Os fãs mais fervorosos não precisam esquentar a cabeça: Planeta dos macacos: A origem, que desembarca nos cinemas brasileiros amanhã, não é um remake do filme de 1968, adaptado do livro do francês Pierre Boulle, nem ousa tomar liberdades com o material de origem, como fez Tim Burton em 2001, numa releitura que foi bem de bilheteria, mas desagradou muita gente. O inglês Rupert Wyatt, 38 anos, rodou o que lá fora é chamado de reboot: uma renovação que começa tudo de novo e que pode inaugurar outra franquia. Os macacos opressores guerrearam contra os humanos em cinco filmes (de 1968 a 1973, disponíveis em DVD), na tevê (em seriado e desenho) e até nos quadrinhos, em várias versões (até a Marvel entrou na onda, entre 1974 e 1977). No lançamento, eles representam um elo desigual na relação com os homens: são meras cobaias de pesquisas científicas. A vingança é colhida em proporções revolucionárias.
James Franco, mestre de cerimônia da última (e criticada) edição do Oscar ao lado de Anne Hathaway, vive Will Rodman, um pesquisador de San Francisco que experimenta soluções para a cura do mal de Alzheimer. Nos testes, ele aplica compostos geneticamente modificados em chimpanzés. Os resultados são impressionantes: símios mutantes, quase tão inteligentes e habilidosos quanto os humanos. César (sugerido pelas feições de Andy Serkis), herdeiro de uma das cobaias e criado pela família de Will, inicia o levante que mudará o planeta drasticamente.
A maquiagem cuidadosa das produções antigas saiu de cena e cedeu espaço para os efeitos computadorizados. Mas os macacos ; César incluído ;, cujos movimentos e gestos são capturados do ator inglês Andy Serkis, convencem. Responsável pela aparência de Gollum, de O senhor dos anéis, e do último King Kong, também do diretor neozelandês Peter Jackson, Serkis defende a qualidade da performance capturada digitalmente. ;Deveriam reconhecer que o processo tem duas partes. Primeiro, capturam a atuação. Bem depois é que você começa a ver os personagens pintados quadro a quadro, preenchidos de pixels (a menor partícula da imagem digital);, explicou ao portal da revista americana The Hollywood Reporter.
Ferramenta
Ele observa que ainda há muita resistência dos colegas. ;Acham que os atores serão substituídos por computadores. Mas eu acho que é uma ferramenta maravilhosa e libertadora. Desde Avatar, de James Cameron, há um conhecimento maior, porque ele foi além e disse que era maquiagem digital e, basicamente, eram atores reais;, explicou ao jornal inglês The Telegraph. Serkis, 47 anos, disse que o macaco César foi um papel complexo e sutil. ;O desafio foi fornecer a ele características humanas, sabendo que estava preso a uma forma padronizada, fácil de reconhecer;, acrescentou.
As expressões de Andy Serkis poderão ser vistas na animação As aventuras de Tintim: O segredo do Licorne (20 de janeiro de 2012), de Steven Spielberg, na pele do capitão Haddock, e, claro, como o perturbado Gollum nas duas partes de O hobbit (14 de dezembro do ano que vem e 13 de dezembro de 2013), chefiadas por Jackson. O neozelandês também o contratou para ser diretor de segunda unidade, cargo que cuida de cenas menos importantes, que não envolvem o elenco principal. Com algum exagero, Wyatt chegou a eleger Serkis como o ;Charlie Chaplin da nossa geração;. A comparação é discutível. Mas ele é o homem que transformou o macaco novamente em estrela de Hollywood.
A saga
O planeta dos macacos (1968) - ****
Dirigido por Franklin J. Schaffner (de Patton e Papillon), ganhou prêmio honorário no Oscar, em 1969, pelo trabalho de maquiagem de John Chambers. George Taylor (Charlton Heston) e tripulação viajam pelo espaço e acordam da hibernação no ano de 3978, num planeta aparentemente desconhecido. Encaram um mundo severo, onde macacos reinam sobre os homens. Visto décadas depois, não parece tão brilhante como obras-primas da ficção científica da época (como 2001 ; Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick), mas ainda é uma especulação ao mesmo tempo divertida e pessimista do futuro da humanidade.
De volta ao planeta dos macacos (1970) - **
Encabeçado por Ted Post (de Magnum 44), começa logo após o fim do original: o astronauta Taylor (Heston) e a ancestral Nova (Linda Harrison), muda como os seres humanos dominados pelos símios, cavalgam rumo à Zona Proibida. Taylor desaparece. Brent (James Franciscus) chega em missão de resgate e depara com estranhos eventos: encontra, vivendo sob as ruínas de Nova York, homens super desenvolvidos, telepatas e adoradores de uma dourada e brilhante bomba nuclear, instrumento divino. Um novo e bizarro apocalipse.
A fuga do planeta dos macacos (1971) - ***
Os chimpanzés cientistas Cornelius (Roddy McDowall), Zira (Kim Hunter) e Milo (Sal Mineo) escapam do colapso atômico com a nave de Taylor, devidamente reparada. A viagem os leva para o ano de 1973, em que seus pares ainda são subjugados pelos homens. Mais cru e sangrento que o anterior ; com referências mais contundentes a racismo e direitos civis ;, o capítulo filmado por Don Taylor dá pistas sobre a inversão de papéis que colocaria homens abaixo de macacos.
A conquista do planeta dos macacos (1972) - **
É tempo de revolta. Os macacos, relegados à condição de animais de estimação após a extinção de cães e gatos, decidem se rebelar. Liderados por César (McDowall, de novo), filho de Cornelius e Zira, eles aderem às armas e lutam por um recomeço. Continuação supérflua de uma série que já andava desgastada.
A batalha do planeta dos macacos (1973) - **
Com J. Lee Thompson na cadeira de diretor pela segunda vez consecutiva, os macacos querem coexistir pacificamente com os humanos. Apesar da boa vontade de César, a sede de poder desperta ganância das duas raças: de um lado, uma facção humana, e de outro, o general Aldo (Claude Akins), um gorila que insiste na supremacia dos ex-escravos. Um desastroso e gratuito desfecho.
Planeta dos macacos (2001) - **
Sem muito sucesso, o cultuado Tim Burton tentou rejuvenescer o filme de 1968 com visual mais sombrio e desvios da história tradicional. O astronauta Leo Davidson (Mark Wahlberg) cai num planeta opressor e recebe ajuda da chimpanzé Ari (Helena Bonham Carter). A tensão sexual entre os dois não esconde as fraturas de uma refilmagem atrapalhada e confusa.
Na telinha
Planeta dos macacos (1974)
A série teve vida curta. Os 14 episódios revivem o primeiro
filme e as sequências estreladas por McDowall, que emprestou seu rosto para Cornelius e César. Ainda não foi lançada oficialmente em DVD no Brasil.
De volta ao planeta dos macacos (1975/1976)
No desenho, a sociedade símia primitiva dá lugar a uma civilização avançada, semelhante à humana, com automóveis, televisões e ruas pavimentadas. Também durou pouco (13 episódios) e ainda não chegou às lojas e locadoras nacionais.
Veja o trailer do filme Planeta dos macacos: