Em uma edição que convidou cineastas como David Cronenberg (A dangerous method), Roman Polanski (Carnage) e George Clooney (The ides of march), o júri do Festival de Veneza surpreendeu ao eleger um vencedor que sempre se movimentou à margem dos holofotes de mostras internacionais. O russo Aleksander Sokurov (de filmes rigorosos como A arca russa, de 2002, e Alexandra, de 2007), venceu o Leão de Ouro por Fausto ; uma decisão que, entre os críticos que cobriam o evento, passou longe do consenso.
Para uma parte da imprensa, o prêmio fez justiça a um cineasta que, apesar de admirado há longa data na Europa (estreou em 1978), ainda não havia vencido nenhum grande festival. Em Cannes, disputou cinco vezes, mas só ganhou pelo roteiro de Moloch, em 1999. Em Veneza, onde competiu pela primeira vez, conquistou o júri presidido pelo americano Darren Aronofsky (Cisne Negro), que teve participações do diretor Todd Haynes (Não estou lá) e do cantor David Byrne, ex-Talking Heads. ;É sempre difícil um ser humano compreender outro;, agradeceu Sokurov.
A consagração, no entanto, provocou a desconfiança de jornalistas que, insatisfeitos com o filme, acusaram o evento de premiar o conjunto da obra do diretor ; e não o longa que competia na edição. ;Talvez seja o pior filme dele. Festivais, no fim das contas, não são tão diferentes do Oscar;, reclamou o crítico britânico Guy Lodge, em comentário no Twitter. Outros, porém, defenderam a produção: ;O filme tem uma qualidade de sonho que lembra a textura dos filmes de DW Griffith;, elogiou Stephanie Zacharek, no site Movieline.
Entrelinhas
A eleição do Leão de Ouro também provocou controvérsia no ano passado, quando correu a suspeita de que o presidente do júri, Quentin Tarantino, fez uma ;ação entre amigos; ao premiar Sofia Coppola, por Um lugar qualquer. Fausto é uma produção de época, falada em alemão, que se propõe a investigar ;o que há nas entrelinhas; das interpretações do mito de Fausto, com referências à obra dos escritores Thomas Mann e Goethe. O drama encerra uma série de filmes sobre corrupção e poder que Sokurov, 60 anos, iniciou com Moloch, sobre Adolf Hitler.
O resultado do festival contrasta com o desfile no tapete vermelho, que contou com a presença de estrelas como Madonna (de W.E., severamente criticado) e astros como Clooney, ambos na função de cineasta. Também correndo por fora, o italiano Emanuele Crialese (de Respiro e Nuovomondo) ganhou o prêmio especial de júri por Terraferma. O alemão Michael Fassbender (por Shame) e a chinesa Deanie Yip (por A simple life) ficaram com os troféus de atuação. O Leão de direção destacou um desconhecido: o chinês Shangjun Cai, pelo elogiado People mountain people sea. No total, 22 filmes competiram na 68; edição da mostra.
Os vencedores:
Leão de Ouro (Melhor filme)
; Fausto, de Aleksander Sokurov (Rússia)
Leão de Prata (Melhor diretor)
; Shangjun Cai, por People mountain people sea (China)
Prêmio especial de júri
; Terraferma, de Emanuele Crialese (Itália)
Melhor ator
; Michael Fassbender, em Shame (Reino Unido)
Melhor atriz
; Deanie Yip, em A simple life (China)
Melhor ator ou atriz estreante
; Shôta Sometani e Fumi Nikaidô, em Himizu (Japão)
Melhor fotografia
; Robbie Ryan, por Wuthering Heights (Reino Unido)
Melhor roteiro
; Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou, por Alps (Grécia)
Leão do Futuro (filme de estreia)
; Là-bas, de Guido Lombardi (Itália)