Gramado (RS) ; Os organizadores do Festival de Gramado, que teve mais uma edição encerrada no sábado, sonham com o projeto de inserir o evento em um novo ciclo a partir do próximo ano. É o que anuncia Alemir Coletto, presidente do festival há seis anos. Mais uma vez viu a cidade gaúcha transpirar cinema, numa maratona de nove dias. Se, até há pouco, comemorou a inscrição de mais de 500 filmes para o certame, numa busca dos realizadores incrementada em mais de 40%, os planos para o evento de 2012 (este ano, orçado em R$ 3,5 milhões) já estão em curso. Da criação de uma Academia de Cinema de Gramado para estudos de ampliação da festa até a futura parceria com eventos como o Festival de Veneza e o Festival Internacional de Cinema de Los Angeles, o presidente da festa adianta que pretende ainda reformatar os festejos da sétima arte, fomentando negócios e abrindo parcerias para multiplicar as coproduções junto à cinematografia nacional. ;Nosso projeto é buscar produções com ineditismo e ser uma forte vitrine para o cinema, independentemente do fator atrelado a prêmio monetário;, conta.
Segundo Alemir, em seu novo ciclo, o Festival de Gramado se tornará o mais relevante evento do gênero na América Latina. Está em negociação uma parceria com os organizadores do Festival de Veneza, visando intensificar o intercâmbio de filmes, artistas e produtores: ;Temos como meta trazer os vitoriosos do festival italiano para cá. Da mesma forma, uma ponte com o Festival Internacional de Los Angeles está em construção. Buscamos o reconhecimento da crítica de cinema e do meio cinematográfico.;
Encontro de gerações
O encontro da experiência ; representada pela diretora Lúcia Murat ; com a renovação, impressa pelo estreante em ficção Gustavo Pizzi (de Riscado), foi celebrado nas premiações do 39; Festival de Cinema de Gramado. ;Foi a possibilidade democrática que permitiu esse filme de ser feito. Poder apresentar Uma longa viagem, dizer que foi torturada ; dizer as coisas, com a sinceridade que a gente pode, é maravilhoso. Os arquivos dos anos 1970 podem ser abertos; eles devem ser abertos;, defendeu Murat, que teve o docudrama considerado o melhor filme, pelo júri.
O longa, baseado nas relações da família Murat com a ditadura e no desbunde do irmão da cineasta, quando em contato com drogas e exílio, ainda rendeu ao ator Caio Blat um Kikito, pelo segundo ano consecutivo. ;Foi um prazer me tornar irmão da Lúcia por alguns dias. O Heitor (personagem interpretado nos segmentos encenados da fita) é uma figura que passou por experiências fortes, radicais e que experimentou demais. Um personagem síntese dos anos 1970, criado numa família ligada nas mudanças políticas e culturais de uma década;, observou o ator.
Premiado ainda pelo júri popular, Uma longa viagem dividiu láureas com Riscado, projeto do casal Gustavo Pizzi (melhor diretor) e Karine Telles (melhor atriz), que assinou o roteiro vencedor do Kikito. ;Achei mais fácil e honesto falar de mim, uma vez que sou cria do teatro. Espero que o reconhecimento me traga trabalho, que é o desejo da personagem e o meu também. Quero me sustentar com a profissão que eu escolhi;, comentou Karine Telles. ;Quando você bota a câmera na frente de alguém, a pessoa representa, independentemente de ser documentário ou ficção. Acredito em níveis de representação. É muito ousado o festival ter este entendimento;, avaliou o diretor Gustavo Pizzi, à frente da fita destacada ainda com o Prêmio da crítica.
O limite tênue levou a organização da festa ao entendimento de que protagonistas do documentário As hipermulheres (de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro) concorriam às premiações de interpretação. Mas o filme, selecionado para o próximo 44; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, faturou reconhecimento de melhor montagem (para o pernambucano Leonardo Sette) e foi brindado com o Prêmio especial do júri.
39; Festival de Cinema de Gramado
Premiação para filmes nacionais (longa-metragem)
Melhor filme: Uma longa viagem (de Lucia Murat)
Melhor diretor: Gustavo Pizzi (Riscado)
Melhor ator: Caio Blat (Uma longa viagem)
Melhor atriz: Karine Telles (Riscado)
Melhor roteiro: Gustavo Pizzi e Karina Telles (Riscado)
Melhor fotografia: Roberto Henkin (O carteiro)
Melhor montagem: Leonardo Sette (As hipermulheres)
Prêmio especial do Júri: As hipermulheres
Premiações para filmes nacionais (curta-metragem)
Melhor filme: Céu, inferno e outras partes do corpo (de Rodrigo John)
Melhor diretor: Natara Ney (Um outro ensaio)
Melhor ator: José Wilker (A melhor idade)
Melhor atriz: Dira Paes (Ribeirinhos do asfalto)
Melhor roteiro: Céu, inferno e outras partes do corpo (Rodrigo John)
Melhor fotografia: Polaroid Circus (Jaques Dequeker)
Melhor montagem: Um outro ensaio (Mair Tavares e Tina Saphira)
Prêmio especial do júri: Rivelino (Marcos Fábio Katudjian)
Premiação para filmes estrangeiros (longa-metragem)
Melhor filme: Medianeiras ; Buenos Aires na era do amor virtual (Gustavo Taretto)
Melhor diretor: Gustavo Taretto (Medianeiras ; Buenos Aires na era do amor virtual) e Sebastián Hiriart (A tiro de piedra)
Melhor ator: Gabino Rodríguez (A tiro de piedra)
Melhor atriz: Margarida Rosa de Fransciso (García)
Melhor roteiro: Sebastián Hiriart (A tiro de piedra)
Melhor fotografia: Serguei Saldivar Tanaka (La lección de pintura)
Prêmio especial do júri: Las malas intenciones (de Rosário Garcia-Montero)
Prêmio da crítica
Curta-metragem: Céu, inferno e outras partes do corpo (de Rodrigo John)
Longa-metragem estrangeiro: Jean Gentil (de Laura Gusmán e Israel Cárdenas)
Longa-metragem brasileiro: Riscado (de Gustavo Pizzi)
Prêmio do júri popular
Curta-metragem: Um outro ensaio (de Natara Ney)
Longa-metragem estrangeiro: Medianeiras ; Buenos Aires na era do amor virtual
(de Gustavo Taretto)
Longa-metragem brasileiro: Uma longa viagem (de Lúcia Murat)