Diversão e Arte

Pianista Giulio Draghi prepara série de quatro concertos no CCBB

Nahima Maciel
postado em 06/09/2011 09:15
A personalidade complexa era uma característica de Franz Liszt. Ao mesmo tempo em que adorava viajar, o compositor húngaro, nascido em 1811, conseguia ficar dias enfurnado em casa mergulhado em livros. Gostava tanto de ser adulado e celebrado quanto de se esconder em prolongados retiros em mosteiros. E levou para a música tudo capaz de reter seu interesse. As constantes viagens e visitas aos ciganos renderam 19 Rapsódias húngaras e a devoção à literatura acabou traduzida nos lieds, mais de 80 poemas e textos musicados. A diversidade serviu de guia para o pianista Giulio Draghi montar a série Hungária! As múltiplas faces de Franz Liszt, que celebra os 200 anos de nascimento do compositor, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Durante quatro terças-feiras, a partir de hoje, o público poderá conhecer as sutilezas que fazem de sua música uma das mais complexas da era romântica.

A série tem início com o módulo O poeta, espécie de introdução para entender o universo do artista. Liszt foi um mestre do piano e se dedicou com afinco ao escrever 418 peças exclusivas para o instrumento. Mas o gosto pela literatura o levou à música cantada, num repertório que soma 225 peças para voz, sendo 119 canções, os lieder, que ajudaram a obra do compositor a circular pelo mundo. ;Já tinha imaginado que haveria muitas séries sobre Liszt este ano, mas me deparei com um conjunto de oito caricaturas do artista enquanto tocava num concerto. O caricaturista notou como o rosto de Liszt se transfigurava. E aí me ocorreu que a personalidade dele era multifacetada;, conta Giulio Draghi. ;A literatura era muito importante: ele fez centenas de lieder e musicou muitos poemas.;

A soprano Rosana Lamosa divide o palco do CCBB hoje com o pianista Flávio Augusto. Ela canta uma série de lieder compostos para poemas de Victor Hugo, Pretarca, Goethe e Heinrich Heine. Augusto acompanha a soprano, mas também toca o famoso Rêve d;amour, trecho do Noturno n; 3. ;As canções são deslumbrantes. É uma série de poesias, Liszt tinha paixão por texto. Mas a ópera às vezes é mais fácil. A canção tem que ser elaborada de maneira mais densa, tem que buscar outras motivações. O recital de lied demora muito para ser preparado;, explica Rosana.

A múltipla personalidade do artista segue representada na série. Na próxima terça-feira, O virtuose explora o talento do compositor como pianista. O responsável será o croata Kemal Gekic com Doze estudos de execução transcendental, também conhecidos como Estudos transcendentais. Escrita entre 1826 e 1851, a peça é monumental e nasceu da admiração de Liszt por Niccolo Paganini, lenda do violino no século 18. O húngaro queria realizar ao piano a mesma exploração de harmonias que o violinista conseguia com cordas e arco. A obra virou referência: é preciso usar não só as mãos, mas também braços e ombros para conseguir as harmonias escritas na partituras.

Recital solo
Na história da música, três pares de mãos ficaram célebres pela agilidade e alcance. Se os longos dedos de Rachmaninoff eram conhecidos por tocar cerca de 17 notas e os de Chopin, pela habilidade de emocionar, os de Liszt ganharam destaque por inventar a figura do pianista moderno. Foi o húngaro quem criou o termo ;recital solo; e colocou o pianista no palco como atração máxima.

Liszt gostava de ser bajulado, mas também transitava entre anônimos. E o fascínio pelo mundo cigano rendeu o tema do último recital da série, em 27 de setembro. Os pianistas Laís Spoladore, Luciano Magalhães e Ronal Silveira são responsáveis pelo encerramento, com O cigano. Já no programa da apresentação do dia 20 estão quatro Rapsódias húngaras, incluindo a n; 9, transcrita para quatro mãos por Emil Kronke, aluno de Liszt. Laís, Magalhães e Silveira estão entre os novos nomes do piano brasileiro. Juntos, somam 115 prêmios em concursos nacionais e internacionais.

Hungária! As múltiplas faces de Franz Liszt
Hoje, às 13h (entrada franca) e às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES, Trecho 2, Lote 22). Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia)

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