RIO ; Nostalgia. Esse foi o sentimento que bateu forte ao pisar o chão ; coberto de grama sintética ; da Cidade do Rock, 26 anos depois. No começo da noite de sexta-feira, a lembrança da primeira edição do Rock in Rio, em janeiro de 1985, veio imediatamente. Recordações de momentos que entraram para a história do festival: as magnéticas apresentações do Queen e do Yes; o vigor do Iron Maiden no auge da carreira; a volta por cima de James Taylor depois de problemas com as drogas; as loucuras de Ozzy Osbourne e Nina Hagen. Sem esquecer as jovens bandas brasileiras, como o Barão Vermelho e os Paralamas do Sucesso que, pela primeira vez, participavam de um evento de grande porte.
Bastou adentrar naquele espaço sagrado dos roqueiros para ser tomado por um turbilhão de emoções. A primeira delas: quem abriu o festival, tocando no palco alternativo Sunset, foi a banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, única de sua geração a chegar ao mainstream nacional. André Gonzales e sua galera mostraram por que são tão elogiados pela critica ao tocar com a Orkestra Rumpilezz, do saxofonista Letieres Leite (BA), e com a cantora paulista Mariana Aydar.
A emoção foi ainda maior com a abertura da programação do Palco Mundo. Nos telões, imagens de Freddie Mercury, o lendário vocalista do Queen, cantando e regendo o público em Love of my life, no festival de 1985, juntaram-se à voz poderosa de Milton Nascimento, estabelecendo um improvável dueto na canção.
Quando os Paralamas do Sucesso e os Titãs, acompanhados pela Orquestra Sinfônica Brasileira, deram início ao primeiro show, a Cidade do Rock, em formato de guitarra, com suas torres tecnológicas e espaço cênico monumental, recebia boa parte das 100 mil pessoas que marcaram presença naquela primeira noite. Gente que enfrentou engarrafamentos gigantescos para chegar ao local. Fazendo uma viagem no túnel do tempo, os Paralamas abriram a apresentação com Óculos, um dos primeiros sucessos. Os Titãs fizeram o mesmo, atacando de Sonífera Ilha. As bandas tiveram Maria Gadú como convidada, que cantou Lourinha bombril.
Ao levar axé music para o festival de rock, Cláudia Leitte, a segunda atração, poderia parecer uma estranha no ninho. Mas, como estava diante de uma plateia heterogênea, fez o público entrar no clima. Ela se apresentou na mais pop das noites desse festival, que celebrou Katy Perry e Rihanna, ícones das novas gerações, e aproveitou para mostrar a música Samba, que virou clipe com a participação de Ricky Martin.
O melhor viria a seguir. Katy Perry fez um showzaço, com forte apelo visual, que incluiu sucessivas trocas de figurinos. Chamou ao palco um rapaz de Sorocaba, com o tórax à mostra, e lhe cobriu de carinhos. A cantora norte-americana enfileirou hits como Peacock, I kissed a girl, Last friday night e California gurls. Aguardadíssimo pelos roqueiros das antigas, Sir. Elton John surgiu no palco majestoso, à meia-noite. Desde Saturday night, com o qual abriu a apresentações, a Your song, que cantou quase no encerramento, o público viu e ouviu um desfile de clássicos do pop, não faltando, é claro, o maior deles: Rocket man. Francisco Caputo, presidente da Ordem dos Advogados do Distrito Federal, que curtiu um dos points do festival, a Rock Street, uma ruazinha cenográfica com ares de New Orleans, afirmou: ;Vim ao Rock in Rio acompanhado por minha mulher por causa de Elton John. Ele fez a cabeça de minha geração;.
Já a cabeça dos meninos de meninas da geração internet foi feita por Rihanna, que fechou a programação da primeira noite do festival causando, embora boa parte do público já tivesse deixado a Cidade do Rock no começo da madrugada de sábado. Sedutora, ela entoou hits como Olly girl, Disturbia, S & m, Umbrella. Deixou o palco ovacionada.
A força californiana
Na noite de sábado, a chuva, que chegou a cair em alguns momentos, provocou-me outra vez a recordação de 1985, quando, em pleno verão carioca, caiu tempestade e transformou a Cidade do Rock em um imenso lamaçal. Mas deu trégua quando o Capital Inicial entrou em cena e as gotas que caíram foram bem absorvidas pela grama sintética. Essa foi uma noite eminentemente roqueira. Afinal de contas, entre as atrações, estava a mais esperada de todas: a banda californiana Red Hot Chilli Peppers.
Antes da apresentação de Anthony Kiedis e seus companheiros, surgiram em cena duas bandas pouco conhecidas do Brasil fizeram a festa: Stone Sour e Snow Patrol. Mas quem abriu a programação foi a teen NXZero, que também tinha lá seus fãs. O Capital Inicial, mesmo fazendo um show sem novidades, estabeleceu interação com a plateia. A grande expectativa, porém, era em relação ao Red Hot, responsável por uma performance arrebatadora, que levou os fãs a uma quase catarse, ao mandar clássicos como By the way, Otherside, Californication e Give it away. Mais cedo, no palco Sunset, onde encontros inusitados ocorriam, quem brilhou foi Milton Nascimento ao lado da norte-americana Esperanza Spalding. No domingo, o show mais esperado era o de um ícone do heavy metal, a banda Metallica.
Nesta semana, quando o Rock in Rio chega ao fim, uma das maiores apostas é o Concerto Sinfônico Legião Urbana, com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, recebendo convidados acompanhados pela Orquestra Sinfônica Brasileira. No último fim de semana, apresentam-se ainda Jamiroquai e Stevie Wonder. Outra noite pop será a de sexta-feira, que reunirá Lenny Kravitz, Shakira e Ivete Sangalo. O destaque de sábado será o Coldplay. Finalmente, o Rock in Rio 4 se encerra no domingo, com rock pesado do Guns N; Roses.
O repórter viajou a convite de um dos patrocinadores do evento