Diversão e Arte

Filmes que não entraram no circuito ganham espaço no Cine Brasília

Ricardo Daehn
postado em 11/10/2011 09:01

Premiada com a Palma de Ouro de melhor atriz este ano, Kirsten Dunst estrela Melancolia, o aguardado longa-metragem sobre o fim dos tempos

Datas de celebração e festejos nem sempre combinam com alegria, quando a gente leva em conta títulos marcantes da cinematografia dinamarquesa como Festa de família, de Thomas Vinterberg, e Ondas do destino, de Lars von Trier. Curioso, daí, que ; na comemoração dos 11 anos do Centro Cultural Banco do Brasil local ; ambos os diretores apareçam, com tons pesarosos (na ordem, em Submarino e Melancolia), para a satisfação dos cinéfilos mais exigentes. A partir de hoje, ao longo de 18 dias, o Cine Brasília (106/107 Sul) apresenta um pacote de filmes muito esperados, que não encontravam espaço no restrito mercado exibidor da cidade. Às vésperas da abertura da rede de cinema alternativo do CasaPark, soa mais do que alento a parceria entre o Cine Brasília e o CCBB.

Entre os 15 filmes da mostra CCBB em Cartaz, com traquejo autoral e exibição gratuita, Melancolia é o mais vistoso. Instiga os futuros espectadores não apenas pelo enredo ; numa mansão de família, depois do casamento, Justine (Kirsten Dunst, premiada no Festival de Cannes) tende à inércia, frente à possibilidade do fim do mundo ;, mas também pela repercussão das perturbadoras declarações de Lars von Trier sobre tópicos nazistas (ainda na festa em Cannes).

Compatriota de Von Trier, Thomas Vinterberg, por sua vez, conduziu o longa Submarino ; concorrente ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e ao prêmio de melhor ator (para o sueco Jacob Cedergren) no European Film Awards ; concentrado num drama entre irmãos que se encontram para enterrar a mãe viciada e alcoólatra.

Com predicados densos e atento a complexos jogos em torno de sexualidade, Bertrand Bonello (dos carregados Tirésia e O pornógrafo) comparece na mostra com L;Apollonide ; Os amores da casa de tolerância, outro que concorreu ao Festival de Cannes em 2011. Ambientado na França do começo do século passado, o filme traz no elenco Esther Garrel (irmã do astro Louis e filha do diretor Philippe Garrel) e o ator e diretor Xavier Beauvois (vencedor em Cannes do Grande Prêmio do Júri, em 2010, por Homens e deuses).

Já Claude Lelouch, mestre da inventividade (haja vista a narrativa dos recentes A coragem de amar e Crimes de autor), comparece na mostra com Esses amores, filme detido na volatilidade do amor para uma francesa que vive a Segunda Guerra e coroado por Anouk Aimée (Um homem, uma mulher) no elenco.

Outro renovador, o cineasta filipino Brillante Menddoza (melhor diretor, há dois anos, em Cannes) tem o mais novo título, Lola (que competiu no Festival de Veneza), escalado. No filme, duas avós se encontram em lados opostos de dores relacionadas a um possível crime. Já o chileno Ilusões óticas, de Cristián Jiménez, mostra um inverno diferente para os moradores de Valdivia ; com direito a cego que passa a enxergar.

Sem graça
Interrogado pela polícia da região norte da Dinamarca por causa das declarações com teor bombástico acerca do Holocausto, feitas em maio, durante o Festival de Cannes, o cineasta Lars von Trier ; que foi classificado como persona non grata pela diretoria do evento ; se diz, atualmente, incapaz de dar, ;de modo inequívoco;, tanto declarações públicas quanto entrevistas. Promotores franceses entraram com processos contra o diretor, que buscou se retratar do que ficou a meio caminho entre ;brincadeira; e provocação oca, quando ele disse ter ;certa empatia; por Hitler, além de ter exaltado a alegria da origem alemã. ;Sabemos que ele não é antissemita ou nazista;, confirmou o diretor de Cannes, Thierry Frémaux, que, entretanto, não pôde aliviar na punição contra o cineasta.

Uma boa seleção nacional

L'Apollonide - Os amores na casa de tolerância, de Bertrand Bonello, também concorreu no Festival de Cannes

Num casamento de 10 anos, a dupla de premiados no Festival de Gramado Gustavo Pizzi (melhor diretor) e Karine Telles (melhor atriz) tem o longa de estreia, Riscado, programado para a abertura de CCBB em Cartaz, hoje à noite. ;Nada mais justo do que ter como alicerce uma peça de teatro dentro do filme, já que Karine é atriz há mais de 16 anos. Quando você lida com uma câmera, há sempre uma representação em frente a ela;, observa Pizzi, que estará no Cine Brasília para um debate.

