Diversão e Arte

Coletânea de memórias da década de 1950 reprisa cotidiano dos anos dourados

postado em 10/10/2011 08:00
O sociólogo Ronaldo Conde Aguiar não é muito de sair de casa. Prefere o aconchego do seu acervo de revistas, LPs, livros e recortes de jornais ao que ele chama de ;badalação;: coquetéis de lançamentos de livros, por exemplo. E, mesmo sem deixar o escritório, ele viaja no tempo. Em Guia do passado (Casa da Palavra), o recluso autor de As divas do rádio nacional e Almanaque da Rádio Nacional faz uma visitinha à chamada era de ouro do Brasil: os luminosos anos 1950, da bossa nova, da chegada ainda tímida da televisão, de Pelé e Garrincha, do Maracanã dos grandes clássicos, do teatro de revista e tanto outros ícones, fatos, imagens e impressões de uma década agitada, barulhenta e colorida.

Apesar da quantidade incontável de referências, é o livro mais pessoal de Conde Aguiar. ;É onde encontro claramente coisas que eu vivi e senti naquela época. Acredito que as pessoas se interessam mais por depoimentos pessoais de certos períodos da história;, diz. Ele tinha 10 anos em 1950. E completou 20 em 1960. Os momentos mais significativos da sua adolescência foram vividos numa época de sonhos, em que os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek prometiam projetar o Brasil para o mundo.

Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Evelyn Rios e Humberto Catalno em cena do filme Entrei de gaiato: uma das imagens que ilustram a viagem pelo tempo

Relato pessoal
;O país começou a se transformar numa série de coisas: indústria automobilística em crescimento, a construção de Brasília, o Cinema Novo, a bossa nova. Coisas que indicavam que o Brasil daria certo;, explica. Conde Aguiar conheceu o mundo pelas imagens e vozes de Elvis Presley, John Wayne, Marilyn Monroe, Oscarito e Grande Otelo. E descobriu a leitura pelas palavras de Antônio Maria, Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta. Ele tenta descrever aqueles tempos com um olhar menos saudosista e mais caloroso. ;Comecei a me interessar pela vida nessa década. Não era melhor que hoje. Mas ela tinha os seus encantos;, compara.

Se cultura e política são assuntos indispensáveis a qualquer estudo sobre os anos 1950, o Guia dá um passo adiante e compila outras curiosidades, que poderiam ser deixadas de lado num registro oficial: os crimes que chocaram a sociedade, o burburinho musical dos bondes do Rio de Janeiro, cidade onde o alagoano de Penedo viveu até 1967, e recordações de clássicos do samba-canção e da marcha-rancho.

A tudo isso, Conde Aguiar acrescenta um conhecimento íntimo da geografia do país: já deu aula em todos os estados. ;Moro em Brasília há 30 anos, dei aula na UnB, no Iesb, no UniCeub. Onde morei, Rio, São Paulo, aqui, dei aula ;, afirma. Como o escritor diz na descrição pessoal do blog que alimenta desde agosto (blogpenedo.blogspot.com), ele é aposentado, mas ainda se sente um professor. No entanto, o que escreve está longe de ser um bolorento livro didático.

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