Diversão e Arte

Ariano Suassuna fala sobre sua preocupação com a cultura brasileira

Nahima Maciel
postado em 15/09/2011 09:19
Ariano Suassuna no palco do Ipea: Quando Ariano Suassuna sobe ao palco para suas tradicionais palestras, o público já estampa sorriso e se prepara para as risadas. Com essa disposição o escritor paraibano foi recebido no auditório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na terça-feira. Convidado para palestra como parte do programa de celebração dos 47 anos do órgão, Suassuna falou durante 40 minutos. Ao subir ao palco, tratou de avisar: ;Minha voz é essa mesma que vocês estão ouvindo: feia, fraca, baixa e rouca;.

Fazer graça é especialidade de Suassuna. Suas palestras tratam de coisa séria ; e a bandeira levantada em defesa da cultura brasileira é sempre o auge ; mas o bom humor nunca sai de cena.

O escritor revelou estar um pouco preocupado com a natureza dos convites recebidos ultimamente para falar em congressos de psiquiatria e psicanálise. ;Não sou psicanalista nem psiquiatra. Se estão com interesse por mim deve ser porque sou um caso;, brincou, para dizer logo em seguida que, além de louco, é também um preguiçoso e um mentiroso. ;Gosto de contar histórias e na minha vida não acontece nada, então o que eu vou fazer senão mentir? Afinal, sou um escritor.;

Sonho realizado
Aos 84 anos, prestes as lançar novo livro, Suassuna revelou ao público ter realizado um sonho de menino. Como secretário de Cultura de Pernambuco, criou um circo para levar ao interior do estado a cultura brasileira. Até agora, o Circo da Onça Pintada levou espetáculos, música e dança a 68 municípios do estado. ;Quando o Eduardo Campos (governador de Pernambuco) me chamou, eu meti na cabeça ; e há muito tempo meti isso na cabeça ; que o povo brasileiro tinha me dado a missão de proteger a cultura brasileira. E o povo brasileiro, coitado, nem sabe disso;, reparou. ;Então criei um circo. Quero mostrar que temos uma arte de qualidade.;

No pequeno palco do auditório do Ipea, Suassuna falou ainda de Lady Gaga e imitou um toureiro ao som de uma fanfarra espanhola para exemplificar como os elementos nacionalistas de certa música eram capazes de remeter à cultura de um local.

O escritor mostrou ainda imagens de um santuário que está construindo próximo à fronteira entre Pernambuco e Paraíba, ao lado das pedras que inspiraram A pedra do reino e avisou que pode até ser um Dom Quixote ; como já foi chamado em reportagens de jornal e revista ;, mas não desiste da valorização extremada da produção e dos artistas nacionais.

O que ele disse
;Estou preocupado. O Brasil está sofrendo uma invasão cultural do gosto médio. E gosto médio em arte é pior que mau gosto. Estou preocupado com essa massificação nivelada por baixo. Uma pessoa que senta numa mesa e diz ;vou escolher um nome para mim; e escolhe Lady Gaga; Uma mulher dessa é uma imbecil aqui e em qualquer lugar do mundo.;

;Quando eu era jovem havia um desprezo generalizado pelo Brasil e pelo povo brasileiro. De vez em quando jogavam a Suíça e a Suécia na minha cara. A Suécia pode até ser um país organizado, mas é chato.;

;Não pretendo morrer não. A morte é uma coisa que não está nas minhas pretensões. Só não sei se a morte aceita minhas teorias. A morte no sertão está personalizada: se chama Caetana. E ela é esperta. Basta o sujeito se conformar que ela dá o bote.;

;Sem os sonhos, o que a gente faz? A razão manda que a gente fique em casa. Eu não fico não. Outro dia me chamaram de Dom Quixote arcaico. Divido a humanidade em duas metades. De um lado estão os que gostam e concordam comigo. Do outro estão os equivocados. Enquanto eu puder eu brigo.;

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