Com R$ 850 mil, Karine Telles e Pizzi (vencedores do prêmio de melhor roteiro), como ela ressalta, cercaram o tema ;do papel da sorte na carreira de qualquer pessoa;. ;Como roteirista, achei mais próximo e honesto falar de mim e do meu mundo;, reforça a atriz, que se considera ;cria do teatro;.

Outro filme da mostra CCBB em Cartaz que foi premiado no Festival de Gramado (em 2010, venceu o júri popular) é 180;, estreia de Eduardo Vaisman na ficção. Entre as dificuldades, ele aponta o ;trabalho sutil; para compor uma trama passada ao longo de oito anos, que tem ;alguns mistérios, algumas lacunas e é contada de forma não linear, como num jogo de quebra-cabeças;. No centro está um trio de personagens que se encontram pelo exercício do jornalismo e passam a se desentender a partir da publicação de um livro.

O ator Eduardo Moscovis é um dos vértices do enredo desinteressado em julgar personagens e atos. ;Deixamos essa tarefa para a mente do espectador;, comenta Vaisman, que enfoca a classe média urbana em 180;. ;A dificuldade está em não fazer uma leitura caricata ou superficial, mas sim um retrato complexo e cheio de antagonismos.;

Também escalada com seu longa de estreia, Antes que o mundo acabe, a diretora Ana Luiza Azevedo diz que não queria ;filmar uma novelinha;. ;Não é só infantojuvenil, é um filme típico para ser visto em família;, ressalta a gaúcha, que teve colaboração de Jorge Furtado no roteiro. Vencedora de 17 prêmios, a aventura cômica, orçada em R$ 1,6 milhão e narrada pela irmã do protagonista, trata de ;um pai que descobre o filho e vice-versa;. ;Promovi uma investigação na forma de contar. No papel, a trama é 80% epistolar, sem nada de muito cinematográfico;, avisa Ana, sobre a fita que foi exibida em 10 capitais ; Brasília não entrou na lista ; e atraiu, com apenas 13 cópias, mais de 40 mil espectadores.

[SAIBAMAIS]

Programe-se

Melancolia (2011), de Lars von Trier
; Afora o desfecho pífio (com um quê de M. Night Shyamalan, em má fase), o filme de Lars von Trier é daquelas peças incômodas que sabem tirar o chão do espectador. Claro que a pretensão chega aos borbortões ; de que outra forma alguém se aventuraria a filmar um indício de fim dos tempos, pela aproximação de um destruidor corpo celeste? Além do brilho de Kirsten Dunst, Charlotte Rampling está em alta, sob os holofotes da fita quase toda concentrada numa memorável cerimônia de casamento. Sexta, às 21h; dia 22, às 21h; e dia 30, às 20h50.

O homem do lado (2009), de Mariano Cohn e Gastón Duprat
; Exibida no Festival de Sundance do ano passado, essa comédia levou os principais prêmios (direção, filme, roteiro e ator) da Academia Argentina de Cinema. Em La Plata, um designer reconhecido pela inventividade de uma cadeira tem os limites da privacidade testados. Morador da única casa assinada por Le Corbusier na América Latina, ele sofre com a chegada de um vizinho sem noção. Sexta, às 18h30; domingo, às 16h40; e dia 21, às 21h.

Antes que o mundo acabe (2010), de Ana Luiza Azevedo
; A sagacidade na narrativa prende bastante, numa rara incursão do cinema nacional pelo acidentado terreno da adolescência. Aos 15 anos, Daniel, o protagonista, enfrenta o humor ácido da irmã, reviravoltas no caráter dos que lhe cercam e a insegurança da vontade de, finalmente, conhecer o pai. Divertido, leve e pouco previsível. Dia 20, às 21h; dia 23, às 15h; e dia 29, às 16h40.

CCBB EM CARTAZ
De hoje ao dia 30, no Cine Brasília (106/107 Sul). Hoje, às 19h30, Riscado (filme de Gustavo Pizzi, 70min). Não recomendado para menores de 12 anos. Entrada franca, com senhas retiradas até uma hora antes do evento (limitadas a quatro por pessoa).

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