Para completar um passeio completo pela exposição Séculos indígenas é preciso percorrer 110 metros de extensão. É o tamanho da cobra feita com bambus trançados que ocupa os corredores em espiral do Memorial dos Povos Indígenas desde 9 de agosto. A sensação é a de entrar num túnel histórico com passagens pela cultura indígena brasileira. O projeto da enorme serpente foi feito por arquitetos especializados em bioestruturas e executado por quase 30 profissionais, incluindo artistas plásticos e designers. Todo o processo foi supervisionado por representantes das tribos e levou apenas três semanas para ficar pronto. ;Em algumas etnias existe o mito da cobra gigante, que veio do outro lado do mundo e aportou no Brasil. É uma história sobre a chegada dos europeus;, registra Rosane Kaigang, funcionária da fundação que dá nome à exposição, da etnia kaigang.
Na cabeça da cobra estão expostas peças de artesanato procedentes do acervo do próprio Memorial, da Fundação Darcy Ribeiro e do projeto Séculos Indígenas do Brasil. Além de fotografias mostrando o trabalho de indigenistas, como os irmãos Villas-Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro, estão expostas fotos de Paulo Metz, João Ripper e Piotr Jaxa. No meio do passeio, um tronco simboliza o ritual do Quarup (em homenagem aos mortos e realizado anualmente pelas comunidades do Parque do Xingu, no Mato Grosso). Caixas de som emitem vozes de líderes indígenas que foram assassinados. O visitante pode se sentar no centro e meditar.
Um passo adiante, dentro de um oca de palha trançada e apelidada carinhosamente de coco, é exibido de forma intermitente um vídeo que mistura animação e documentário, baseado no romance Maíra (1976), de Darcy Ribeiro. ;A história conta o mito de criação do mundo. É uma maneira de mostrar a nossa cosmovisão para os outros povos;, acredita Rosane. O quadro de 15 monitores trabalhando na exposição é composto por indígenas e não indígenas. São representantes das etnias patamona, tukano, kamayurá, tupiniquim, dessana, apurinã, mudoruku, baré e aticum..
Samantha Ro;otsitsina Juruna, 25 anos, filha do falecido líder xavante e deputado federal Mário Juruna, é aluna do mestrado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e está trabalhando como uma das mediadoras da exposição. ;Eu conheci muita coisa de outras etnias. Acho que é justamente esta a função da mostra: mudar a visão das pessoas em relação aos indígenas;, explica. Para trabalharem na exposição, os monitores fizeram cursos e visitas a museus e centros culturais, como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), de Brasília.
A partir de setembro, a segunda fase da mostra contará com visitas agendadas de escolas do Distrito Federal. Para que a relação com os alunos em sala de aula com as etnias indígenas fosse modificada, professores da Secretaria de Educação fizeram cursos desde o ano passado. A exposição fica em cartaz até 10 de outubro no Memorial dos Povos Indígenas. Existem propostas de itinerância em instituições do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Séculos indígenas no Brasil
Até 10 de outubro no Memorial dos Povos Indígenas (Eixo
Monumental, em frente ao Memorial JK; 3342-1157).
Exposição multimídia que valoriza a cultura indígena.
Visitação de segunda a sexta, das 9h às 18h; sábado, domingo e feriados, das 10h às 18h.