Entre todas as novidades que entraram em cena na 44; edição do Festival de Brasília, uma alteração em especial mexeu com os humores de cineastas e produtores da cidade. A Mostra Brasília, uma das maiores conquistas da classe cinematográfica local, muda de endereço, deixando de ocupar o Cine Brasília (a principal vitrine do festival) e a Sala Martins Pena. A seleção paralela ; composta por filmes do Distrito Federal que não entraram na competição ; foi transferida para o Auditório 1 do Museu da República.
Os curtas brasilienses, que antes eram exibidos também em 35mm, serão todos concentrados no novo espaço de projeção, em formato digital. Somente os longas continuam a ser exibidos no Cine Brasília, na programação das mostras paralelas Primeiros Filmes e Panorama Brasil. Um rearranjo que surpreendeu principalmente os curtas-metragistas. ;O Cine Brasília é o grande palco do festival. Não diria que perde o glamour, mas, para o realizador, é melhor exibir os filmes naquele espaço;, aponta Antonio Balbino, 33 anos, diretor de Pique-salva.
Presidente da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV), João Procópio acredita que as mudanças diluíram o prestígio da Mostra Brasília. As sessões no Cine Brasília, segundo ele, funcionavam como uma ;curadoria; para as produções, selecionando automaticamente as mais profissionais. ;Com o fim da diferença, que é algo que a gente defende e apoia, toda a produção de curtas da cidade entrou na mesma sessão. Ali, tem de tudo: de filmes bem produzidos a gravações surradas;, observa. ;Já que todos os filmes inscritos passam na Mostra Brasília, você vê curtas que não teriam condições de estar no festival, às vezes, sem captação de som decente. Isso tem que ser analisado mais à frente;, comenta.
Em assembleia da ABCV, o clima era de desânimo. ;Neste ano, a produção local é tratada como um problema, e não como celebração. Vi realizadores desacreditados, achando que tanto faz passar o filme ou não. Teremos muitas emoções nesta semana;, prevê Procópio. Segundo o coordenador-geral do evento, Nilson Rodrigues, a troca de salas se fez necessária para resolver o problema da lotação da mostra. ;Ela estava ficando muito cheia. Não cabia mais na Martins Pena. No Museu da República, o espaço é maior;, explica.
Desconfiança
O cineasta Gustavo Serrate, 30 anos, também encara com desconfiança a alteração na estrutura da mostra. Ele participa de um grupo de discussão no Facebook que debate o tema. ;Não fomos avisados sobre o motivo da mudança, não sei o que levou a Secretaria de Cultura a mudar (a sala de exibição). Ainda não sabemos se o museu será um lugar adequado, nos fins de semana, a mostra sempre atraía um público grande;, lembra. Na terceira participação no Festival de Brasília, Serrate exibe os curtas Pingo e Alice, Casais de domingo e Ascensão.
Ao todo, serão 60 curtas em cartaz, quatro deles em animação. Eles e os cinco longas da cidade (Rock Brasília, de Vladimir Carvalho; Cru, de Jimi Figueiredo; Periférico 304, de Paulo Z; A cidade é uma só?, de Adirley Queirós; e Sagrada terra espetacular ; A luta contra o setor Noroeste, de Zé Furtado;) disputam os troféus da Câmara Legislativa, que distribui R$ 150 mil em prêmios.
A antecipação da data do festival também provocou irritação entre os cineastas que estavam em meio ao processo de finalização dos filmes. ;Perdi patrocínio, ator, foi difícil encontrar equipamento na cidade. Não tivemos tempo suficiente, já que nos programamos para entregar o filme na data de costume;, afirma Antonio Balbino, que participa do festival pela terceira vez.
Apesar do predomínio quase absoluto de diretores que ainda não têm longas-metragens no currículo, a Mostra Brasília contará com a participação de André Luiz Oliveira, que venceu o Candango de melhor longa com Louco por cinema (1995). ;A mostra tem sido ampla, e muito boa para cineastas novos. É um estímulo excelente, já que funciona como uma amostragem de primeiros filmes;, aponta. Procópio, da ABCV, concorda. ;A mostra é uma vitrine maravilhosa para as nossas obras;, afirma. No entanto, pondera: ;Do jeito que está, ficou tudo separado: os longas no Cine Brasília, os curtas no museu. Mudanças são bem-vindas, mas não se pode criar algo irreconhecível;, conclui.
MOSTRA BRASÍLIA
Exibição de curtas brasilienses, no 44; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. De hoje a domingo, às 15h, no Auditório 1 do Museu Nacional da República (Eixo Monumental, entre a Rodoviária do Plano Piloto e a Catedral). Entrada franca. Não recomendado para menores de 14 anos.
Os longas de Brasília
AMANHÃ
Sagrada terra espetacular ; A luta contra o setor Noroeste, de Zé Furtado, às 15h, no Cine Brasília
SEXTA-FEIRA
Periférico 304, de Paulo Z, às 15h, no Cine Brasília
SÁBADO
A cidade é uma só?, de Adirley Queirós, às 15h, no Cine Brasília
SEXTA
Media training, de Eloar Guazzelli e Rodrigo Silveira (SP) Cafeka, de Natália Cristine (RS)
DOMINGO
Cru, de Jimi Figueiredo, às 15h, no Cine Brasília. Rock Brasília ; Era de ouro, de Vladimir Carvalho, às 17h30, no Cine Brasília