postado em 25/09/2011 10:38
Com a promessa de uma edição ;nova, moderna e instigante;, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro completa 44 anos diante de um desafio que deve se revelar decisivo para a história da mostra mais antiga do país: mudar para permanecer relevante. No papel, a intenção pode parecer bem-vinda, e acima de qualquer polêmica. Mas as alterações radicais no perfil do evento, divulgadas há quatro meses pela Secretaria de Cultura do DF, instalaram um clima de incerteza entre cineastas, críticos e cinéfilos. Sabe-se que o Festival de Brasília não é mais o mesmo. Mas que festival será este? A resposta ao mistério será conhecida a partir de amanhã, quando o roteiro de novidades finalmente entra em cartaz.Para se impor diante da concorrência de festivais, Brasília aboliu a valorização do ineditismo na escolha dos longas-metragens, se antecipou no calendário do ano cinematográfico e instituiu prêmios maiores em dinheiro. A série de medidas foi tomada para garantir uma programação mais robusta. Na prática, no entanto, o pacote de reformas trouxe efeitos que preocupam uma parte da classe cinematográfica. A mais controversa envolve o novo critério de seleção de filmes: entre jornalistas que cobrem o evento, correm críticas de que uma competição ;de segunda mão; (com longas que disputaram em outras mostras brasileiras) pode enfraquecer o prestígio da capital.
O argumento é defendido por membros da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), e rejeitado pela coordenação do Festival de Brasília, que aposta no objetivo de exibir ;o melhor da produção nacional;, independentemente do ineditismo. ;As mudanças conceituais precisavam ter sido feitas. O festival tem que voltar a ser importante para Brasília, para o cinema brasileiro e para o país;, afirma Nilson Rodrigues, coordenador geral do evento.
Entre cineastas e produtores, não há consenso em relação ao vespeiro: a maioria vê a alteração com simpatia, já que ela alarga a rede de exibição onde os filmes podem circular e competir. Na Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV), também não há posição unânime, ainda que grande parte seja contrária à queda do ineditismo (leia mais na página 3). ;É bom lembrar que o ineditismo nunca foi uma obrigação no Festival de Brasília. Existia a preferência pelo ineditismo;, observa o crítico João Carlos Sampaio, secretário da Abraccine, que já integrou a comissão de seleção há dois anos.
Para Sampaio, os filmes que não são inéditos poderiam ter sido exibidos numa mostra paralela, de caráter informativo (e não competitivo). ;Faltou coragem e ousadia. O festival optou por filmes que já foram testados, que já passaram por um crivo. Os filmes são o patrimônio, a matéria-prima de qualquer festival. Por mais que mudanças sejam necessárias, não se pode rasgar a sua história;, destaca. Ele desconfia que a comissão julgadora não teria tido tempo hábil para ver todos os filmes ; foram 624 inscritos, sendo 110 longas (56 inéditos), 415 curtas e 99 fitas de animação. O processo de seleção abarcou o período logo após 30 de junho (o último dia das inscrições) até 15 de julho, quando foi divulgada a lista dos escolhidos. ;Não recebi nenhuma reclamação da comissão de seleção nesse sentido;, garante Nilson.
Reprises
Entre os seis longas que disputam Candangos, três já foram exibidos em outras mostras nacionais de grande porte: Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra; e Meu país, de André Ristum, competiram em Paulínia ; e perderam para A febre do rato, de Claudio Assis. Já As hiper mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, estreou em Gramado. Os três filmes foram vistos pela equipe do Correio. Os inéditos no país, que começam a trajetória em Brasília, são Hoje, de Tata Amaral; O homem que não dormia, de Edgard Navarro; e Vou rifar meu coração, de Ana Rieper. Além da mostra principal ; que este ano será exibida simultaneamente em mais três cidades (veja quadro) ;, o festival contará com cinco seminários, cinco oficinas, quatro mostras paralelas e a Mostra Brasília, agora transferida para o Museu da República.
Cineastas que participam da edição não fazem ressalvas quanto às mudanças promovidas pela Secretaria de Cultura e preferem elogiar o aumento da premiação, que se iguala ao maior prêmio nacional (R$ 250 mil para o melhor longa, o equivalente ao prêmio máximo de Paulínia). ;O valor do prêmio, por si só, já sinaliza que o festival quer apoiar o lançamento dos filmes. Isso devia servir de exemplo;, comenta Tata Amaral. Já Edgard Navarro, vencedor do Candango em 2005 (por Eu me lembro), acredita que o festival está se comportando ;de uma maneira inteligente;. ;Por ser o festival mais tradicional, ele precisava de uma renovação. A mudança de data foi um avanço: antes, ele ficava com o rebotalho dos outros festivais;, diz.
44; FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
De 26 de setembro a 3 de outubro. Cerimônia de abertura amanhã, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, com exibição especial do longa Rock Brasília ; Era de ouro, de Vladimir Carvalho. A mostra competitiva começa terça-feira, às 20h30, no Cine Brasília, Teatro de Sobradinho, Cinemark Taguatinga Shopping e Teatro Newton Rossi (Ceilândia). Confira preços no Roteiro. Não recomendado para menores de 14 anos.