Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Documentário do brasiliense Sérgio Raposo, será exibido no Festival do Rio

Uma restrita equipe de cinco pessoas, aventuras em estradas por áreas de terreno acidentado, passagens por vilas carentes de desenvolvimento e estadas por seis países. Todos esses esforços, com a injeção de US$ 500 mil e a estrutura profissional da produtora local Cinevideo, renderam ótimo mérito para o cineasta brasiliense Sérgio Raposo, 39 anos: com cinco exibições asseguradas, o longa-metragem dele Drums ; Tambores integra, a partir da projeção de hoje no Odeon (Cinelândia), a Mostra Expectativa do Festival do Rio.

Exibida em suporte digital, a fita está em negociações para participar do Doha Tribeca Film Festival, no Catar. ;Essencialmente musical;, o filme cerca o tema ;dos tambores e das pessoas ligadas a algum tipo de tradição relacionada a eles;. Na sequência dos curtas em 16mm e 35mm, respectivamente, O rival (2004) e Residual (2007), Sérgio Raposo conta que, há mais de um ano, ele foi fisgado pelo projeto, que teve produção executiva de Mônica Monteiro.

Vocação internacional

Pelo ;perfil internacional;, Drums ; Tambores, à época, com a produção em andamento, se valeu da associação com a rede televisiva árabe Aljazeera Documentary Channel. ;Apostamos na vocação natural do filme que estreia em janeiro no canal e será comercializado para tevês a cabo de diferentes países;, conta o diretor.

Pela ordem, o filme parte de Moçambique, para chegar a porções da China, de Portugal e alcançar o estado brasileiro do Maranhão. ;No Brasil, a gente foi para a Casa Fanti Ashanti (em São Luís), um centro que valoriza a cultura afro-brasileira em atividades comandadas pelo pai Euclides, fundador do uso religioso do tambor;, conta Raposo. Afora o segmento do Tambor de Mina ; ao qual Euclides se dedica há mais de 50 anos, com desenvolvimento do candomblé ;, a produção também investiu no Tambor de Criola, de raiz popular, representado pelo percussionista Mestre Amaral.

Em Moçambique, onde há filial da produtora brasileira, a equipe do filme deixou a movimentada Nacala Porto, com intensa concentração de navios no litoral, rumo à interiorana vila da província de Niassa, batizada como Metarica. ;A gente apresenta um personage , o Chaisson Meja, que deixou o Norte, e usa o tambor como um elemento aglutinador do contato e das origens dele que extrapolam costumes da etnia macua (agrícola);, comenta Sérgio Raposo. No itinerário emocional à frente de Chaisson, pesam as lembranças do avô, um fabricante de tambores, além dos fundamentos comunitários repassados pelo tio, liderança local e musical da região visitada.

Relações familiares estão registradas em Drums ; Tambores, a partir da história do músico Ateeq Mubarak, filho de pescador, que, na rica capital do Catar (Doha), celebra o vigor cultural do povo. Na etapa africana do filme, mais precisamente na Zâmbia, quem comanda a narrativa é Stanard Halenga, há mais de 20 anos familiarizado com tambores.

;A gente conta sobre o uso dos tambores budimas tradicionais entre o povo tonga, além de expor seis tipos de instrumentos da região. É interessante observar como a construção do lago artificial Kariba, que fez uso do Rio Zambeze, modificou a região. O povo tonga conta com a música, para manter viva a lembrança da vida dos pais e do resto da família que teve de se mudar, por causa do lago. A função dos tambores foi expandida. A sonoridade dos funerais foi ampliada para outros eventos e festividades;, explica Sérgio Raposo.

Desprovido de sentido, pela visão dos europeus do século 17, o padrão de ritmos adotados pelos percussionistas é item de análise no documentário. Pelos integrantes portugueses do Drumming, na cidade do Porto, é expressa uma visão contemporânea da música tirada do tambor. ;O diretor de arte do grupo Miquel Bernat comenta, no filme, o processo de organização do ritmo. Ele explica a visão caótica associada ao instrumento, além de ressaltar questões da harmonia alcançadas pelo equilíbrio no uso dos tambores;, conclui.