Diversão e Arte

Exagero distancia personagens femininas de Fina estampa da realidade

Mariana Trigo
postado em 27/09/2011 08:36

Griselda, interpretada por Lilia Cabral: figurino exageradamente masculino e trejeitos de ogro

Quase todas as personagens femininas de Fina estampa parecem distantes da realidade. Em uma análise mais cuidadosa das tramas de Aguinaldo Silva, fica claro que o autor assumidamente escreve histórias sobre ;o eterno feminino; para serem protagonizadas por mulheres fortes e batalhadoras ; como Maria do Carmo (Susana Vieira), em Senhora do destino ; e vilãs absolutamente insanas ; como Nazaré (Renata Sorrah), também em Senhora do destino, ou Adma (Cássia Kiss), em Porto dos milagres. Mas, em Fina estampa, é possível perceber que diversas personagens se distanciam de um tom verossimilhante.

Griselda, por exemplo, é brilhantemente interpretada por Lilia Cabral, mas, independentemente da sua intérprete, é difícil levar a personagem a sério, por causa do figurino exageradamente masculino e dos trejeitos de ogro. Em contrapartida, a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) também peca pelo excesso em sucessivos ataques de histeria. Por mais peruas que as ricaças emergentes da Barra da Tijuca possam ser, é duro acreditar em uma personagem tão exagerada, quase sempre muitos tons acima. No entanto, esse extremo também provoca uma antipatia proposital à personagem.

Dessa forma, o distanciamento do que parece crível se estende por diversos núcleos. Apesar da atuação convincente de grande parte do elenco feminino, algumas personagens parecem sair de contos de fadas. Por exemplo, a desprotegida e mimada Patrícia (Adriana Birolli) e a sóbria Letícia (Tânia Khallil). No caso dessa última, basta observar o comportamento resguardado e tímido da professora universitária viúva e atrapalhada para identificar os arquétipos demasiadamente evidentes na trama. A personagem de Tânia parece que vai, a qualquer momento, perder os sapatinhos de cristal em uma escadaria do cenário.

Outra que carece de um toque verossimilhança é a simpática Zambeze (Totia Meirelles), que parece ter saído do musical hippie Hair. Sempre zen, a massagista e dona de pousada só falta circular pelo quiosque onde grava, na praia do Jardim Oceânico, com incensos nas mãos. Na verdade, o que se observa, é um exagero de tonalidades fortes que pincelam determinadas personagens da história ; que atualmente se estabiliza com uma satisfatória média de 40 pontos no Ibope.

A boa audiência é mérito do autor, que escolheu uma temática atraente e a ambientação em cenários solares, como o Jardim Oceânico, região do início da Barra da Tijuca. E é mérito também do diretor Wolf Maya. Nesta entrada da primavera, e com a proximidade de dias mais ensolarados, stock-shots de kitesurfes multicoloridos ao vento, gente sarada pelas praias e um clima permanente de férias, que sugere o bairro, parecem seduzir o público com mais facilidade. Principalmente após os tensos momentos da reta final da antecessora Insensato coração, com sequências de sequestros, tiroteios e vilanias mais atrozes.

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