Diversão e Arte

Espetáculo sobre sambas de carnaval estreia turnê nacional em Brasília

Irlam Rocha Lima
postado em 22/09/2011 08:25

Diante do sucesso de É com esse que eu vou ; O Rio inventou a marchinha, que estreou no verão de 2007 e se manteve em cartaz por três anos, a historiadora Rosa Maria Araújo e o jornalista e biógrafo Sérgio Cabral passaram a ser cobrados por quem gostaria de ver encenada uma segunda versão do espetáculo ; em razão do vasto material que ficara fora do roteiro.

Mesmo considerando justa a reivindicação, os dois optaram por outra saída, ao criarem É com esse que eu vou ; O samba de carnaval na rua e no salão. ;Queríamos mostrar o outro lado da festa, ao reunir sambas que embalaram os foliões e entraram para história do carnaval;, justifica Rosa Maria. Entre o segundo semestre de 2008 e o primeiro de 2009, ela e Cabral fizeram aprofundada pesquisa, ouvindo mais de mil sambas, até chegarem aos 82 do repertório.

O musical, dirigido por Cláudio Botelho e Charles M;eller, depois de cumprir longas temporadas nos teatros Oi Casa Grande e João Caetano, no Rio de Janeiro, e de ser aplaudido no Festival de Teatro de Curitiba, inicia em Brasília, neste fim de semana, sua turnê nacional. As apresentações serão amanhã e sábado, às 20h; e domingo, às 19h, no Teatro da Caixa.

Alfredo Del-Penho, Pedro Paulo Malta, Marcos Sacramento, Mackley Matos, Soraya Ravenle, Beatriz Faria e Juliana Diniz, acompanhados por banda sob a direção musical do violonista Luis Filipe de Lima, interpretam sambas clássicos como Com que roupa (Noel Rosa), O bonde de São Januário (Wilson Batista), Agora é cinza (Alcebíades Barcelos e Armando Marçal), Leva meu samba (Ataulfo Alves), Mora na filosofia (Monsueto e Arnaldo Passos) e É com esse que eu vou (Pedro Caetano). Eles também dançam e representam.

Para o cantor capixaba Makley Matos, que começou a carreira em Brasília, apresentando-se em lugares como o Feitiço Mineiro e o Bar do Calaf, É com esse que eu vou foi a grande oportunidade para mostrar seu talento a um público maior. Ele foi escolhido para integrar o elenco por meio de seleção, após ser descoberto no circuito dos bares da Lapa. ;Minha trajetória artística divide-se entre antes e depois desse espetáculo. A partir daí muitas portas se abriram para mim;, comemora.

Marcos Sacramento, Soraya Ravenle, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta em cenaAntagonismo
De acordo com Rosa Maria, o roteiro do espetáculo é temático, desenvolvido a partir do conceito de antagonismo e dividido em sete blocos ; rico x pobre, orgia x trabalho, cidade x morro, tristeza x alegria, solteiro x casado, feminismo x machismo e briga x paz ;, culminando com a apologia do samba. ;A pesquisa obedeceu ao critério de seleção de sambas que retratassem a história social do Brasil, entre os anos 1920 e 1970, período em que foram compostos;.

Segundo Sérgio Cabral, esse tipo de música assumiu sua forma definitiva em fins da década de 1920, ;com jovens compositores da época, entre eles Noel Rosa e Ary Barroso, que foram seguidos por Ataulfo Alves, Roberto Martins, Haroldo Lobo, Wilson Batista e todos que se dedicaram a criar sambas para o povo cantar no carnaval;.

Rosa Maria e Sérgio são, ainda, autores do texto do vídeo O morro e o asfalto (exibido durante o musical), com imagens cedidas pelo Arquivo Nacional e pelo Museu da Imagem e do Som. Narrado por Paulinho da Viola e dirigido por Rodrigo Ponichi, o curta traz, também, cenas dos filmes O assalto ao trem pagador, de Roberto Farias, e Escola de Samba Alegria de Viver/ 5 x favela, de Cacá Diegues.

Com a assinatura de Rogério Falcão, a cenografia remete ao glamour do Rio antigo, representado pelo Cassino da Urca, o luxo dos grandes bailes, além de reproduzir imagens do bonde, dos Arcos da Lapa e do Pão de Açúcar. Na criação dos figurinos, Ney Madeira teve como inspiração as ilustrações do cartunista carioca J. Carlos. O elenco usa roupas de base, superpondo peças. ;Lado a lado, a seda, o lamê, o cetim e o algodão se renovam e constroem o democrático pano de retalhos que veste os boêmios, trabalhadores, cabrochas e madames retratados nos sambas;, explica Ney.

É com esse que eu vou
Amanhã e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3/4). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: 3206-9448. Classificação indicativa livre.

Filha de Paulinho da Viola, Beatriz Faria é um dos destaques do musicalQuatro perguntas para Beatriz Faria

Que tipo de identificação você tem com o repertório de É com esse que eu vou?
Minha identificação é total. Cresci ouvindo os grandes compositores da nossa música, especialmente os sambistas. Não poderia ser diferente, sendo filha de quem sou. Nasci numa família de músicos, por parte de pai (Paulinho da Viola) e de mãe (Lila Rabello). Meu avô paterno, César Faria, foi um grande violonista, que integrou o conjunto Época de Ouro. Meu tio Raphael Rabello, irmão da minha mãe, foi um violonista que dispensa comentários.

O repertório do espetáculo, então, lhe é familiar?
Sim. A convivência com meu pai trouxe o samba para mim desde muito cedo. Do repertório, composto por 82 sambas, acho que só não conhecia três.

Que importância você atribui ao musical de Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo?
Considero esse espetáculo importantíssimo pelo resgate, pela preservação e divulgação da cultura do nosso país. O carnaval brasileiro é único, não só pela exuberância que vemos hoje em dia, mas principalmente pelos sambas dos compositores que fizeram a história. Sinto muito orgulho de ser brasileira e por tomar parte desse musical.

E qual é a sua relação com o carnaval?
Sou apaixonada pelo carnaval, foliã de carteirinha, do tipo que sai de casa de madrugada para pegar a concentração dos melhores blocos da cidade, sempre fantasiada e com a música na ponta da língua. Não perco um bom baile e, quando possível, vou ao Sambódromo para ver de perto o desfile das escolas de samba.

Ouça a música Com que roupa?, de Noel Rosa:

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