Diversão e Arte

Em novo CD, Luciana Mello grava com o pai, Jair Rodrigues, após 22 anos

postado em 20/09/2011 08:42

Em 6º solo, Luciana interpreta quatro músicas compostas pelo irmão, além de canções de Djavan e Gonzaguinha

Luciana Mello fez um intervalo de quatro anos entre o CD Nêga e seu sucessor, 6; solo, que acaba de lançar. Para ela, foi o tempo certo. ;Tudo tem seu momento. E foi bacana ter essa pausa, para eu amadurecer e para amadurecer as ideias;, comenta. E o disco estava tão em seu momento de acontecer, tão a ponto de ;cair do pé;, que nem a distância do irmão Jair Oliveira, produtor dos últimos quatro álbuns da cantora, a impediu de fazê-lo agora. ;Quando comecei a produzir o CD, Jair estava passando uma temporada em Nova York. Conversamos e chegamos ao nome do Otávio de Moraes, que é um grande amigo nosso, já trabalhou conosco, entende minhas ideias;;

O irmão ; que para Luciana ;é e sempre será; seu mentor ; não assinou a produção, mas está presente na criação de 6; solo. São dele quatro das 11 faixas do disco. Uma delas, o samba Mentira, promove uma verdadeira reunião familiar, já que, além da assinatura de Jairzinho, tem a participação de Jairzão, o pai. ;Pois é, ali está o lado musical da família;, brinca Luciana, lembrando que a última vez em que gravou com o pai tinha 12 anos de idade ; cantaram um pot-pourri de bossa nova. ;Jair me mostrou esse samba e eu adorei. Depois mostrou para meu pai e ele disse que iria gravar. Aí meu irmão contou que eu já tinha escolhido e ele falou: ;Então quero participar;. Foi ótimo.;

Ter um irmão que compõe tanto e a privilegia com canções inéditas não torna mais fácil, para Luciana Mello, o trabalho de escolher as músicas de um novo disco. ;Costumo dizer que a seleção de repertório é a parte mais difícil de todas, porque geralmente tem muita coisa boa e, como trabalho com música desde cedo, quase tudo acaba sendo referência em minha vida;, afirma. As músicas de 6; solo ela escolheu com a ajuda de Otávio. Também facilitou a gentileza de autores como Chico César e Arnaldo Antunes, que lhe mandaram inéditas. Assim, entraram no disco Descolada (Chico e Márcio Arantes) e Se for pra mentir (Antunes e Cézar Mendes).

A essas se juntaram músicas de Djavan (Deixa o sol sair), Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro (Áfrico) e Gonzaguinha (Recado), entre outros. O estranho no ninho nessa seleção é Couleur café, do mítico Serge Gainsbourg. ;Foi o Jairzinho quem me mandou. ;Olha, Luciana, você fala francês, devia gravar;. Pensou no arranjo, pensou em tudo, e eu curti, achei legal. E resolvi chamar o Corneille para participar;, conta Luciana, que não conhecia pessoalmente o músico alemão, de pais africanos (de Ruanda), que canta em francês e inglês. E continua sem conhecer. ;Entrei em contato, ele ouviu e gostou do arranjo que o Jair criou, conheceu meu trabalho pela internet e topou. Infelizmente, não pudemos gravar juntos e nos conhecer pessoalmente. Mas a gente bateu um bolão pelo Skype;, brinca.

A inclusão da música em francês e a presença do artista estrangeiro não afetaram uma característica que Luciana procurou imprimir em 6; selo: a brasilidade. ;Tudo que gravo são coisas de que gosto. Meus discos têm uma linha e dentro dessa linha exploro algumas vertentes, mas tenho uma influência grande da soul music. E tem também o samba, a MPB tradicional, o samba-canção; Neste álbum, resolvi trazer meu lado mais brasileiro.;

Tudo está no seu lugar

O disco 6; solo é desses em que não há sobras. Tudo tem a medida certa. Os ótimos arranjos (assinados, na maioria, por Otávio de Moraes) evidenciam a brasilidade pretendida pela cantora, mas ganham charme meio jazzy em músicas como Tchau e Se for pra mentir.

Essas e a francesa Couleur café ; à qual o arranjo minimalista de Jair Oliveira e o vocal de Corneille deram um ar afro ; funcionam como respiros estratégicos no andamento do disco, em que o samba predomina. O repertório é curto e preciso. Revela cuidado na escolha e sensibilidade no encadeamento das canções.

Luciana surpreende com um Arnaldo Antunes atípico (Se for pra mentir tem letra de samba-canção, mas se arrasta como um blues, com belíssima guitarra de Edson Guidetti) e Mentira (perdoem o clichê) fecha com chave de ouro. É a melhor das quatro assinadas por Jairzinho e ainda tem o efusivo vocal de Jair Rodrigues como bônus. (RR)

"Tenho uma influência grande da soul music. E tem também o samba, a MPB tradicional, o samba-canção; Neste álbum, resolvi trazer meu lado mais brasileiro;


Luciana Mello, cantora

Ouça um trecho da música Mentira, com Luciana Mello e Jair Rodrigues:

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