postado em 01/09/2011 12:13
Na Amazônia, os rios comandam a vida. Quando chegou a Brasília em 1976, o acriano Edmilson Figueiredo deparou-se com um lago artificial. ;Vi uma oportunidade concreta de agregar valores culturais ao turismo;, comenta Edmilson. E o ideal do nortista se realizou no mesmo dia em que Dom Bosco sonhou com a cidade. Em 30 de agosto de 2007, a Barca Brasília conheceu aquele que seria o seu destino pelos próximos quatro anos: desbravar as águas, a cultura e a história da capital modernista. Na semana passado foi comemorado o aniversário da embarcação, com apresentações dos músicos Matricó e Manassés: ;Comecei a verificar o potencial contemplativo do lago e vi que havia um nicho de mercado para isso;, conta Edmilson, sociólogo e guia turístico.No início, durante a tarde, a barca funcionava como espaço para uma programação infantil com mágicos, mímicos, ventríloquos e apresentações de teatro. Com a dificuldade de divulgação, o projeto não conseguiu mobilização suficiente para sobreviver. O que persiste até hoje são os encontros culturais. Os saraus de poesias ocorrem durante as noites de lua cheia. As exibições de filmes de cineastas de Brasília são realizadas à luz da lua nova. Em luas crescente e minguante, alternam-se no palco da Barca Brasília os músicos da cidade. ;Sou muito ligado às fases lunares;, justifica Edmilson.
Em cada passeio, sempre aos sábados e domingos, o número de passageiros não excede 40, mas a capacidade é de 50. O barco levanta âncora às 17h e retorna por volta das 20h. As apresentações culturais transcorrem ao cair do sol. ;Não dá para competir com o pôr do sol de Brasília, né?;, argumenta o bem-humorado Edmilson. Além das belas paisagens, o percurso é uma boa oportunidade de conhecer melhor o Lago Paranoá. ; A intenção do projeto é proporcionar a chance de as pessoas se encantarem com uma cidade que é mágica;, define Edmilson.
Ainda à beira do Lago Paranoá, outro grupo aguarda no pier de um hotel para embarcar em um happy hour. Literalmente, ao sabor das águas, de um banquete de pães e frios intercalados com goles de espumante, vinho, cerveja, sucos e refrigerantes, o grupo segue sem rumo sob a luz da lua cheia. O cenário tem trilha sonora executada ao vivo, como toda comemoração que se preze. Nem que seja, apenas, a celebração do término de mais um dia de trabalho. O ritual descrito acima se repete mensalmente. O cenário é a embarcação Mar de Brasília, com capacidade para 79 passageiros. ;Somos uma família;, explica Darse Lima Júnior, responsável pelo projeto Um barquinho e um violão.
Passeios à noite
O Mar de Brasília estreou nas águas candangas em 1; de julho do ano passado. Na época, o barco destinava-se apenas a projetos educacionais e turísticos. De segunda a sexta-feira, recebia crianças de escolas públicas e particulares para lições sobre ecologia, história e educação cívica. Nos fins de semana, era a vez dos passeios turísticos, não menos repletos de informações sobre a cidade. ;Uma série de pessoas passou a perguntar por que não fazíamos passeios à noite, mais descontraídos e voltados para o público da cidade. A gente optou então por fazer um happy hour no lago. Diferentemente dos barcos de festas particulares, o evento é aberto;, conta. Em todas as edições, participa pelo menos um artista da cidade, que é responsável por embalar com MPB e Bossa Nova as duas horas de navegação pelas águas sem ondas.
Visando proporcionar um clima de confraternização entre os tripulantes, o valor do ingresso inclui os comes e bebes. ;Assim um tem a liberdade de servir um vinho para o outro, como se estivesse na própria casa;, ilustra Darse. O número reduzido de participantes contribui no sentido de criar uma atmosfera intimista. ;Acaba se criando um vínculo entre as pessoas;.
Segurança
A diversão não dá chance ao acaso. No Mar de Brasília, as medidas de segurança são obedecidas: são 103 coletes salva-vidas (23 a mais do que o exigido por lei) à disposição, quatro boias circulares e tripulação capacitada pela Delegacia Fluvial do DF. Além disso, os passageiros recebem instruções de como vestir os coletes, bem como assistem a uma demonstração das rotas de fuga, para o caso de necessidade de evacuação do barco. Também certificada pela Marinha do Brasil para transporte de passageiros, a Barca Brasília conta com todos os itens de segurança e dois tripulantes habilitados. Antes de sair do píer, os passageiros assistem a um vídeo com orientações de como proceder em casos de emergência.