Diversão e Arte

Apresentações fazem Complexo da República cair no gosto do brasiliense

Nahima Maciel
postado em 04/09/2011 18:06

Skatistas dominam o espaço entre a biblioteca e o museu

O pátio de 96 mil metros quadrados é bem democrático. Está ao lado da Rodoviária, no coração do Plano Piloto, e distante das áreas residenciais. À noite, quando a maçaroca de carros, que congestiona a Esplanada dos Ministérios durante o horário comercial, está devidamente guardada, há espaço de sobra para estacionar. A música alta não chega a incomodar moradores das Asas, e o gramado inexistente não periga desmanchar debaixo de milhares de pisadas. A praça do Museu Nacional Honestino Guimarães do Complexo da República tem vocação e não demorou muito para ser descoberta. O espaço foi inaugurado em 2006. No ano seguinte, a exposição Tropicália extrapolou os muros da cúpula de Niemeyer e transbordou para o pátio. Um ano mais tarde, foi a vez de o teatro ocupar o chão. Os produtores perceberam o potencial e logo a praça virou também palco de shows.

Nas contas de Wagner Barja, diretor do museu, uma média de 300 mil pessoas passaram pelos eventos da praça desde 2007. ;Não sei explicar direito por que esse espaço deu certo. A gente tenta atender a demanda da cidade e a programação é feita por nós. Esses eventos trazem um público muito grande, mas nunca tivemos problema;, garante o diretor. Além da programação oficial, a praça também tem donos espontâneos. Barja considera os vendedores ambulantes os pioneiros na ocupação, já que são responsáveis por humanizar o concreto quando o local está vazio.

A turma do skate ; geralmente adolescentes ; faz dos bancos e das pequenas inclinações verdadeiras pistas de acrobacias. E desde maio, um grupo de 10 casais se instala no local, às quartas-feiras à noite, para dançar tango. ;Nossa política é dançar com as pessoas se elas quiserem e ensinar para quem quiser aprender;, diz o dançarino João Carlos Corrêa, que conta com a parceria da também dançarina Sther Lobo para executar as sessões de tango. Quando o grupo resolveu colocar em prática a vontade de dançar na rua, tal qual viu em Buenos Aires, chegou naturalmente à conclusão de que a praça do museu era o espaço mais adequado. A milonga acabou conhecida como Bajo la luna. ;Alguém disse que o chão era ruim. Mas aí ponderamos que o ar-condicionado era ótimo e que ninguém esbarraria em ninguém no salão. E ali tem um trânsito muito interessante. Hoje, as pessoas ficam esperando;, conta Corrêa.

O diretor Guilherme Reis, produtor do Cena Contemporânea, descobriu o espaço em 2008. Até então, as festas do maior festival de teatro da cidade ocorriam no Cine Brasília. Em 2007, o movimento foi tão grande que a vizinhança reclamou. Guilherme não teve dúvida. Procurou a direção do museu e criou um ponto de encontro no meio do monumento. Os DJs do Criolina investiam num som lounge durante a semana e a festa ficava mais dançante no fim de semana. Em 2009, começaram os shows e espetáculos na praça, tudo dentro da programação do Cena Contemporânea. Angélique Kidjo lotou o espaço, Hamilton de Holanda também.

;Desde o primeiro ano, sentimos uma crescente participação do público mais jovem que não ia ao teatro. A gente quis provocar um pouco esse pessoal que gastava dinheiro em festas e não frequentava o teatro. Agora, vem o resultado, com 90% de ocupação dos teatros durante o Cena;, conta Reis. Hoje, a praça é cenário de encerramento da maratona de teatro com show dos portugueses Maria João e Mário Laginha, uma parceria do Cena com o projeto Todos os Sons, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Skatistas dominam o espaço entre a biblioteca e o museu

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