Compositor, poeta, roteirista e tradutor, Geraldo Carneiro tem muito a contar. ;Vou falar dessa coisa estranha que é a compulsão de fazer poesia. Me lembro de alguns poemas como se fizessem parte da minha pele. Acho que vou falar alguns poemas também;, avisa sobre a participação no projeto Escritores brasileiros, hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), e amanhã, às 20h, no Sesc Taguatinga. Na penúltima edição do evento, o convidado revela histórias interessantes, como a vez em que ;bateu uma poesia; durante uma peça de Samuel Beckett e ela foi escrita com um lápis de maquiagem emprestado, sobre o processo de criação. ;Na verdade, é a poesia que escreve o poeta e não o contrário. Ele se torna um office boy da linguagem porque é conduzido por ela;, reflete. Com entrada franca, os encontros também contam com a presença da atriz Mariana Ximenes e de Marcelo Andrade, idealizador e curador do projeto.
Por ser o trabalho mais recente de Carneiro e pela indicação ao Prêmio Jabuti na categoria poesia, Poemas reunidos é um dos temas do bate-papo. A coletânea com oito obras do autor foi lançada em várias capitais do Brasil (incluindo Brasília, na Feira do Livro de 2010) e teve uma estreia nada convencional, em Portugal. ;Fui à casa de Fernando Pessoa por outro motivo quando surgiu a chance de fazer o lançamento lá. Topei, mas foi engraçado porque foi uma divulgação sem livro, que chegou atrasado, um dia depois;, lembra.
Nos tablados do CCBB e do Sesc, a atriz Mariana Ximenes faz leituras de textos do autor de Piquenique em Xanadu. Sucesso como a vilã Clara em Passione, a artista não foi escolhida ao acaso. Ela já esteve com o escritor em outros trabalhos, como o curta-metragem Miragem em abismo, com poemas de Carneiro e direção de Eryk Rocha (Transeunte). ;É uma parceira antiga. Conheci a Mariana quando ela tinha 17 anos e desde então ela tem participado de vários eventos comigo. Ela é uma figura encantadora;, elogia.
Janete Clair
;Tive pouco contato com a obra de Janete Clair antes de O astro porque foi uma encomenda para ficar pronta na semana seguinte. Mas sinto que o espírito dela está de alguma maneira presente no texto que a gente escreve;, comenta Geraldo Carneiro sobre a nova versão escrita com Alcides Nogueira. O remake bebe na fonte da poesia da literatura e traz inspirações de Cartola e Lupicínio Rodrigues até Charles Baudelaire e Rainer Maria Rilke.
;Depois do convite do diretor Roberto Talma, descobri que tinha uma afinidade imensa com a Janete. Descobri que o lirismo dela estava ligado ao lirismo da poesia. Aí propus ao Alcides que muitos personagens pensassem poemas. A poesia tem uma voltagem dramática tamanha que, talvez, fosse inaceitável em uma novela naturalista, mas que tem lugar em uma produção inspirada em Janete Clair;, explica o autor sobre a trama rica em referências literárias: o personagem Márcio Hayalla (Thiago Fragoso) foi baseado no príncipe Hamlet e, o vilão Samir Hayalla (Marco Ricca), em Ricardo Terceiro.
Jabuti de poesia
Os finalistas do 53; Prêmio Jabuti foram anunciados no último dia 21. Há concorrentes de peso na categoria Poesia, em que Geraldo Carneiro disputa com Poemas reunidos. Ferreira Gullar (Em alguma parte alguma), Adélia Prado (A duração do dia), Manoel de Barros (Poesia completa) e Arnaldo Antunes (N.D.A) são alguns dos autores finalistas. O resultado será divulgado no dia 30 de novembro, em São Paulo.
ESCRITORES BRASILEIROS
Com Geraldo Carneiro e Mariana Ximenes. Hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22; 3310-7087). Amanhã, às 20h, no Sesc Taguatinga (CNB 12, Área Especial 2/3, Taguatinga Norte; 3451-9103). Entrada franca mediante retirada de senha, distribuída uma hora antes do início de cada evento. Não recomendado para menores de 12 anos.