postado em 09/10/2011 12:00
Se um dia a produção de uma micareta divulgar Iron Maiden e Metallica como bandas integrantes do carnaval fora de época, os foliões certamente tomariam um susto. Afinal rock e axé são como água e óleo, não se misturam. Certo? Mais ou menos; A última edição do Rock in Rio resolveu apostar nesse cruzamento de gêneros e colocou os dois estilos antagônicos juntos no palco principal do evento, com apresentações de Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Coldplay e Slipknot. O resultado foi uma discussão que não se encerrou nem mesmo após o término festival. Um dos principais alvos da plateia de mais de 100 mil pessoas foi Claudia Leitte. Escalada para o primeiro dia do festival, a cantora foi vaiada durante a apresentação, além de amargar críticas espalhadas em revistas, jornais e redes sociais. Para agradar ao público avesso ao axé, a artista incluiu no repertório canções como Dyer Maker, do Led Zeppelin. Mesmo assim, o resultado não convenceu a plateia que acompanhava a apresentação no Palco Mundo e comemorou o fim do show.
A reação negativa deixou a cantora um tanto quanto irritada. Claudia Leitte postou em seu blog (www.blogdacludinha.com.br) uma resposta às críticas recebidas. Ela primeiro disse que estava muito feliz por ter se apresentado no Rock in Rio e de ter tido o apoio de estrelas como Rita Lee ; que declarou que a baiana tinha muita coragem de tocar em um ambiente inóspito. Mas em seguida, desferiu impropérios contra os rockeiros.
;Não gostar de axé é normal! Anormal é achar-se superior porque conhece John Coltrane ou porque adora o Metallica. Procurem no Google sobre a história de um ariano que se achava superior aos judeus. Há tanto por fazer. E pessoas com voz ativa, com acesso à internet, manifestam-se como se fossem melhores que as outras porque curtem o Led Zeppelin;, disse. Em entrevista ao Correio, a cantora baiana afirmou que a mistura de ritmos é a principal característica do Brasil. ;Na música tem espaço para tudo. No carnaval, já recebemos Quincy Jones e Bono. Não cabe mais preconceito, se o Sepultura quiser tocar em cima do trio, que venha! Música une;, ressaltou.
O rockeiro Phillipe Seabra, da Plebe Rude, engrossa a lista dos críticos da apresentação de Claudia Leitte. Para ele, mesmo que um festival como o Rock in Rio precise de uma variedade de atrações, o critério de escolha deve obedecer à afinidade e não ao ;ibope;. ;Isso empobrece o festival. Ela é o maior engodo da música brasileira. A Ivete, que tem um som que não me agrada, pelo menos trabalhou e tem uma coisa verdadeira, ela tudo bem, mas a outra só agrada ao público que procura o ;selo de sucesso;;, explica o músico.
Humildade
Quem também resolveu contestar as opiniões da cantora de axé foi o blogueiro e punk Felipe Voigt. Em sua página na internet (questaodeordem.blogspot.com), ele divulgou uma carta aberta a Claudia Leitte, na qual acusa a baiana de não saber respeitar os roqueiros. O jovem conta que foi ao Rock in Rio III e viu um show de Elba Ramalho e Zé Ramalho, e ficou impressionado com a qualidade da apresentação. ;E por que o público teve esse prazer e respeito? Porque ambos são artistas que, fora dos palcos, possuem carisma, humildade, competência e talento para lidar com as diferenças. E respeitaram o público que estava diante deles;, desabafa.
A publicitaria brasiliense Ana Moreira, 39 anos, viajou para ver a apresentação de Claudia Leitte no Rock in Rio e não gostou nada do que viu. ;A percepção é de uma cantora fora do lugar. Ela quis levar um pedaço da Bahia e não foi bem recebida. Tinha um coro de pessoas vaiando, inclusive eu. Faltou entender o que era o evento. Na minha avaliação, foi o pior show;, comenta.
Sobre as manifestações negativas, a cantora afirma que não as escutou e que isso foi um fato isolado durante a apresentação. ;Não percebi vaia alguma e acredito que aquilo tenha sido filmado num movimento de poucos, durante a Corda do caranguejo, por receio da movimentação, nada mais. Uma pena essa necessidade de depreciação;, defende-se Claudia.
Nem tanto ao mar
Apesar de toda a repercussão negativa, o pessoal do axé não se escondeu e partiu para a defesa de Claudia Leitte. Bell Marques, líder do grupo Chiclete com Banana, botou a boca no trombone e elogiou a colega de carnaval. ;Foi um dos poucos shows que assisti e fiquei impressionado. Achei que a Claudia se preparou muito bem, foi extremamente rigorosa e fez uma apresentação digna dos baianos. Há muito tempo o Rock in Rio deixou de ser um palco de rock.;
O jornalista e radialista baiano Osmar Martins ; mais conhecido como Marrom ; , especializado em música baiana, também entende que a apresentação foi boa, mas não adequada para o festival. ;Ela se preparou com afinco e o show foi bonito, mas talvez não fosse o ideal para aquele ambiente. Ela precisava adaptar a produção para o evento.;
Colaborou Irlam Rocha Lima
Garrafadas da plateia
No Rock in Rio de 2001, Carlinhos Brown também foi vítima da fúria de alguns roqueiros presentes ao festival. Durante a apresentação, o cantor baiano ; que tocava no mesmo dia do Guns;n;Roses ; recebeu um chuva de garrafas plásticas que vinham da plateia. Mesmo com a reação negativa, o artista não se intimidou e levou o show até o fim, arrancando vaias e aplausos.
Espaço pra todo mundo
Mesmo apostando no axé, Ivete Sangalo protagonizou um dos show mais animados e elogiados da última edição do Rock in Rio. A cantora apresentou os clássicos de sua carreira e esbanjou simpatia ao descer do palco e caminhar entre os fãs. Para a artista, o evento deve abrigar diferentes estilos musicais. ;É claro que, em um festival, diverso públicos se misturam. O espírito era de pessoas que estavam ali para se divertir e ver os artistas de que gostam;, conta. A popstar destaca que não sentiu nenhuma hostilidade e que em nenhum momento teve medo de cantar, mas confessa que ficou um pouco nervosa na hora do show. ;Estava muito ansiosa antes de entrar no palco. Sem dormir e tudo! Mas a sensação foi inesquecível.; Para dar um tempero especial à apresentação, ela tocou More than words, do Extreme. ;A música é linda. Sempre cantei em casa e, quando me vi ali, achei que era o momento de recordar isso.;