que tentam preservar uma das maiores tradições brasileiras: a literatura de cordel. Até o dia 6 de outubro, ocorre o 1; Festival de Cordel, no Centro de Tradições Nordestinas (CTN), com oficinas, saraus, cinema e palestras, além de um concurso para premiar os 20 melhores trabalhos.

No próximo dia 27, o Movimento Caravana do Cordel vai reunir especialistas para debater o tema no 1; Fórum do Cordel em São Paulo, no auditório da Ação Educativa, no bairro de Vila Buarque, na região central. Mais do que levar cultura e entretenimento, os coordenadores desses dois eventos querem que eles sirvam para chamar a atenção dos educadores sobre a importância do ensino desse gênero literário nas escolas de ensino fundamental e médio.

Ao pé da letra, cordel significa corda pequena. Seu uso para a classificação da literatura vem do costume, introduzido no Brasil pelos portugueses, de pendurar as cartilhas com os escritos em barbantes nos locais onde as obras eram colocadas à venda. Comumente impressos em papéis rústicos, os exemplares ganharam ilustrações em xilogravura entre o final do século 19 e o começo do século 20.

Curador do 1; Festival de Cordel de São Paulo, o jornalista e estudioso da cultura popular Assis Ângelo informou que a ideia de levar o tema para as salas de aula já se tornou realidade no Ceará e no Piauí, e, agora começa a se espalhar pelo estado do Pernambuco.

Ângelo lembra que, antes de chegar ao Brasil, o dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536) tornou-se uma referência do cordel. Entre os primeiros nomes de poetas brasileiros consta o do paraibano Leandro Gomes de Barros, que morreu em 1918. Ele inspirou Ariano Suassuna a escrever a peça O Auto da Compadecida. Além de ser publicada em livro, a obra foi para as telas do cinema e da televisão.

Segundo o especialista, a estrofe mais comum do cordel é a de seis versos, cada um deles com sete a 11 sílabas. As rimas não podem faltar. Para Ângelo, é preciso acabar com o preconceito que ainda existe em torno dessa tradição. ;Muitos pensam que é uma atividade de analfabetos quando ela inclui, por exemplo, pelo lado erudito, Castro Alves e, pelo lado popular, Patativa do Assaré, que se estivesse vivo estaria hoje com 102 anos;, observou ele.

Patativa do Assaré, nome popular do poeta cearense Antonio Gonçalves da Silva, é autor, entre outros, de poemas como Caboclo Roceiro e Triste Partida, cantada na voz de Luiz Gonzaga em gravação de 1964, e Vaca Estrela e Boi Fubá, musicada na voz de Raimundo Fagner, em 1980.

Já o poeta baiano Castro Alves tem entre os escritos mais famosos o Navio Negreiro, que aborda episódios do sofrimento dos povos africanos trazidos para serem escravizados no Brasil. Um dos trechos diz: ;Auriverde pendão de minha terra/Que a brisa do Brasil beija e balança/Estandarte que a luz do sol encerra/E as promessas divinas da esperança.../Tu que, da liberdade após a guerra/Foste hasteado dos heróis na lança/Antes te houvessem roto na batalha, que servires a um povo de mortalha!”

Outro poeta que em alguns momentos recorre a elementos do cordel é Gonçalves Dias. Em Canção do Exílio, ele exalta a riqueza da fauna e flora brasileira: ;Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabiá/ As aves que aqui gorjeiam/ Não gorjeiam como lá;.

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