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Banda Red Hot Chili Peppers toca no Rock in Rio e quer ganhar fôlego

postado em 09/09/2011 08:16

Red Hot Chili Peppers: uma
Os fãs do Red Hot Chili Peppers não deveriam estar tão preocupados: poucas são as bandas de rock que reagem com tanta energia aos solavancos do showbusiness. Desde a primeira formação, em 1983, os californianos já dispensaram seis guitarristas e três bateristas. Sobreviveram aos anos 1990, peitaram a crise da indústria de discos e, no início do século 21, retornaram ao trono dos grupos mais populares do mundo. Mas, ainda assim, a despedida do guitarrista John Frusciante parece indicar o pior dos sintomas. Isso porque o músico colaborou nas duas ;épocas de ouro; do quarteto: a fase Blood sugar sex magik, de 1991, e o renascimento via Californication, de 1999.

Existe vida após Frusciante? Eis a questão que I;m with you, o décimo álbum da banda, tenta responder. ;Nos transformamos numa banda nova. O nome é o mesmo, mas a banda mudou;, avisou o baterista Chad Smith, 49 anos. Ao lado do vocalista Anthony Kiedis e do baixista Flea, ambos com 48 anos, ele integra o ;núcleo duro; do grupo, que agrega o guitarrista Josh Klinghoffer, 31 anos. Tal como Frusciante, Josh é um músico experiente (tocou na turnê mais recente dos Chili Peppers, além de ter participado de discos do Beck e do Gnarls Barkley). Mas a diferença é que, enquanto o Pepper veterano era um especialista em solos e arranjos grandiosos, o novato prefere uma performance mais sutil.

A distância entre os dois guitarristas explica as transformações sonoras da banda, que não lançava um álbum desde o duplo Stadium arcadium, de 2006. Se a temporada com Frusciante rendeu discos gigantescos, adaptados em megaturnês, a nova estação mostra os ídolos de volta a uma estatura humana, quase sempre mansos, timidamente reciclando um estilo que dominam: um funk rock arruaceiro e juvenil, com apelo pop e momentos derramados de doçura. ;Quero que você dance como nos anos 1980;, provoca Kiedis, no single The adventures of rain Dance Maggie. Soa como um pedido para que o público pegue leve nas expectativas.

Na defensiva

Mais uma prova de que a saída de Frusciante desestabilizou os Peppers, que se apresentam na segunda noite do Rock in Rio, no dia 24: eles retornam na defensiva, reprisando muitos dos ;sabores; favoritos dos fãs. A única novidade está na experiência (discretíssima) com ritmos africanos, presente na percussão de faixas como Ethiopia. A influência resultou da participação de Flea no grupo Africa Express, originado por Damon Albarn (ex-Blur), que organizou jam sessions entre roqueiros e músicos etíopes. Por outro lado, o baixista ressaltou em entrevistas que a atmosfera de I;m with you deve muito aos Rolling Stones de Exile on Main Street (1972) e Tattoo you (1981).

;Os grandes temas do disco são a vida e a morte;, resumiu Flea, no lançamento do disco ; que, segundo a Billboard, deve vender 200 mil cópias na primeira semana, nos Estados Unidos. Produzido pelo parceiro fiel Rick Rubin e gravado entre setembro de 2010 e março de 2011, o álbum edita um conjunto de 60 canções que o quarteto compôs. As aulas de teoria musical, que Flea cursou na Universidade da Califórnia do Sul, ajudaram a enxugar faixas que soam mais precisas, sem tantas improvisações. Ou seria sinal de cansaço? Os fãs, aí sim, têm motivos para se preocupar.

Rock na tela

; Quatro salas de cinema de Brasília reprisam hoje, às 22h, o show de lançamento da turnê I;m with you. Captada em alta definição, a apresentação na cidade de Colônia, na Alemanha, foi exibida pela primeira vez em 30 de agosto, em transmissão simultânea para mais de 900 cinemas no mundo todo. O disco novo foi tocado integralmente no show, que será exibido no Cinemark Pier 21, no Cinemark Iguatemi, no Cinemark Taguatinga Shopping e no Kinoplex ParkShopping. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

Cauteloso até demais

Os Peppers podem até desconversar (e sugerir o velho argumento de que entraram numa fase mais madura), mas a banda que aparece em I;m with you tem medo. Medo de correr riscos, já que as faixas soam como versões polidas para hits antigos. Medo de engrossar a voz, já que as canções se contentam com o refrão agradável, ameno. E, finalmente, medo de se afirmar como um grupo com cacife para sonhar grande ; e que, a esta altura, não deveria estar preocupado com a opinião de ninguém.

À exceção de uma ou outra tentativa de incorporar exotismos (percussão africana, guitarra caribenha), o modelo do álbum é o mesmo de superproduções bem-sucedidas como Californication (1999) e By the way (2002). Funk rock amansado, de coleira e focinheira, para animar as rádios e os estádios. Com uma diferença: sem as guitarras e as boas ideias de John Frusciante, o que restam são vestígios descoloridos daquele período.

Apesar de um início que ameaça pegar fogo (com a poderosa Monarchy of roses e a balada Brendan;s death song), este álbum corretinho sugere que, se permanecerem assim tão cautelosos, os Peppers perigam esvaziar por completo os próprios truques ; que, felizmente (para os fãs), são muitos. E também correm o risco de soar irrelevantes, ainda que eficientes. (TF)

Assista o clipe da música The adventures of rain, da banda Red Hot Chili Peppers:

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