Um grupo de sete investidores estrangeiros, formado por jornalistas, radialistas e produtores culturais, esteve em Brasília, quarta e quinta-feira passadas, para participar de uma série de atividades dentro da primeira Rodada de Negócios Internacional da Música. O evento fez parte do Projeto Comprador e Imagem, realizado já há alguns anos em outras cidades e, pela primeira vez, em Brasília. O objetivo é colocar, frente a frente, músicos e investidores. Desse encontro podem sair negócios fechados para lançamento de discos, apresentações e a veiculação da produção local em outros países.
Realizado pela Secretaria da Micro e Pequena Empresa e Economia Solidária, com produção da associação cultural Ossos do Ofício, e em parceria com Brasil Música & Artes (BMA) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), a rodada contou com a presença dos britânicos Sharon Elizabeth Dean, diretora da Respect Music, agencia de empresariamento; Jody Gillett, diretora da revista Mondo Mix; Andy Wood, funcionário da Como No, produtora de shows latinos no Reino Unidos; Arwa Haider, jornalista do tabloide Metro UK; o jornalista Joe Muggs, a indiana radicada na Inglaterra Lopa Kothari, radialista da BBC; e o holandês Robert Urbanus, funcionário da distribuidora Sterns Music.
Urbanus comenta que não veio ao Brasil buscar um tipo específico de música, mas tem a expectativa de se surpreender com as novidades que conhecer durante a viagem: ;Procuro música em geral. Das mais tradicionais às mais desafiadoras, como por exemplo, Nação Zumbi e DJ Dolores;. O importante é que tenham um sentimento brasileiro, ele ressalta.
Joe Muggs observa que, mais do que a música em si, ele se interessa por novas formas de divulgá-la. ;Ver como as pessoas estão em plena era da internet e do fim da indústria musical como a conhecíamos, levando o seu trabalho até o público.; Arwa Haider quer levar do Brasil as inspirações que não chegam até lá. ;Até porque seria muito pretensioso da nossa parte dizer ;isso é a música brasileira; baseado em apenas um recorte do que é o todo. Nossa missão é tornar essas músicas viáveis para o nosso público;, comenta Arwa Haider.
Vender o peixe
Na quinta-feira foi realizado um pitching, atividade que compreende uma rápida apresentação de um produto no intuito de convencer um interlocutor (no caso, os investidores internacionais) de sua qualidade e viabilidade. Trocando em miúdos, ;vender o peixe;. Em contrapartida, os investidores comentam o trabalhos dos participantes do pitching e sugerem melhorias.
;Mas não é um show de talentos. Quem não foi selecionado para participar do pitching não deveria se sentir um perdedor, porque a ideia é fazer uma troca de experiências e todos estavam convidados a participar como ouvintes.
Porque levantamos questões importantes para a profissionalização da carreira. Afinal, como esses músicos enxergam sua produção, como um hobby ou uma carreira?;, questiona o gerente da BM, David McLoughlin.
Foram escolhidos para participar da atividade mais de 20 artistas locais, todos contemplados, nos últimos cinco anos, com o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). A lista contava com artistas do Distrito Federal de estilos musicais diversos, de Marafreboi a Satanique Samba Trio, passando por Jaime Ernest Dias, Orquestra de Violões de Brasília e Mestre Zé do Pife.
;Eu achei sensacional e participaria novamente se possível;, avaliou Fernanda, vocalista da banda Lucy and the Popsonics. ;Recebemos dicas interessantes e importantes e nos comprometemos com possibilidades futuras. Não há nada concreto, mas sabemos que abrimos algumas portas;, ela conta.
Fred Magalhães, do Patubatê, comenta que, das conversas com os investidores, foi possível ter uma ideia de qual mercado melhor absorveria a música do grupo de percussão: ;Fizemos muitos contatos e a expectativa é fechar negócios no futuro;.
Débora Aquino, da Ossos do Ofício, aponta a dificuldade para viabilizar uma carreira em Brasília e as possibilidades que existem fora da cidade. ;A gente sabe que a produção local é grande e não estamos conseguindo escoá-la.
Os artistas estão se profissionalizando, estamos num momento de pensar em vendas internacionais;, afirma. Lopa Kothari concorda: ;As janelas para o mercado estrangeiro estão abertas.
Existe interesse do público. É hora de aparecer;.
Currículos dos investidores:
Andy Wood (Inglaterra)
Andy é responsável pelo relacionamento internacional da Como No, a maior produtora de shows de música Latina no Reino Unido. A Como No já realizou inúmeros shows e eventos em casas de shows, teatros e clubs.
Arwa Haider (Inglaterra)
Jornalista de cultura que atua como editora de música do jornal Metro UK. Arwa já cobriu música, noite, cinema e cultura pop para outros veículos como Time Out, The Times, NME, The Guardian, BBC Radio, MixMag entre outros. Entre 2007 e 2009, Arwa foi júri do Mercury Music Prize, que acontece todo ano na Inglaterra.
Jody Gillett (Inglaterra)
Baseada em Londres, Jody trabalhou por mais de 15 anos commarketing e promoção na cena de música independente e no gerenciamento de gravadoras no Reino Unido. Hoje Jody é editora de música e cultura na revista MondoMix, RP de artista internacionais e consultora da BM no Reino Unido.
Joe Muggs (Inglaterra)
Joe é jornalista e fã de música eletrônica. Já teve textos publicados nos mais importantes veículos do Reino Unido, como Wire, Word, Mixmag, The Guardian, etc e é um grande curioso sobre a música brasileira.
Lopa Kothari (Inglaterra)
Lopa é artista e radialista. Esta indiana que mora em Londres apresenta um programa de "world music", que toca faixas das mais ecléticas e distintas etnias: o World on 3, no ar todas às sexta-feiras na BBC Radio 3. Desde que se mudou para a capital inglesa em 1997, Lopa já passou por outras emissoras de rádio Televisão. Lopa também é cantora e compositora.
Sharon Elizabeth Dean (Inglaterra)
Sharon é diretora da Respect Music, uma empresa de empresariamento e produção que possui em seu casting artistas como Goran Kay, Nell Bryden, Tenny Ten e Sarah Class. Ela também é membro da Association of Independent Music (AIM) (associação de música independente) e diretora da NARIP (National Association of Record Industry Professionals)
Robert Urbanus (Holanda)
Robert trabalha na Sterns Music, uma gigante distribuidora/selo de música Africana em todo o mundo. Com sede em Londres e Nova York, a Sterns divulga a música do continente africano e propõe uma abertura a sonoridades de outras etnias que de alguma forma possam ter relação com seu cast.