Diversão e Arte

Humorista Juca Chaves inaugura espaço na cidade com novo espetáculo

Irlam Rocha Lima
postado em 22/09/2011 08:36
Juca Chaves: A ligação de Juca Chaves com Brasília é antiga. A capital estava sendo construída, em 1957, quando o então jovem compositor fez Presidente bossa nova, sua primeira música de sucesso, em que satirizava o presidente Juscelino Kubitschek. Em trecho da letra, diz: ;Bossa nova mesmo é ser presidente/ Desta terra descoberta por Cabral/ Para tanto basta ser tão simplesmente/ Simpático, risonho, original/ Depois de desfrutar da maravilha/ De ser o presidente do Brasil/ Voar da velhacap pra Brasília/ Ver o Alvorada e voar de volta ao Rio;;.

Num primeiro momento, a música não foi bem assimilada, principalmente pelo assessor pessoal de JK, Geraldo Carneiro. ;Mandei Presidente bossa nova para o presidente, mas o Geraldo não permitiu que ele ouvisse. Aí eu botei na cabeça que iria cantá-la no Palácio Alvorada. O Juscelino acabou me recebendo, ouviu a sátira ao vivo e a achou simpática.;

O público também gostou. Tanto que o 78 rotações com a gravação de Presidente bossa nova, de um lado, e da bela modinha Por quem sonha Ana Maria, rendeu a Juca um disco de ouro na época. ;Foram vendidas mais de 500 mil cópias, e contribuiu para isso a permanência da música na programação das rádios por um ano. Em consequência, passei a receber convites para shows em todas as regiões do país;, recorda-se.

Aos 72 anos, Juca, que já se apresentou em Brasília incontáveis vezes, estava sem fazer show aqui havia algum tempo: ;Cheguei até vir, mas foi para marcar presença num evento fechado.; De hoje a sábado, às 21h, o brasiliense poderá revê-lo no stand-up Finalmente em pé; quase, um recital de voz e alaúde, entremeado de piadas ;curtas, grossas, mas inteligentes, que levam o público a raciocinar;. O espetáculo marca a inauguração do Centro Cultural Brasil 21, no Complexo Brasil 21.

Stand-up
;Vemos, atualmente, essa onda de stand-up que assola o país. Isso, porém, José Vasconcelos (antigo comediante paulista), eu e outros artistas já fazíamos, na década de 1970. De qualquer maneira, é bom que surjam novos valores no humor brasileiro, tanto no teatro como na tevê.; No show de Juca, obviamente, não faltarão canções como A cúmplice, que ele compôs para a mulher, Yara, que estará na plateia do teatro, com as filhas ;adotivas ; Maria Clara e Maria Morena, de 12 e 13 anos respectivamente.

Embora as modinhas sejam também destaque na obra do Menestrel Maldito ; o pseudônimo lhe foi dado por um amigo português, quando ele esteve exilado em Lisboa, durante a ditadura ; são as sátiras que mais chamam a atenção. ;Faço sátiras desde o começo da carreira. Algumas se tornaram famosas, como Dona Maria Teresa (mulher do presidente João Goulart) e O Brasil já vai à guerra, sobre a compra de um porta-avião pela Marinha, que quase o levou à prisão.

Feita no governo do Juscelino, O Brasil já vai a guerra, produziu dissabores no período dos governos militares. ;Por causa dela, quiseram me prender, porque na letra há um verso que diz: O povo sem comida escuta as tais lorotas dos patriotas.; Depois, Juca faria: Fricote do pacote (governo Sarney), Ah se seu fusca falasse (governo Itamar Franco), ;a que satirizava Fernando Henrique Cardoso, chamando-o de Júlio César brasileiro; e O rei está nu, no primeiro governo do Lula, quando explodiu o escândalo do mensalão;, lembra.

Simpatia por Dilma
Com Dilma, por enquanto o menestrel pegou leve. ;No meu próximo CD vou gravar a música que compus para a nossa presidenta, falando:;Bom-dia, amiga Dilma, minha presidenta, que é gente como a gente/ Numa só mulher, mulher que já lutou e luta, haja o que houver, por um Brasil mais justo e autossuficiente/ Assim posso ajudar com meu talento/ Dando à criança um lar para ela ser feliz/ Apenas adotar o que eu também já fiz/ Ama com adoção mas sem preconceito;.;

Em Salvador, na década passada, Juca adotou duas crianças afrodescendentes. Depois de encontro com a ministra Maria do Rosário, em agosto último, ele se engajou na campanha Adoção sem Preconceito, do âmbito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. ;Levei a ela a minha experiência, buscando incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo;, justifica.

O artista, nascido no Rio de Janeiro e criado em São Paulo, mora há 25 anos em Salvador. Por conta disso, vem sendo chamado de soteropaulistano. ;Mantenho apartamento em São Paulo, onde tenho, também, no Itaim Biibi, um teatro que leva o meu nome. Mas estou pensando em me fixar em Brasília;, revela. O artista lançou 18 LPs e seis CDs. O mais recente é O melhor de Juca Chaves ; O Menestrel do Brasil, um pacote com três discos, que saiu pelo selo Sdrwa Records.


JUCA CHAVES
Show Finalmente em pé... quase, do cantor, compositor, músico e humorista, de hoje a sábado, às 21h. Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia para estudantes). Informações: 7819-9921 e 8431-4694. Não recomendado para menores de 18 anos.


COMPLEXO
Inaugurado há 10 anos, o Complexo Brasil 21 reúne três hotéis, um centro de convenções e seis restaurantes; aos quais se junta um centro cultural com três teatros, de 100, 200 e 300 lugares, e uma pequena galeria de artes, onde está montada exposição fotográfica de Ruy Faquini. A programação para as próximas semanas está sendo elaborada. Quem vai cumprir temporada em um dele é a Brasília Popular Orquestra, big band comandada pelo maestro Manoel Carvalho, saxofonista da Orquestra do Teatro Nacional Cláudio Santoro.

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