Diversão e Arte

Obra que inspirou seriado conta histórias da publicidade dos anos 60

postado em 28/09/2011 09:00

Jon Hamm interpreta Donald Draper, diretor de criação da Sterling Cooper, na série sobre os bastidores da propaganda

A redação da Sterling Cooper, agência de publicidade fictícia do cultuado Mad men, série vencedora do Emmy de 2011, a caminho da quinta temporada, é realmente um escritório de ;homens loucos;, como diz o título do seriado criado por Matthew Weiner (produtor e roteirista de Família Soprano). As reuniões são regadas a drinques e cigarros à vontade. Se uma secretária novata desfila pelos corredores, redatores, ilustradores e gerentes de conta partem para o ataque como lobos famintos atrás da novidade do rebanho: forçam conversas fúteis, exageram nos elogios e sugerem almoços ou jantares caros se são recebidos com frieza. E, acredite ou não, tudo isso tem um fundo de verdade.

O livro Mad men: comunicados do front publicitário (Record), de Jerry Della Femina, consultor da primeira temporada do programa, revela os comportamentos, as crises e os relacionamentos nem sempre cordiais do mercado habitado pelos mad men nos anos 1960, que povoavam os edifícios da Madison Avenue, em Nova York: um mundo semelhante ao do drama do canal a cabo AMC (de Breaking bad e The walking dead), exibido no Brasil pela HBO.

Na introdução desta reedição, que recupera o escrito publicado pela primeira vez em 1970 e que serviu de inspiração para a série, o autor anuncia que seus colegas (e possíveis rivais) não foram poupados: ;Para proteger tanto os inocentes quanto os culpados, foram usados alguns pseudônimos neste livro, mas 99,4% dos nomes, agências e situações descritas são reais;.

Entre briefings e martínis
Della Femina entrou no mercado como um garoto qualquer: em 1952, com 16 anos, era office boy da agência Ruthrauff & Ryan. Quatro anos depois, tentou vaga para assistente de redação da conta da Ford Truck, e apresentou portfólio a um dos chefes. O trabalho foi elogiado, seguido de um golpe: ;É a conta da Ford e eles não querem gente do seu tipo trabalhando com a empresa deles;.

Naqueles tempos, predominavam as agências protestantes, enquanto as judias ficavam com clientes menores. Na virada dos anos 1960, porém, o quadro foi invertido: os judeus estavam na moda. E Della Femina, finalmente empregado em 1961, participava de uma nova geração de sujeitos criativos, de famílias gregas e italianas.

Os ;babados; confidenciados por Della Femina ajudam a emoldurar uma época de ouro da profissão. Foram anos elegantes, agitados e impertinentes. A publicidade mudou muito desde então: os clientes preferem anunciar na internet do que na tevê, no rádio ou nos jornais impressos, e as equipes de criação, antes às dezenas, foram reduzidas a um trabalho quase individual, graças à agilidade dos computadores.

Nem por isso Mad men, livro e seriado, dá a impressão de algo obsoleto. As meias verdades (ou meias mentiras) muito bem contadas por Della Femina e Donald Draper (o ator Jon Hamm), diretor de criação da Sterling Cooper, sobrevivem facilmente ao teste do tempo. E com charme.

Bastidores
Já em O guia não oficial de Mad men (BestSeller, selo de títulos sobre negócios e marketing da Record), o roteirista e crítico de tevê Jesse McLean faz um trabalho de fã: reúne biografias do elenco, detalhes de bastidores, sinopses comentadas das duas primeiras temporadas do programa e passagens que relacionam a publicidade da ficção aos anúncios da época. Há até um texto que ensina a organizar uma festa ao estilo de Mad men, em forma de diário. ;Aí estão todas as etapas necessárias para dar uma festa de sucesso ; exceto pelos prejuízos pessoais, processos, ressacas;;, brinca McLean.

Domínio no Emmy
Na edição de 2011 do Emmy Awards, principal prêmio da tevê norte-americana, Mad men venceu, novamente, como melhor série dramática: desde 2008, ano da primeira indicação, o programa domina a categoria.

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