Diversão e Arte

Mostra apresenta produção audiovisual das periferias de São Paulo e do DF

postado em 24/08/2011 08:39

O diretor Adirely Queirós e o rapper Japa durante as filmagens do documentário Rap, o canto da Ceilândia
Um traço em comum une as periferias do Distrito Federal e de São Paulo, a maior cidade da América Latina. Diferentemente do que a maioria pensa, não são a miséria, a exclusão e a violência que fazem com que moradores de regiões tão distintas se reconheçam. ;A maneira como os artistas daqui e daí se organizam é muito parecida. Os coletivos são a forma possível de viabilizar projetos;, analisa, de São Paulo, Luiz Nunes, um dos curadores da mostra de documentários do ciclo Radiografia Cultural, que apresenta, a partir de hoje, títulos produzidos no DF e em Sampa no Centro Cultural Banco do Brasil e na UnB. Hoje, a partir das 20h45, serão exibidos dois curtas-metragens dirigidos por mulheres, O chiclete e a rosa, de Dácia Ibiapina, e Afrobrasiliense, de Jaqueline Fernandes, no auditório do CCBB.

As ideologias, as filosofias e os muitos personagens da periferia são apresentados numa seleção de 10 documentários produzidos em Brasília e em São Paulo. A periferia como espaço de reflexão sobre si mesma está na seleção de curtas e longas. Algo diferente da representação feita desses espaços no cinema brasileiro há alguns anos, quando diretores de classe média dirigiam o olhar de estrangeiro para os locais mais pobres e afastados das grandes cidades. Foi preciso a chegada dos anos 2000 e a popularização da tecnologia digital (bem mais barata) para democratizar os meios de produção audiovisual. Alguns dos habitantes marginalizados das grandes cidades deixaram de ser as vítimas das representações para virarem senhores das suas imagens.

A geração de cineastas periféricos é cria do digital. ;Eu acho que eles estão tirando proveito disso. Começaram a produzir com essa linguagem e trabalham mais facilmente com ela. Eles têm mais traquejo também, mais jogo de cintura para produzir, no sentido de viabilizar coisas a baixo custo;, explica Nunes. ;A maioria dos filmes mostra como a arte, o cinema e a literatura trabalham para mudar a realidade. Eles também têm um gosto pelo documental e uma estética ligada ao realismo;, acredita o curador.

Glauber e a estética
Faz 30 anos que o cinema brasileiro perdeu um de seus maiores defensores. Dizer isso sobre Glauber Rocha ainda é pouco. O artista baiano nascido em 1939, em Vitória da Conquista, fez da linguagem cinematográfica uma arma política. Elevou o cinema latino-americano ao status de vanguarda. Rocha não era só um artista. Fez de seus escritos e reflexões objetos de estudo teórico internacional. A figura do cineasta vociferando palavras rápidas, a atitude combativa e a incansável vontade de se expressar serviram como símbolo de uma geração que lutou contra os totalitarismos. Morreu precocemente, aos 42 anos, em 1981. Houve um cinema brasileiro antes e outro depois de Glauber. Isso explica parte do fascínio que colegas ainda hoje devotam ao criador. Programações dedicadas ao realizador pipocaram no Brasil em 2011. Uma delas é a retrospectiva Da fome ao sonho, atualmente ocorrendo na UnB e no Ponto de Cultura Avessa, em Ceilândia. São oficinas debates e exibição dos principais filmes do cineasta baiano. Hoje, às 18h30, será exibido Terra em transe, em Ceilândia. Mais tarde, às 20h40, haverá a mesa-redonda Produção de Cinema e Descentralização com Fernando Paulino e Marcio Moraes. No Memorial Darcy Ribeiro (UnB), às 18h30 haverá a sessão História do Brasil. E às 20h40, a exibição de O dragão da maldade contra o santo guerreiro.Mais informações estão sendo postadas diariamente no blog
http://www.dafomeaosonho.com.br/.


ALGUNS FILMES DA MOSTRA O CHICLETE E A ROSA
Construído por meio de entrevistas, o documentário dirigido por Dácia Ibiapina discute a invisibilidade social de crianças e adolescentes em bares do Plano Piloto. Da fala dos personagens abre-se um abismo intransponível entre as classes sociais da capital.

PANORAMA ARTE NA PERIFERIA
O título já diz sobre o que trata este documentário paulistano de 2006, dirigido por Peu Pereira. A intenção é traçar um panorama da arte periférica na capital de São Paulo. Montado a partir de depoimentos de Sérgio Vaz, Ferréz, Gaspar e Guaidi.


JARDIM ÂNGELA
As câmeras do documentarista Evaldo Mocarzel mostram o cotidiano do Jardim Ângela. O bairro da periferia de São Paulo carregou por muitos anos o status de região mais violenta da capital paulista. O Ângela é dissecado pelos depoimentos de moradores que nunca se envolveram em crimes.


AFROBRASILIENSES
Em meio as comemorações do cinquentenário de Brasília, uma análise sobre a condição dos negros na cidade construída para ser a capital de todos os brasileiros.


ROCK CEILÂNDIA ; PERIFÉRICO E COLETIVO
No documentário Rap, o canto da Ceilândia, de Adirely Queirós, que também faz parte da programação, a cidade de Ceilândia é apresentada pelo ponto de vista dos artistas hip-hop. Neste filme, dirigido por Gil Pedro, outro aspecto da cidade, o amor ao rock, é o tema.

DA FOME AO SONHO ; RETROSPECTIVA GLAUBER ROCHA
Exibições de filmes e debates relembram a trajetória do cineasta baiano Glauber Rocha no Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo, UnB; 3107-3300). Confira a programação completa e as classificações indicativas no roteiro do Diversão & Arte. Entrada franca.


MOSTRA DE DOCUMENTÁRIOS RADIOGRAFIA CULTURAL
De hoje a 28 de agosto, sessões às 20h45, no auditório do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22; 3310-7087). De 29 a 31 de agosto, no Auditório da Faculdade de Comunicação da UnB. Em 1; e 2 de setembro, no auditório do câmpus da UnB de Planaltina. Não recomendado para menores de 12 anos. Entrada franca.

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