Heitor Villa-Lobos escreveu a Bachianas brasileiras n; 1 para oito violoncelos. O violonista e luthier Sérgio Abreu adaptou a peça para quarteto de violões. Aproveitou para criar um arranjo curioso. Em alguns momentos, é possível reconhecer no conjunto trechos de alguns clássicos da música popular brasileira. O Quaternaglia gostou do resultado. E muito. Formado por Sidney Molina, Thiago Abdalla, Fabio Ramazzina e Chrystian Dozza, o quarteto gravou a peça em Estampas, CD que apresenta ao público hoje durante na Sala Martins Pena do Teatro Nacional. ;Essa obra é muito especial. Há muito tempo, a gente tinha vontade de trabalhar com o Sérgio;, avisa Molina.
Sérgio Abreu há anos fabrica os violões usados pelo Quaternaglia. ;A gente queria tê-lo mais próximo, em um projeto do disco;, explica Molina. Há dois anos, durante uma turnê, os músicos aproveitaram para gravar o disco. O processo durou apenas dois dias e o repertório incluiu, além do arranjo de Abreu para as Bachianas, obras de Alberto Ginastera, Federico Moreno Torroba, Leo Brouwer e Sérgio Assad. O acabamento, no entanto, consumiu dois anos de trabalho do grupo. ;O repertório é basicamente de música latina;, avisa Molina, um dos idealizadores do quarteto fundado há mais de duas décadas.
As sete Estampas do espanhol Torroba que dão nome ao disco são peças clássicas do repertório. O compositor foi um dos primeiros a pensar obras escritas exclusivamente para violão, nas primeiras décadas do século 20. Já o cubano Leo Brouwer colabora com frequência com o Quaternaglia, assim como o brasileiro Sérgio Assad. Durante o recital de hoje, o grupo apresenta o repertório do disco acrescido de composições de Egberto Gismonti e Paulo Bellinati com uma peça dedicada ao quarteto.
Repertório
O repertório vem principalmente do século 20, já que não se escrevia para violão antes, mas o Quaternaglia não se intimida com a modernidade do instrumento e costuma incluir transcrições de música antiga. ;Em Brasília, vamos fazer duas peças do repertório inglês antigo, mas o que tem dado mais vida para nosso trabalho é o fato de que muitos compositores atuais têm dedicado obras para o quarteto e é nossa missão mostrar como esses compositores pensam o violão;, garante Molina.
Para ele, a incursão do instrumento no mundo antigo é uma forma de ensinar música a um público nem sempre receptivo ao universo erudito. ;O violão é um grande canal para juntar as duas linguagens, o erudito e o popular. Nossa formação vem do clássico, mas o violão está enraizado na música popular e, de certa forma, as pessoas que não têm hábito de ouvir música clássica acabam se aproximando. O violão cumpre um papel didático.;
ESTAMPAS
Recital do quarteto de violões Quaternaglia. Hoje, às 19h30, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional Claudio Santoro. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Ouça trecho do disco Estampas: