Diversão e Arte

7º Festival de Cultura Popular celebra a diversidade de Brasília

Regina Bandeira, Especial para o Correio
postado em 07/10/2011 08:29

O evento apresenta 11 grupos nordestinos, como Filhos de Gandhy e a rabequeira Renata Rosa

Ao som da percussão forte do samba pisado do grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, uma dezena de bonecos iluminados e coloridos invadirá o Complexo Cultural da Funarte, atrás da Torre de TV, até domingo. Um cortejo de seres mitológicos do cerrado anunciará a 7; edição do Festival Brasília de Cultura Popular.

O encontro reúne brincantes e músicos de todos os cantos do país, numa festa em homenagem ao mais moderno mito do folclore brasileiro, o Calango Voador ; ;uma brincadeira que traduz a cidade para a cidade, fortalecendo nossas raízes com o cerrado;, define o pai do mito e fundador do grupo, Tico Magalhães.

Durante os três dias de apresentação, oito artistas de Brasília e 11 grupos nordestinos de renome, como a rabequeira Renata Rosa (Prêmio da Música Brasileira de melhor cantora regional em 2009) e Filhos de Gandhy, que este ano completou 62 anos de existência, ocuparão o teatro de terreiro para celebrar a cultura brasiliense e suas origens.

A chegada do Calango Voador, hoje no festival, promete ser uma festa especial de cor e música. Com um cortejo formado por 70 pessoas, entre artistas, gente da comunidade do Fuá do Terreiro e 15 bonecos gigantes ; como o Calango Voador, de 12m de comprimento, Seu Estrelo receberá a chave da cidade, abrindo oficialmente o festival. O cortejo está marcado para ocorrer depois da apresentação do tradicional bloco baiano de afoxé, que traz para Brasília um elenco de 17 músicos.

Para amanhã, a festa também está garantida com apresentações de maracatu, frevo e bumba-meu-boi ; com o mestre Teodoro (DF), a Orquestra Marafreboi e o pernambucano Piaba de Ouro. A grande atração da noite será a pernambucana Renata Rosa, importante compositora e pesquisadora de maracatu-rural e cavalo-marinho. As musas Aurinha do Coco (PE), Ana Lúcia do Coco do Amaro Branco (PE) e Martinha do Coco (DF) fecham a noite.

Pernambuco volta ao tablado no terceiro e último dia de festival com o som de Siba (ex-vocalista do Mestre Ambrósio) e o grupo Fuloresta, formado por músicos da Zona da Mata pernambucana, de onde Siba bebe da fonte. Domingo também é dia para ouvir a sambada de Seu Estrelo. Batizadas de samba pisado, as fontes sonoras e estéticas do grupo também estão nas tradições dos maracatus e cavalos-marinhos nordestinos.

Mas não só. Tico admite até a influência do grafite dos gêmeos paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo, do Cirque du Soleil, assim como do candomblé, em seu trabalho. ;Daqui, abraçamos a invenção. Aqui, as pessoas se reinventam o tempo todo; fazemos isso com nosso trabalho;, elogia o pernambucano. Enamorado do cerrado, ele chegou a penhorar um carro para pagar dívidas com os gastos de festivais anteriores. Na edição deste ano, os bonecos do Seu Estrelo revelarão até uma remota influência oriental e, assim como as lanternas chinesas, serão iluminados internamente.

Considerada por Tico guardiã da diversidade cultural brasileira, Brasília começa a abraçar seu mito. A escola de samba Unidos do Varjão anunciou que fará em 2012 uma homenagem ao Calango Voador levando para o carnaval de Brasília o folclore do cerrado.

Criador e criatura
Tico Magalhães é um batuqueiro e pesquisador pernambucano de 34 anos que, sentindo a falta de algo popular, genuinamente do cerrado, resolveu brincar de criar um grupo inspirado em Mestre Salustiano (falecido em 2008), folclórico músico brincante, fundador do Maracatu Piaba de Ouro. A terra vermelha de Brasília gerou encantamento em Tico assim que ele chegou, há 15 anos.

Maravilhado com a cidade e suas histórias ;de criação e invenção;, ele resolveu escrever histórias com características folclóricas que dessem conta das figuras do cerrado e de Brasília: o lobo-guará, o calango, a cachoeira, as matas, a seca, a cidade, o homem, a destruição, o fogo, a criação, a reinvenção. ;Faltava a Brasília uma tradição própria, que unisse os elementos da cidade;, diz.

Há sete anos, o batuqueiro de Recife reuniu 10 amigos e o que seria um grupo de oficina de maracatu, ritmo do qual Tico é bem relacionado, virou a turma que levaria adiante a saga de Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro.

A proposta é misturar origem com atualidade, influências daqui e de fora. Para ele e o grupo, a arte é viva e a cultura popular precisa ser compartilhada. ;Fizemos o festival para dividir o brinquedo, para que todos pudessem participar;, destaca.

Inspirados nos bonecos de Olinda e no trabalho dos ;bois; maranhenses, os bonecos de Seu Estrelo, porém, foram transformados pela vida e pela arte dos brincantes do grupo. Na sede, ou melhor, no terreiro do Seu Estrelo, ficam guardadas essas criaturas elaboradas por mestres bonequeiros, como o gaúcho Paulo Nazareno e ;seu; Gilvan, artesão do também folclórico Boi de Seu Teodoro. Munidos de arame, mulungu, papel, madeira e malha colorida, eles dão vida ao mito do Calango Voador.


Programe-se

Sexta
20h ; Helder Vasconcelos com o espetáculo Espiral, brinquedo meu (PE) ; no Teatro Plínio Marcos, com retirada de ingresso
21h ; Mestre Zé do Pife e as Juvelinas (DF)
22h ; Filhos de Gandhy (BA)
23h ; Chegada do Calango Voador: cortejo de bonecos gigantes com Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro (DF) e entrega da chave da cidade
0h ; Samba de Coco Raízes de Arcoverde (PE)

Sábado
17h ; Grito de Liberdade (DF)
18h ; Badia Medeiros (DF)
19h ; Boi do Mestre Teodoro (DF)
20h ; Orquestra Marafreboi (DF)
21h ; Maracatu Piaba de Ouro (PE)
22h ; Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto (CE)
0h ; Renata Rosa (PE)
1h ; Encontro de coquistas com
Aurinha do Coco (PE), Ana Lúcia do Coco do Amaro Branco (PE) e
Martinha do Coco (DF)

Domingo
17h ; Encontro do Mamulengo Presepada (DF) com Palhaço Alegria (CE)
18h ; Maracatu Patrocínio dos Brejão (SE)
19h ; Afoxé Oxum Pandá (PE)
20h ; Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro (DF)
21h ; Siba e o Fuloresta (PE)


7; Festival Brasília de Cultura Popular
De hoje a domingo, no Complexo Cultural da Funarte (Eixo Monumental, atrás da Torre de TV). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Assista o vídeo de Seu Estrelo com Renata Rosa:

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