Uma cena se repetiu durante o show da banda inglesa Tears For Fears em Brasília, na noite de terça-feira. Quando ouvia as primeiras notas de uma música de sucesso ; como Sowing the seeds of love, Advice for the young at heart ou Head over heels ;, o público se levantava das cadeiras para cantar, empolgadamente, com os vocalistas Roland Orzabal e Curt Smith. As canções menos conhecidas recebiam resposta mais comportada, com as pessoas sentadas nas poltronas do Auditório Master do Centro de Convenções. A maioria dos 3 mil espectadores parecia estar lá para curtir os hits do grupo. Mas bastava olhar para o lado e encontrar alguém ali cantando tudo, de olhos fechados, em total sintonia com a banda no palco.
Fácil perceber também o ecletismo da plateia, que tinha desde gente de 20 e poucos anos até senhores e senhoras grisalhos. Reflexo do alcance do sucesso do TFF, que, desde seu surgimento, no começo dos anos 1980, tem conseguido renovar seu público constantemente.
Dezesseis anos depois de sua primeira passagem por Brasília, as ;Tias Fofinhas; (apelido carinhoso pelo qual a banda é conhecido pelos fãs brasileiros), mostraram que envelheceram bem. Aos 50 anos de idade, Roland e Curt (dupla fundadora do grupo, responsável pelas composições) continuam cantando muito. A postura antiestrela do TFF também permanece inalterada. A banda estava vestida de maneira casual. No palco, além dos músicos, os únicos recursos cênicos foram uma eficiente iluminação e as projeções que apareciam no telão.
Os vocalistas (Roland na guitarra e Curt no baixo) foram acompanhados por um time competente: Doug Petty nos teclados, Jamie Wollam na bateria, Charlton Pettus na guitarra e Michael Wainwright nas vozes de apoio. A backing vocal Afton Hafley participou em alguns números.
Wainwright, com seu vocal potente, capaz de agudos quase femininos, foi o mais aplaudido, principalmente quando fez a parte da cantora Oleta Adams, responsável pelo dueto com Roland na gravação de Woman in chain (música que abriu o bis).
O mesmo roteiro
O setlist da noite seguiu o dos outros shows da turnê brasileira, que começou no dia 4 em Porto Alegre e termina amanhã, em São Paulo. Foram executadas 17 músicas (ao menos 10 delas, hits incontestes) próprias e uma versão para Billie Jean, de Michael Jackson, transformada em uma balada climática, um ;estranho tributo;, nas palavras de Orzabal.
A comunicação entre os vocalistas e a plateia foi constante. ;Estamos muito felizes por estar de volta a esta magnífica cidade;, disse Roland, em português. Em inglês, Curt comentou seu apreço pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
O senta e levanta do público acompanhou a distribuição das canções de sucesso ao longo da apresentação ; que começou às 21h30 e durou uma hora e 40 minutos. Todos os grandes hits (como Sowing the seeds of love, Advice for the young at heart, Pale shelter, Break it down again, Head over heels e Woman in chains) deram as caras. Quando um deles aparecia, além das palmas por cima da cabeça, dezenas de celulares entravam em ação.
Everybody wants to rule the world abriu o show, como que para dizer que aquela seria uma noite de celebração entre a banda e seu público. Sendo assim, Shout foi sabiamente escolhida para encerrar a apresentação. Nessa, aos primeiros acordes, o público repetiu o refrão alto e bom som, antes mesmo de a banda começar a cantá-la.
Entre sucessos e músicas pouco conhecidas (independentemente disso, com o padrão de qualidade do TFF), Roland Orzabal e Curt Smith mostraram como, 30 anos depois do começo da banda, manter a coerência musical, mesmo que o apelo da banda tenha algo de saudosismo.