Depois de 37 anos sem conceder o Nobel de Literatura a um autor conterrâneo, a Academia Sueca escolheu o poeta Tomas Transtr;mer para receber o maior prêmio literário do planeta. Peter Englund, secretário da instituição, conversou com o autor pelo telefone e disse, durante o anúncio ontem em Estocolmo, que o laureado escutava música quando soube do prêmio e ficou bastante surpreso. O nome do poeta figura na lista dos cotados para o Nobel desde 1973 e ele vai receber US$ 1,5 milhão. ;A maior parte da obra poética de Transtr;mer está caracterizada pela economia de concreção e de metáforas expressivas;, diz o comunicado oficial da Academia, que identifica nas publicações mais recentes uma tendência ;a um formato ainda mais reduzido e a um grau ainda maior de concentração;.
A esposa do poeta, Monica, falou a um grupo de jornalistas que todos os anos aguarda o resultado do prêmio na porta da casa da família: ;Não pensei que chegaria a vivenciar isso;. Aos 80 anos, o escritor pouco sai de casa. Tem dificuldades de locomoção e de fala, em consequência de um acidente vascular cerebral sofrido em 1990.
A poesia de Transtr;mer é encarada pelos críticos como portadora de uma forte carga mística. Para o polonês Henryk Siewierski, professor da Universidade de Brasília (UnB), a escolha deve ser comemorada. ;É uma poesia que tem um lado espiritual grande e, ao mesmo tempo, está bem próxima da experiência de viver numa cidade, numa realidade tangível. Ele explora lugares pouco explorados pela poesia, ainda não descobertos tanto na experiência quanto na consciência humana. Ele encontra lugares de mistério onde pouco se espera;, diz o professor, que conhece a obra do sueco há três décadas.
Metáforas e imagens para cenas simples da vida cotidiana pontuam os versos de Transtr;mer, que era um dos nomes cogitados para a Coleção Poetas do Mundo, dirigida por Siewierski e publicada pela Editora UnB. ;Estávamos preparando uma edição de poemas dele. Alguns já foram traduzidos, mas ainda não estão editados;, comenta Siewierski. A poesia do sueco foi traduzida para 60 línguas, mas nunca chegou a ser publicada no Brasil.
Para Peter Englund, o poeta é capaz de destacar a grandeza do homem e projetar a existência para além da condição material. ;Ele trata da morte, da história e da memória, que nos observam, nos criam e nos tornam importantes, porque nós, seres humanos, estamos em uma espécie de prisão, onde todas essas grandes entidades se encontram;, escreveu Englund no site nobelprize.org. ;Faz com que nos sintamos importantes e, portanto, você nunca se sentirá pequeno depois de ler a poesia Transtr;mer.;
Transtr;mer publicou 15 coletâneas de poemas ao longo da vida, mas nunca foi o tipo de poeta ensimesmado. Filho de uma professora e de um jornalista, estudou história, literatura, religião e psicologia na Universidade de Estocolmo. Durante muitos anos, trabalhou com jovens em dificuldade. Entre seus livros mais conhecidos estão 17 poemas, a primeira coletânea, publicada em 1954, ;stersj;ar (;Bálticos;), Den halvf;rdiga himlen (;Um paraíso semiconcluído;), Sorgegondolen (;Gôndola dolente;) e o mais recente, Den stora g;tan (;O grande enigma;), de 2004.
;Poeta metafísico;
Ao escrever no jornal The Guardian sobre coletânea recentemente lançada na Inglaterra, o crítico Paul Batchelor ressaltou o conteúdo espiritual da poesia de Transtr;mer. ;Ele não apresenta seus poemas como nuggets de esperança para reflexão;, disse. ;Ao contrário, eles tendem a projetar uma progressão que vai de uma realidade concreta a um alto estado de inconsciência.; O editor inglês Neil Astley, da Bloodaxe Books, chamou o sueco de ;um poeta metafísico visionário;.
No ano passado, o Nobel de Literatura foi concedido ao peruano Mario Vargas Llosa, que aparecia atrás de Transtr;mer na lista de mais cotados. Este ano, o secretário Peter Englund revelou que a Academia Sueca aumentou o número de observadores encarregados de rastrear autores em línguas não europeias como meio de mostrar que a instituição foi sensível às críticas de eurocentrismo do prêmio.
Entre os mais cotados estavam ainda o poeta sírio Adonis, naturalizado libanês e hoje residente em Paris, e o norte-americano Philip Roth. O nome do cantor Bob Dylan também circulou como possível laureado. A Academia não concede o prêmio a um autor dos Estados Unidos desde 1993, quando premiou a escritora Toni Morrisson.