Diversão e Arte

Ao longo de décadas, escolas estimulam adolescentes no teatro

postado em 23/09/2011 08:33

Luana Proença (ao centro) com os alunos: escola própria depois de passar por Neia e Nando, Mapati e Oficina de Menestréis

Rosanna Viegas surgiu recentemente na novela Ti-ti-ti no papel de Rosário, empregada de Jacques Leclair. Agora, o desempenho daatriz pode ser visto na série Malícia, do canal Multishow. O ator Vinícius Ferreira estreou como músico, enveredou pelo teatro e atualmente exerce a faceta de iluminador. Luana Proença estudou teatro, tomou gosto pela educação e hoje ensina o ofício a jovens aspirantes aos tablados. Em comum, esses artistas de Brasília têm uma característica: todos passaram por escolas teatrais da cidade voltadas para o trabalho com jovens e adolescentes, a exemplo de Neia e Nando, Mapati, Oficina dos Menestréis, de Deto Montenegro (que não existe mais) e a Companhia da Ilusão. Apesar do preconceito que enfrentaram no meio acadêmico por essa experiência independente, esses atores são unânimes ao afirmar: foi, nesse espaço, que eles aprenderam que ser um ;homem de teatro; não se limita ao subir no palco.

Rosanna chegou à oficina de Deto Montenegro para se divertir e nunca mais deixou o teatro. ;Comecei pela farra, mas o bicho me mordeu;, conta. Enquanto integrou a Oficina dos Menestréis, ministrada pelo ator, ela assimilou princípios básicos da profissão, que carrega para todos os trabalhos que faz, como chegar no horário e ter senso de equipe. ;Hoje, me impressiono com atores que chegam atrasados, que não decoram o texto. Nos tempos do Deto, era preciso saber as falas de todos os atores, para poder substituir qualquer um. Ele te ensinava a estar sempre de prontidão;, afirma.

Para ela, a experiência serviu como uma espécie de introdução às matérias da universidade. ;Quando entrei no curso da UnB, as primeiras disciplinas não foram novidade. Na Oficina dos Menestréis, os atores eram formados dentro dos princípios de Stanislavski e Peter Brook, mas sem academicismo;, reconhece.

Ator e iluminador, Vinicius Ferreira foi o Aladim, de Neia e Nando

O voo de Aladim
Egresso da Cia Neia e Nando, Vinícius Ferreira precisou enfrentar a derrocada de sua banda de samba para descobrir que seu lugar era mesmo no palco. Encontrou um anúncio do grupo especializado em peças infantis e resolveu tentar a sorte, mesmo diante dos protestos dos professores da universidade. ;Na academia, dizem que falta estética, falta um monte de coisas. Mas é um recalque da intelectualidade. Essas companhias tiram o público de casa e levam para o teatro, e isso já é muito bom;, defende o ator e iluminador, que reconhece que boa parte de sua geração de colegas atores passou por uma dessas companhias de formação da cidade.

Além de se descobrir ator (ele foi o protagonista Aladim), Ferreira precisou a aprender os rudimentos de iluminação, cenário, figurino, maquiagem, produção e até mesmo o desenvolvimento de material publicitário das peças. Em dois dias, chegou a fazer 17 apresentações, em teatros, shoppings e festas de aniversário. ;A faculdade me deu a possibilidade de pensar o teatro, mas não me deu 1% da prática e da vivência que a companhia me permitiu;, admite.

Luana Proença, também presença constante no universo cênico da cidade, pode se considerar uma especialista na iniciação teatral oferecida em Brasília.Ela recebeu ensinamentos do Mapati, da Cia Neia e Nando e de Deto Montenegro. Em cada uma delas, aprendeu um pouco das lições que ultrapassam o ofício de interpretar. Limpou banheiro de teatro, vendeu ingressos para as sessões, pediu patrocínio para as padarias e locadoras dos arredores. A dedicação fez com que ela descobrisse sua paixão por compartilhar o aprendizado. Hoje, mantém a escola No Ato Produções, atividade que alterna com as aulas de mestrado.

A escola já oferece cursos de teatro básico e intermediário e de teatro-esporte e se prepara para uma expansão. ;Me apaixonei por dar aula, por ver o crescimento diário das pessoas, por perceber que os alunos se tornam pessoas mais alegres, vibrantes e expressivas. O teatro promove mudanças nas pequenas coisas da vida;, acredita.

Companhia da Ilusão

Tempo de atividade: 20 anos. SCRS 510 Bloco C ; Entrada 18 ; Sobreloja A Entrada pela W2. Informações: 3242-3544.

Cia. Teatral Neia e Nando

Tempo de atividade: 13 anos. Teatro da Escola Parque da 307/507 Sul. Informações: 8199-2120.

No Ato Produções

Tempo de atividade: 3 anos. 716 Norte, Bloco C, sala 33, subsolo. Entrada pela W4. Informações: 9311-4525.

Teatro Mapati

Tempo de atividade: 20 anos. SHCGN 707, Bloco K, número 05 (próximo ao UniCeub). Informações: 3347-3920.

Alberto Bruno (C) e os alunos da Companhia da Ilusão: formação de plateia e de atores

Com a palavra, os professores
A Cia Teatral Neia e Nando completa 13 anos como uma das poucas que se sustentam financeiramente em Brasília. Apesar disso, o começo foi penoso. Para sobreviver na cena teatral e atrair público (;no começo havia mais gente no palco do que na plateia;, afirma Nando Villardo), o casal que idealizou a trupe investiu em aulas de formação. Hoje, já contabiliza mais de quatro mil alunos e 47 atores no elenco fixo, 39 deles com registro profissional e atuantes nas produções brasilienses, e brasileiras. ;Tomamos cuidado com o ego dos meninos. O ator é protagonista em uma peça, porteiro na outra, faz uma ponta na seguinte e, na quarta produção, nem aparece;, ensina.

Outro ator e diretor atuante na cidade é Alberto Bruno, da Companhia da Ilusão. Sua escola surgiu quando Bruno, recém-formado em artes cênicas e entusiasta de Stanislavski, perdeu o emprego em um órgão público. Por sua sala de aula, já passaram mais de dois mil atores, que além do curso básico de dois anos e meio, podem continuar atuando nos núcleos de pesquisa e montagem da companhia. ;O Brasil ainda não reconheceu a importância dos pequenos espaços de divulgação do teatro, que pagam tantas taxas que acabam trabalhando de graça. Esses batalhadores são formadores de plateia e ainda empregam muita gente;, exemplifica.

Teresa Padilha, do Teatro Mapati, começou seu magistério artístico também por acaso. Depois de montar o grupo de teatro, passou a receber visitas diárias de uma menininha que se plantava diante de sua porta, pedindo por um curso de atuação. ;Muitos dos que passaram por aqui estão atuando nos grandes centros ou foram embora do Brasil;, destaca.

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