Pode parecer piada, mas a tendência é cada vez mais séria: em 2011, os filmes mais ousados de Hollywood são as comédias. Enquanto os dramas ;para adultos; se tornam cada vez mais comportados e as fitas de fantasia fazem de tudo para seduzir a plateia infantojuvenil, é no humor que os grandes estúdios perdem as estribeiras: em longas como Se beber, não case ; Parte 2 e Passe livre, o público encontra cenas de violência, escatologia, nudez frontal, consumo de drogas e um repertório quase abusivo de gags politicamente incorretas. Impróprios para crianças, os lançamentos mais atrevidos da temporada desrespeitam uma das regras mais caras dos grandes estúdios: a de que os grandes sucessos de bilheteria devem agradar à família inteira. Ainda assim, faturam alto.
Nos Estados Unidos, a fórmula do humor ;grosseirão; se impôs como um dos filões mais concorridos do ano. A onda ganhou espessura com o sucesso da continuação de Se beber, não case, que arrecadou US$ 581 milhões no mundo todo. As gags mais grotescas ; entre elas, uma cena em que uma travesti exibe o pênis para a câmera ; não impediram o filme de se tornar a terceira maior bilheteria americana de 2011, perdendo apenas para Harry Potter e as relíquias da morte ; Parte 2 e Transformers: o lado oculto da lua. O fenômeno gerou crias quase instantâneas ; já que, para os estúdios, produzir comédias sai muito mais em conta que as superproduções de aventura e ação. Se beber, não case 2 saiu por US$ 80 milhões; Transformers 3, por US$ 195 milhões.
Em cartaz na cidade, Professora sem classe cumpre os requisitos desse ;subgênero;, que tomou impulso em 2005 (com o sucesso de Penetras bons de bico e O virgem de 40 anos): a personagem que dá nome ao filme, interpretada por Cameron Diaz, quebra todos os códigos de conduta escolares: fuma maconha no estacionamento, exibe filmes de terror na sala (enquanto dorme), faz manobras provocativas para fisgar um professor iniciante e xinga os alunos.
Em setembro, mais três longas desbocados estreiam no Brasil: Missão madrinha de casamento, Eu queria ter a sua vida e 30 minutos ou menos. ;É uma tendência que veio para ficar. Os Estados Unidos entraram numa recessão pesada, duradoura, e a comédia sempre será uma válvula de escape;, prevê Paulo Sérgio Almeida, diretor da Filme B, empresa especializada em pesquisas de mercado cinematográfico.
Humor pesado
O ciclo do humor chulo não é novo ; ele já havia se manifestado no fim dos anos 1990 (com Quem vai ficar com Mary? e American pie) e no início dos anos 1980 (com Porky;s e A última festa de solteiro). Mas nenhum desses filmes rendeu tanto no mundo quanto Se beber, não case ; Parte 2, a comédia ;rated R; (não recomendada para menores de 17 anos, nos Estados Unidos), que mais arrecadou na história. Quem vai ficar com Mary?, por exemplo, ficou com US$ 369 milhões. ;São filmes que buscam atrair, acima de tudo, o adolescente ; que, por definição, quer o que não é tradicional. A sala escura facilita o sucesso desse tipo de produção: lá dentro, ninguém sabe quem está rindo, então todo mundo vira monstro;, observa Paulo Sérgio.
Assista ao trailer do filme Professora sem classe
Enquanto o público se diverte com essa ausência de pudores, a crítica já começa a bombardear o oportunismo dos estúdios. ;É um filme cruel, e que sofre de fixação anal;, ataca Stephen Holden, crítico do The New York Times, contra Eu queria ter a sua vida ; que recicla a premissa da troca de identidade, que já ganhou até versão brasileira, em Se eu fosse você. ;O filme testa a resistência do público para humor de banheiro;, avaliou Roger Ebert, do Chicago Sun-Times, que torceu o nariz para Se beber, não case 2. O próximo episódio do filme, que atraiu cerca de 1,5 milhão de espectadores no Brasil, pode ser filmado no Rio de Janeiro ; a cidade está entre as opções dos produtores do longa.
Não por coincidência, o cinema brasileiro começa a dar mostras de que percebe o avanço das comédias arruaceiras. As piadas sobre sexo dão o tom em Cilada.com ; e um dos próximos projetos do ator e roteirista Bruno Mazzeo, E aí, comeu?, é autoexplicativo. ;Mas acho exagerado falar num retorno à pornochanchada;, pondera Paulo Sérgio. ;As comédias americanas são excepcionalmente bem escritas, têm investimento alto e vão muito bem com os brasileiros. Quem gosta do politicamente incorreto aprova;, aponta
Os cinco mais
As comédias para adultos que se tornaram campeãs de bilheteria em 2011
1. Se beber, não case! ; Parte 2 - US$ 581 milhões
2. Missão madrinha de casamento - US$ 272 milhões
3. Professora sem classe - US$ 201 milhões
4. Quero matar meu chefe - US$ 170 milhões
5. Passe livre - US$ 83 milhões