Diversão e Arte

Cena Contemporânea movimenta a cidade com espetáculos teatrais

Nahima Maciel
postado em 29/08/2011 08:34


Em cartaz há uma semana em variados teatros da cidade, o Festival Cena Contemporânea se firma cada vez mais como um catalisador do teatro na cidade. Se em tempos normais de temporada teatral, os artistas locais amargam público incerto, durante estes 14 dias de folia cênica, se apresentam para uma plateia farta. Na porta de teatros que exibem atrações internacionais, a disputa é ainda maior. Há cambistas e espectadores esperando na entrada das salas de espetáculo, em busca de poltronas vagas. Até o momento, cerca de 10 mil espectadores já viram algumas das atrações programadas. Até o próximo domingo, quando o festival se encerra, na Praça do Museu Nacional da República, serão exibidas mais 40 sessões da maratona teatral.

A vez do teatro de rua no festival de teatro: integrantes da Cia. Hierofante surpreenderam a plateia com o espetáculo Bacantes e brincantes na Praça do Museu Nacional da República

Um dos destaques dos últimos dias foi a montagem espanhola Las tribulaciones de Virginia, dos Hermanos Oligor. O espetáculo nonsense começa ainda na entrada, quando o ator abre o pequeno circo onde se desvenda a apresentação, que mais parece uma fábula encenada dentro de uma loja de brinquedos antigos. Durante três anos, eles recolheram cacarecos e engenhocas e, encerrados em um sótão, criaram mecanismos cheios de luzes, roldanas e fios.

A história de amor (e desamor) entre Valentin e Virgínia é contada com todos os requintes de teatralidade: a narração é acompanhada por painéis que piscam, personagens (bonecos em miniatura) que surgem no cenário fazendo tirolesa, um trenzinho de brinquedo que circula no meio da plateia. Emocionada com a proposta intimista, que mistura ficção e realidade, a arquiteta Jane Jucá, 55 anos, não poupou elogios à montagem. ;Foi um sonho, pra lá de inusitado. Nunca esperei ver nada dessa forma, totalmente fora do meu referencial. Muito lindo;, destacou.

Outra produção que mobilizou interesses e já se despediu dos palcos da cidade foi a produção Amarillo, do grupo de teatro mexicano Línea de Sombra. De forma multifacetada, misturando linguagens sem poluir o espetáculo, os atores dão nome e biografia aos milhares de conterrâneos que tentam cruzar a fronteira com os Estados Unidos. Estudante de artes cênicas, Bárbara Ramalho, 19 anos, aprovou a linguagem visual do espetáculo. ;Eles misturam várias informações e as cenas acontecem simultaneamente, no vídeo e no palco. A sonoplastia, feita com a boca por um dos atores, também é um dos pontos fortes. Como me sentei na primeira fila, aquela quantidade de areia realmente me transportou. Senti o cheiro do deserto;, afirma.

Da Grécia para a rua:

No início da noite de sábado, seis atores da Hierofante Cia. de Teatro tomaram parte do pátio do Museu Nacional para apresentar Bacantes e brincantes. A versão brasiliense para a história de Dionísio e seu reino da alegria tem a cara do cerrado. Na proposta do Hierofante, o território de ação do deus grego é Ceilândia e o texto de José Mapurunga promove uma mistura de referências que vão de Ricardão e Chacrinha à Feira do Rolo e cultura nordestina.

Isabela e Renan: os amigos vieram de Cuiabá acompanhar o CenaPara os amigos Renan Ventura, 24 anos, e Isabela Nunes, 27, a apresentação era exatamente o que esperavam do grupo. ;Gostei, primeiro, porque é ao ar livre e depois porque tem uma crítica social bem legal;, diz Isabela. ;E relata bem essa história do pessoal que vem para cá buscar emprego e encontra outra coisa;, completa Renan. Os amigos vieram de Cuiabá especialmente para acompanhar o Cena Contemporânea, mas tiveram dificuldade em encontrar ingressos para algumas atrações. ;Tem uma coisa que não entendo direito. Sei que os ingressos são baratos, mas tem patrocínio de banco, lei de incentivo e do governo federal. Por que ainda tem um custo para o público?;, questiona Isabela.

O estudante de engenharia Samuel Guedes, 22, também reclamou dos ingressos esgotados. ;Acompanho o Cena desde 2007 e todo ano é isso: não conseguimos comprar os ingressos, ficamos horas na fila e tudo esgota muito rápido.; Guedes conhecia a história das Bacantes e de Dionísio, mas o formato apresentado pelo Hierofante foi uma surpresa. ;Não conhecia nada de teatro de rua. Sou bem burguês nesse ponto. O tom folclórico me lembrou do clima do cordel.;

O que vem por aí:

Propaganda
Hoje e amanhã, às 19h30, no Teatro Funarte Plínio Marcos (Eixo Monumental -
3223-2025). Ingressos
a R$ 16 e R$ 8 (meia).
Não recomendado para menores de 18 anos.
A trupe australiana Acrobat tem uma história incomum no universo artístico: formada pelo casal Simon Yates e Joan Lancaster, e pelos dois filhos de casal, a companhia familiar cultiva um estilo de vida saudável. Não possui carro, viaja pequenos trechos de bicicleta, se alimenta bem e segue firme no propósito de deixar ;poucas pegadas; no planeta. Esse comportamento acabou se transformando em um espetáculo, em que malabarismo, trapézio, ciclismo e funambulismo (caminhada sobre corda) são as ferramentas para dividir suas crenças com a plateia. ;Nós acreditamos nesses princípios, mas, ao mesmo tempo, rimos de tudo isso;, descreve Yates.

Camponesa (Ópera dos vivos)
Amanhã e quarta-feira, às 20h, no Teatro Garagem (913 Sul- 3445-4400). Ingressos a R$ 16 e R$ 8 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.
Desde o início do festival, a montagem da Cia. do Latão (SP) figura entre as mais procuradas pelo público. Considerado um dos projetos mais ambiciosos da companhia pela crítica especializada, a peça, em quatro atos, traça um panorama da cultura brasileira nos anos 1960 e revela o forte teor político de suas produções. Cada ato aborda um aspecto diferente: o primeiro, Sociedade mortuária, acompanha dificuldade que algumas mulheres do interior sofreram para enterrar seus maridos. Tempo morto, o ato seguinte, tem forte influência do cinema de Glauber Rocha, e conta a história de um banqueiro envolvido em movimentos sociais. Privilégio dos mortos, o penúltimo quadro, traz um show com pitadas de tropicalismo. O encerramento fica por conta de Morrer de pé, uma sátira à atual produção televisiva. A direção é de Sérgio
de Carvalho.

A Despedida
De hoje a quarta-feira, às 19h, no Espaço Cultural Mosaico (SCRN 714/715, Bloco D, loja16 ; 3032-1330). Ingressos a R$ 16 e R$ 8 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.
Depois de uma temporada há cerca de um ano, no Espaço Cena, a peça A despedida volta aos palcos na programação do festival. Baseada em passagens reais da vida da princesa Isabel e de sua irmã, Leopoldina, a montagem recria de forma ficcional as angústias enfrentadas por mulheres da contemporaneidade. ;Colocamos a crise da mulher moderna no trabalho, no casamento, na maternidade, a partir da relação das duas;, descreve Juana Miranda, produtora e idealizadora do projeto, ao lado de Hanna Reistch. A pesquisa percorreu documentos históricos e cartas trocadas pelas irmãs. No palco, a trilha sonora, com forte influência africana, é executada
ao vivo.

Programação completa:

SEGUNDA, 29 DE AGOSTO
16h e 21h ; Ultrapassa (DF) ; Sala Martins Penna do Teatro Nacional
19h ; A Despedida (DF) ; Espaço Mosaico
19h30 ; Propaganda (Austrália) ; Teatro Funarte Plínio Marcos
20h ; Ivan e os Cachorros (SP/DF) ; Teatro da Caixa


TERÇA, 30 DE AGOSTO
19h ; Depois do Filme (RJ) ; Teatro II do CCBB
19h ; A Despedida (DF) ; Espaço Mosaico
19h30 ; Propaganda (Austrália) ; Teatro Funarte Plínio Marcos
20h ; Camponesa ; Ópera dos Vivos (SP) ; Teatro Garagem


QUARTA, 31 DE AGOSTO
19h ; Depois do Filme (RJ) ; Teatro II do CCBB
19h ; A Despedida (DF) ; Espaço Mosaico
19h ; 9 Mentiras sobre a Verdade (RS) ; Teatro Goldoni
20h ; Camponesa ; Ópera dos Vivos (SP) ; Teatro Garagem
20h ; Carson City (Polônia) ; Teatro da Caixa
21h ; H3 (RJ) ; Sala Martins Penna do Teatro Nacional
21h ; Ninguém falou que seria fácil (RJ) ; Teatro CCBB


QUINTA, 1; DE SETEMBRO
19h ; A Despedida (DF) ; Espaço Mosaico
19h ; 9 Mentiras sobre a Verdade (RS) ; Teatro Goldoni
19h30 ; Danaides (DF) ; Teatro Funarte Plínio Marcos
20h ; Carson City (Polônia) ; Teatro da Caixa
20h30 ; O Jardim (SP) ; Pavilhão do Vidro CCBB
21h ; H3 (RJ) ; Sala Martins Penna do Teatro Nacional
21h ; Ninguém falou que seria fácil (RJ) ; Teatro CCBB
22h30 ; Fernanda Cabral ; lançamento CD Praianos - Praça do Museu Nacional da República


SEXTA, 2 DE SETEMBRO
19h ; Ele Precisa Começar (RJ) ; Teatro II CCBB
19h ; 9 Mentiras sobre a Verdade (RS) ; Teatro Goldoni
19h30 ; Danaides (DF) ; Teatro Funarte Plínio Marcos
20h ; Carson City (Polônia) ; Teatro da Caixa
20h ; O Amor de Clotilde por um certo Leonardo Dantas (PE) ; Teatro Garagem
20h30 ; O Jardim (SP) ; Pavilhão do Vidro CCBB


SÁBADO, 3 DE SETEMBRO
17h ; Caixa Voadora (México) ; Teatro da Caixa
18h ; Meu chapéu é o Céu (DF) ; Praça do Museu Nacional da República
19h ; Cordel do Amor Sem Fim (PE) ; Teatro Goldoni
20h ; O Amor de Clotilde por um certo Leonardo Dantas (PE) ; Teatro Garagem
20h30 ; O Jardim (SP) ; Pavilhão do Vidro CCBB
21h ; Tercer Cuerpo (Argentina) ; Teatro CCBB
21h ; Darkness Poomba e Awake (Coréia) ; Sala Martins Penna do Teatro Nacional
22h30 ; Well Wishing Binary Dulsori (Coréia) ; Praça do Museu Nacional da República


DOMINGO, 4 DE SETEMBRO
17h ; Todos os Sons ; Domingo CCBB ; Choro Livre & Maria João e Mário Laginha (Portugal) ; Praça do Museu Nacional da República
17h ; Caixa Voadora (México) ; Teatro da Caixa
19h ; Cordel do Amor Sem Fim (PE) ; Teatro Goldoni
20h ; O Amor de Clotilde por um certo Leonardo Dantas (PE) ; Teatro Garagem
20h ; Tercer Cuerpo (Argentina) ; Teatro CCBB
20h ; Darkness Poomba e Awake (Coréia) ; Sala Martins Penna do Teatro Nacional

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