Os metais e um seco som de pratos explodem em rápida sequência antes da introdução suave dos violinos pontuada por intervenções de sopros, trompas e trompetes. O início da Sinfonia n; 3 de Gustav Mahler (foto abaixo) é um anúncio do mistério embutido na ideia de criação. A peça em seis movimentos é complexa e longa. Dura 90 minutos e está entre as mais extensas do compositor austríaco, mas o maestro Claudio Cohen quis incluí-la na abertura da temporada do segundo semestre da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro para dar continuidade à celebração do centenário do nascimento de Mahler. No primeiro semestre, a orquestra fez a quarta e a décima sinfonias. Até o fim do ano, além da terceira, programada para hoje, faz também a quinta e a segunda. ;Estamos fazendo só as obras mais pesadas, que exigem um staff orquestral mais pesado. Mahler era um dos principais regentes da época e colocava todos os conceitos de composição e regência na obra;, explica Cohen.
O maestro precisou contratar 30 músicos para completar o corpo orquestral exigido pela peça. Durante o quarto e o quinto movimentos, um coro canta versos escritos pelo filósofo Friedrich Nietzsche em Assim falou Zaratustra. Cohen aproveitou 30 vozes femininas do coro do Festival de Ópera e acrescentou 30 vozes infantis para dar conta da peça. ;São mais ou menos 160 pessoas no palco;, avisa. O solo fica a cargo da soprano Janete Dornellas, que canta Mahler pela primeira vez. ;Vocalmente é uma textura confortável. O problema é a densidade dramática, porque a poesia é muito forte e exige mais interpretação;, diz a cantora.
Mahler escreveu explicações para cada uma de suas sinfonias corais. Nesta terceira, ele queria tratar do mistério da criação da vida. Os primeiros movimentos evocam os seres inanimados, como as flores do campo e a natureza. A partir do terceiro movimento, o compositor introduz os animais, seguidos dos homens e dos anjos. Mas o mistério maior ele deixa para o sexto e último movimento, uma ode ao amor embalada pelos violinos.
Repertório
Além de Mahler, a programação do segundo semestre está equilibrada entre a tradição ; há Beethoven, Tchaikovsky e Liszt ; e o contemporâneo. Dessa turma, Cohen quer dar especial destaque para nomes brasileiros e incluiu no repertório Edmundo Villani-Côrtes e Edgard Felipe. ;A gente está valorizando a música nacional. Côrtes é um dos principais compositores brasileiros da atualidade e o Edgard Felipe é um jovem de Brasília, muito sério e muito bom. É um espaço que a gente abre para os novos, para as pessoas conhecerem novas linguagens.;
A lista de convidados também inclui maestros e solistas brasileiros e estrangeiros. Na próxima semana o pianista Arnaldo Cohen faz uma apresentação inteiramente dedicada a Franz Liszt, com os dois concertos para piano do compositor húngaro. Ainda este mês, o violinista russo Ilya Gringolts, que conquistou a Europa depois de vencer o concurso Paganini em 1998, toca com a orquestra o Concerto para violino de Brahms, e, em setembro, seu conterrâneo Peter Laul faz o Concerto para piano n; 2, de Serguei Rachmaninoff. Entre os maestros convidados ao longo da temporada estão nomes como o do canadense Daniel Lipton, do uruguaio Roberto Montenegro e dos brasileiros Helder Trefzeger, Guilherme Mannis e Marcelo de Jesus.
CONCERTO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DO TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO (OSTNCS)
Regência: Claudio Cohen. Hoje, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entrada franca mediante retirada de ingressos na bilheteria.
Assista apresentação da Orquestra Sinbfônica no Teatro Nacional: